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A origem da feira da Vila Amélia
Imóvel reconhecido como patrimônio histórico, de propriedade da Afape, a Associação Friburguense de Pais e Amigos do Educando, a residência da chácara da Vila Amélia foi tombada provisoriamente pela prefeitura municipal. No passado era a chácara do português Antônio Pinto Martins. Nascido em 1° de julho de 1862, natural do Minho, em Portugal, veio para o Rio de Janeiro com 11 anos de idade trabalhando como caixeiro. Com o tempo, de empregado se tornou dono de uma empresa. Casou-se com Carolina Gomes da Rocha em uma de suas viagens a Portugal tendo o casal oito filhos. Em 1914, aos 52 anos de idade, Antônio Martins decidiu residir com a família em Nova Friburgo.
O seu Martins, como era conhecido, adquiriu o imóvel da família Salusse conhecido como Sítio do Relógio. Explorou comercialmente a chácara, construiu o Mercado Villa Amélia onde vendia laticínios como leite, queijo e manteiga, verduras, legumes, frutas frescas e em conserva, mel, embutidos e linguiças defumadas. Em janeiro de 1915, registrou a logomarca V.A., de Villa Amélia, com um V e um A entrelaçados para distinguir os seus produtos. A linda residência que construiu ficou conhecida como “mansão da Villa Amélia”. A única menina entre os sete filhos homens, Amélia, nascida em 1898, deu nome a vila. No interior da residência um vitral colorido, vindo da Europa, ocupa toda a altura da casa, estando preservado até hoje. As louças, jarros d’água, bacias e saboneteiras eram todas em faiança portuguesa e tinham o monograma AM, de Antônio Martins, assim como as toalhas, guardanapos e roupas de cama.
Periodicamente, Antônio Martins encomendava peças para repor a baixela que quebrava da fábrica portuguesa de porcelanas Vista Alegre. Na chácara da Vila Amélia havia pomar com pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, caquis, tojos, bananeiras, pita e nêsperas cujas mudas vieram de Portugal. No brejo plantavam hortaliças, legumes e aspargos. Igualmente plantava-se café na propriedade. Em um galpão ficava o fumeiro onde eram defumadas as linguiças de porco, feitas na propriedade. Na entrada, muitas hortênsias ladeando todo o caminho até chegar à casa da família. No meio de uma enorme touceira de hortênsias foi erguido um majestoso e imponente sobreiro, árvore que Antônio Martins trouxe de Portugal e de onde tirava a cortiça para fazer rolhas para as garrafas do vinho que produzia.
À frente da casa, à direita, havia um lago com peixes, um chafariz e muitas flores: margaridas, azaléas, orquídeas, palmeirinhas, cravos, boca de leão e roseiras. Na exposição do centenário da Independência do Brasil em 1922, os Martins lotaram um vagão de carga da Leopoldina Railway com flores para serem exibidas na exposição. Na chácara havia duas nascentes próprias e uma delas com uma queda d ́água que formava uma cascata que deram o nome de cascata Carolina. A água era cristalina e potável e formava uma piscina natural entre as pedras. Um moinho e um riacho acionava um monjolo com um cata-vento. Toda a extensão do Córrego do Relógio era canalizado e circundado por videiras plantadas por Antônio Martins que produziam saborosas uvas. As videiras desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro e forneciam sombra aos que por ali transitavam nos dias de sol causticante.
Os veranistas que passeavam na Praça do Suspiro geralmente percorriam as margens do Córrego do Relógio apreciando suas videiras até alcançar a propriedade de Antônio Martins e adquirir produtos da chácara como o seu famoso mel. Martins trouxe de Portugal a árvore que florescia a flor de tojo, cujo pólen servia para o seu apiário. A família se orgulhava do mel produzido que chegou a ganhar medalha de ouro em Bruxelas, a medalha Mel Flor de Tojo. Desde então, foi feito um rótulo com a estampa da medalha e colocado nos frascos de mel.
Com estábulo, paiol, vacas, cabras, porcos, enfim, a chácara localizada no coração da cidade atraía a atenção de todos. Em frente à chácara passavam frequentemente tropas de mulas transportando mercadorias do Campo do Coelho. Possivelmente fazia-se intercâmbio comercial com esses tropeiros. Antônio Martins comercializava verduras, legumes, frutas, mel, vinho, café, charcutaria, entre outros produtos da chácara em uma garbosa barraca de madeira próxima à sua propriedade. Por isso, pode-se afirmar que a atual feira no bairro da Vila Amélia tem origem nessa belíssima história dos Martins Pinto.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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