O trem: uma história regional

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Desde que o transporte ferroviário chegou ao Brasil, no século 19, as dificuldades geográficas não lhe puseram obstáculo: rios caudalosos, montes, densas matas, serras íngremes, nada impediu que se concretizasse o traçado feito nos projetos de seus investidores para chegar ao seu destino, fazendo a ligação entre a produção e os portos. Em nossa região, a Estrada de Ferro foi um investimento feito pelo Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, para escoar a produção cafeeira de Cantagalo. Deveria ser construída em três etapas: a primeira, de Porto das Caixas até Cachoeiras de Macacu; a segunda até Nova Friburgo, subindo a serra da Boa Vista, e a terceira até Cantagalo. Essa linha foi a quarta ferrovia no território nacional e a terceira da província fluminense. Em novembro de 1859, foram iniciados os trabalhos da primeira seção entre Porto das Caixas e Cachoeiras de Macacu, passando por Sambaetiba e Japuíba. A linha foi inaugurada em abril de 1860. Merece destaque em Porto das Caixas, um dos primeiros túneis ferroviários construídos no Brasil, com 400 metros de extensão. O trecho da serra da Boa Vista, mais oneroso, seria finalizado somente treze anos depois. A serra possuía uma das mais fortes rampas ferroviárias existentes no mundo. Para vencer essa dificuldade, foi adotado o sistema de tração do tipo Fell, utilizado pela primeira vez no Brasil. No entanto, como o sistema Fell era de difícil manutenção, a partir de 1883 foi abandonado para dar lugar às maquinas Baldwin de aderência total. A linha iniciava em Boca do Mato, na raiz da serra, passando por Registro, Theodoro de Oliveira e Mury. A inauguração da linha férrea em Nova Friburgo foi em 18 de dezembro de 1873, já sob o comando de Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, o filho do primeiro Barão de Nova Friburgo, e contou com a presença do imperador D. Pedro II. Um lauto banquete foi oferecido ao imperador em uma fazenda que deu nome a localidade de Banquete, em Bom Jardim.

Um decreto provincial autorizou o prolongamento da linha férrea até Cantagalo. Os trabalhos de construção foram iniciados em junho de 1872 e concluídos em setembro de 1876. Esse último trecho partia de Nova Friburgo passando pelas estações de Conselheiro Paulino, Riograndina e Murinelly. O Ramal Férreo foi se estendendo a Banquete, Bom Jardim, Monerat, Cordeiro, Santa Rita, Volta Bonita, Euclidelândia, Laranjais, Engenho Central, Itaocara, até chegar a Portela. Estava finalmente concluída a linha férrea que transportaria o café e outros produtos das fazendas do Norte fluminense até o porto. No entanto, como o Ramal Férreo de Cantagalo foi construído em difíceis condições técnicas de traçado, a empresa começou a apresentar problemas financeiros. Em 1877, a Província do Rio de Janeiro encampou a Estrada de Ferro Cantagalo e em 1898, passou a ser de capital inglês sendo denominada The Leopoldina Railway Company Limited. O subtrecho entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo foi extinto em 1964; o restante das linhas férreas entre Porto das Caixas e Cachoeiras de Macacu, em 1973. O resgate das máquinas que serviram aos municípios do Centro-Norte fluminense não foi de interesse dos governos municipais. Os que se dedicam à memória do trem de Nova Friburgo afirmam que uma das máquinas que serviu a Nova Friburgo está no Museu do Trem, em Cruzeiro, no estado de São Paulo. No caso, teríamos que negociar a aquisição dessa máquina para trazê-la ao município. A prefeitura municipal de Nova Friburgo tem um projeto de um museu em suas instalações. Como o atual prédio da prefeitura foi uma estação de trem, o museu dentro desse espaço é notadamente perfeito para resgatar a história e a memória de nossa saudosa Maria Fumaça.  

  • Foto da galeria

    (Cortesia de Janaína Botelho)

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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