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O Sanatório Naval em Nova Friburgo - Parte IV: surge o HT, Hospital de Tuberculosos
Desde a sua inauguração em 30 de junho de 1910, o Sanatório Naval dedicava essencialmente sua prestação de serviço à cura do beribéri de seus oficiais e praças da armada. Não obstante estar no regulamento do Sanatório Naval de Nova Friburgo o tratamento de tuberculosos desde a sua implantação, até então a prioridade fora o beribéri. No entanto, a partir do ano de 1933, a prioridade voltara-se para outra doença: a tuberculose. Em 18 de fevereiro de 1936, foi inaugurado o Hospital de Tuberculosos. Desde então, os oficiais e praças da Marinha passaram a levar a alcunha de H.T. entre os friburguenses, ou seja, oriundos do hospital de tuberculosos. Complementando seus serviços seriam criados o Departamento de Convalescentes e ainda a Colônia de Férias. Sempre festejada, Nova Friburgo, a cidade salubre, foi assim descrita pelo Jornal do Brasil: “Nova Friburgo é um recanto silencioso do estado do Rio, de um clima ameno, suspenso entre montanhas verdejantes por onde correm fios da água cristalina e brisas suaves que espalham perfume de flores. No ponto mais alto edificou o conde de Nova Friburgo o seu palácio de verão. Grandes árvores, um imenso jardim rodeia os edifícios, há alguns anos adquirido pelo governo Nilo Peçanha para nele instalar o Sanatório Naval...” (Jornal do Brasil, 06/03/1939)
Friburgo testemunhava o charmoso bonde de burros do Sanatório Naval que corria sobre os trilhos de ferro, destinado a conduzir oficiais e funcionários que residiam fora do sanatório e igualmente os convalescentes que chegavam. O livro de visitas do sanatório traz nomes da quase totalidade dos titulares da pasta da Marinha, governadores do estado do Rio, ministros de Estado, Getúlio Vargas, entre muitas outras autoridades. Depois de mais de três décadas na cidade, tudo era harmonia e paz entre os friburguenses e o Sanatório Naval até que um decreto-lei estadual, de n°1943, de 9 de junho de 1947, provoca nova investida contra aquele estabelecimento. Os prefeitos do estado deveriam proceder ao zoneamento da cidade, e dentro de cinco anos, a contar da data do decreto, todas as organizações hospitalares para tuberculosos deveriam ser removidas dos perímetros urbanos e suburbanos. Em 1947, o então prefeito de curto mandato, José Eugênio Müller, envia correspondência ao Ministro da Marinha, o almirante Silvio de Noronha, pedindo o deslocamento do H.T. para outro local, mais afastado da cidade. Entre 1910 e 1945 inúmeras indústrias de grande porte já haviam se instalado em Friburgo, como a Rendas Arp, Ypu, Filó e Ferragens Haga, modificando a geografia cidade. O município se urbaniza e um bairro operário se instalara próximo ao H.T. e o Sanatório Naval já não era um estabelecimento tão isolado como outrora. De acordo com o prefeito, iniciar-se-ia uma verdadeira ‘cruzada’ na cidade contra peste branca, assim chamada a tuberculose, removendo pensões que recebiam tuberculosos e promovendo o isolamento destes doentes do centro da cidade. Em correspondência oficial o prefeito é ácido ao afirmar ao Ministro de Marinha que “...ninguém ignora que o H.T. é o maior responsável pelo alarmante surto de peste branca neste município”. A investida, destaco, era tão somente contra o H.T., em que se pedia a sua remoção, e não contra os demais departamentos do Sanatório Naval. Mas quem colocou mais lenha na fogueira fazendo coro ao prefeito, foi um importante empresário, descendente de italianos que imigraram para Nova Friburgo no final do século XIX, e um dos homens mais prósperos da cidade: Augusto Luiz Spinelli. Continua na próxima semana.
Janaína Botelho é autora do livro
O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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