O velho Barroso, o rei das quadrilhas na Fazenda do Cônego

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Fazenda do Cônego, propriedade do primei ro Barão de Nova Friburgo, no século 19. De acordo com a memória oral, tem esse nome por ter o nobre barão Antônio Clemente Pinto dado abrigo a um clérigo em sua fazenda. Ainda segundo a memória oral era uma fazenda com plantação de café. O nome fazenda foi suprimido na década de 50, do século 20, quando passou a circular pela cidade a linha de ônibus que trazia no letreiro apenas a indicação de Cônego.

Desde a Várzea Grande, hoje conhecida como Vargem Grande, até a Grota Funda, na Fazenda do Cônego, o lavrador José Pires Barroso tinha sua propriedade rural. Plantava chuchu, abóbora, inhame, batata doce, frutas, flores, hortaliças e se dedicava igualmente a apicultura e a criação de carpas. No seu pequeno e modesto folder da Fazenda do Cônego anunciava a venda de laranja bahia, bahia cabula, natal, seleta branca e rosa, cipó, bacu-urubu e japonesa. Igualmente vendia pera, côco, lima de umbigo, limão doce, francês, de Gênova e azedo, tangerina especial e de King Kong. No anúncio constava também a venda de flores de corte, como o cravo. Na década de 30, do mesmo século, foi pioneiro na plantação de trigo e se destacou na década de 1950 pelo cultivo de flores e replantio florestal de eucaliptos.

Na Fazenda do Cônego criou seus filhos de três casamentos. Foi casado inicialmente com Maria Francelina, tendo segunda núpcias com Palmira Veronese, ficando viúvo de ambas. Casado em terceiro matrimônio com Leovegilda Costa Barroso teve como filhos Beatriz Barroso da Silva, Alencar Pires Barroso, Alebrão Pires Barroso, Sílvio Pires Barroso, Danton Pires Barroso, Ney Barroso Kromberg, José Pires Barroso Filho, Wanda Barroso Borges e Lígia Barroso Almeida. O velho Barroso, como era conhecido, entrou na política se candidatando ao cargo de vereador, mas não obteve sucesso.

No entanto, o seu filho Alencar Pires Barroso foi vereador durante 25 anos e prefeito em um mandato de seis anos. Não estimulou nenhum de seus filhos a segui-lo no amanho da terra. O velho Barroso foi o criador do Clube dos Lavradores, igualmente conhecido como a Casa do Pau Torto, que funcionava no Cônego. Fundou o Sindicato Rural, a Associação Rural de Nova Friburgo e foi vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo.

No Clube de Xadrez, organizava e promovia a Exposição de Flores e Frutos. Nas noites de inverno da fria Friburgo, nas festas juninas, o céu ficava pintado de balões e de fogos coloridos. As fogueiras e o quentão aqueciam mentes e corações. Nas festas, as moças circulavam faceiras cheias de dengo, com muita chita e fita nas tranças. Já os rapazes com bigodes feitos de rolha queimada, aplicavam remendos na roupa em estilo cubista e portavam os indefectíveis chapéus de palha. As moças mendigavam os tortõesinhos que eram colocados aos pés de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Folclorista, de acordo com José Côrtes Coutinho, as tradições populares tinham em José Pires Barroso um cultor apaixonado. Foi o criador do Festival de Quadrilhas do Cônego, uma das mais importantes atrações turísticas de inverno em Nova Friburgo. A dança de quadrilha, herança da França, era marcada em francês pelo velho Barroso. Nos festivais de quadrilha os itens avaliados pela comissão julgadora eram garbo, ritmo, conjunto geral, sinhazinha, caipira e melhor marcador. Os festivais de quadrilha foram se espalhando por vários bairros de Nova Friburgo e o velho Barroso era sempre convidado para fazer a marcação das danças.

José Pires Barroso faleceu em 17 de abril de 1976, aos 83 anos de idade. Durante algumas décadas, os festivais de quadrilha continuaram ecoando pelos arraiás da cidade. Há o registro de que a Escola de Samba Imperatriz de Olaria passou a promover um festival de quadrilha no bairro. O bairro do Cônego foi durante muitos anos residência de veranistas cariocas e niteroienses. Atualmente isso não ocorre mais, se tornando um bairro das classes média e alta friburguenses. O busto de José Pires Barroso se encontra na praça principal do Cônego em memória ao velho Barroso, o rei das quadrilhas na Fazenda do Cônego.

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    Comunidade rural na Fazenda do Cônego

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    José Pires Barroso em sua propriedade em Várzea Grande, na Fazenda do Cônego

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    Festival de Quadrilhas no Cônego

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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