O Sanatório Naval em Nova Friburgo - Parte III De Barracão de Caça a Sanatório Naval

sábado, 31 de julho de 2010

Como disse anteriormente, a Marinha desejava estabelecer em Friburgo um sanatório para cura de seus oficiais e praças acometidos por beribéri. Depois de ter negociado a aquisição do Instituto Hidroterápico e do Hotel Leuenroth, foi impedido nestes dois momentos pela intervenção de Rui Barbosa, veranista habitué em Friburgo, que era contra a instalação um hospital de beribéricos no coração da cidade, famosa no país por sua salubridade. Mas a Marinha finalmente acertou e escolheu um local ermo, no alto de uma colina, a exemplo do lazareto, para abrigar seus doentes: o barracão de caça do conde de Nova Friburgo, que consistia em um pitoresco chalé compreendendo ainda alguns anexos. Numa quinta-feira, em 30 de junho de 1910, finalmente o Sanatório Naval foi inaugurado em Nova Friburgo. Instalado numa colina e cercado de extensa mata, desta vez não houve protesto dos habitantes locais. Para inauguração compareceu o próprio presidente da República, Nilo Peçanha e uma grande comitiva, que incluía ministros de Estado e oficiais de alto escalão na hierarquia militar. A gare da Leopoldina ficou revestida de folhagens, flores multicores e bandeiras. Um piquete de cavalaria de atiradores escoltou a carruagem do presidente da República em seu percurso pela cidade. Os alunos do Colégio Anchieta deram grande realce aos festejos e todo o corpo discente, formado em batalhão, devidamente uniformizado, se estendeu em linha e acompanhou também o cortejo do presidente. O banquete para oitenta talheres teve início às 18h e na hora dos brindes, o diretor do sanatório, o capitão de fragata e médico, o dr. Joaquim Ignácio Bulcão, disse em seu discurso: “Exmo. Sr. presidente: Coube a V. Exa. a glória de dotar a Marinha de Guerra de um sanatório, instalado em belo edifício, em local salubre, clima ameno, necessidade essa há muito reclamada e agora de pronto e sem vacilação realizado por V.Exa....”. De acordo com os discursos, percebe-se que a interferência do presidente Nilo Peçanha foi essencial para se concretizar o antigo projeto da Marinha. Sua presença na cidade era somente para referendar o sanatório em Nova Friburgo que tantos ânimos despertaram nos anos antecedentes, tendo como arauto contra a vinda deste estabelecimento à cidade o grande jurista e estadista Rui Barbosa. Mas desta vez a pena de Rui Barbosa se calara. Os ventos políticos eram outros e além do mais o sanatório, como disse, encontrava-se em local distante do centro da cidade. O Sanatório Naval compreendia uma área de 196 alqueires, com extensa mata que cercava o prédio principal e anexos. Cumpre destacar que quando de sua inauguração, o Sanatório Naval não estava devidamente aparelhado, faltando a instalação hidroelétrica, a enfermaria dos tuberculosos, entre outros aspectos de infraestrutura. O serviço considerado imprescindível no Sanatório Naval era a hidroterapia. Em 1918, já contava com esta aparelhagem, faltando apenas as obras de alvenaria para a sua instalação. Em relatório anual neste mesmo ano apresentado pelo diretor do Sanatório Naval, colocou-se em destaque a “...ação salubérrima do clima das montanhas de Nova Friburgo...”.

No entanto, até 1921, o Sanatório Naval ainda não havia concluído suas obras de infraestrutura, o serviço de hidroterapia funcionava precariamente, faltavam os aparelhos destinados à eletroterapia e de fisioterapia, cujo pavilhão fora recentemente concluído. Cumpre destacar que o hospital servia somente às praças e oficiais da Marinha e não à população em geral. Em 1921, o então diretor do Sanatório Naval, consignara em relatório: “A magnificência deste clima adorável, que eu jamais cansarei de exaltar, cujos surpreendentes resultados para a saúde dos nossos marinheiros têm observado todos os médicos da Marinha que aqui servem, me levam a, ainda uma vez, manifestar minha opinião, já bastante conhecida, isto é, que a Marinha tudo teria a lucrar em construir aqui definitivamente a enfermaria para seus tuberculosos.” Surge em Friburgo o Hospital de Tuberculosos, conhecido na cidade como ‘o H.T.’, modo pela qual a população friburguense iria se referir em relação a este estabelecimento. Continua na próxima semana.

Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX.

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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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