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O Sanatório Naval em Nova Friburgo - Parte I - Um centro de peste na cidade salubre
Cidade privilegiada do estado do Rio em decorrência de suas excepcionais condições climáticas, uma das mais aprazíveis e lindas estâncias brasileiras, era assim considerada, desde o início do século XIX, a vila de Nova Friburgo. No centenário da independência do Brasil, em setembro de 1922, assim se descreveu Friburgo no álbum do estado do Rio de Janeiro: “a pureza do ar, a temperatura amena, a superioridade da água, fazem de todo o município um inigualável sanatório”. Virgílio Corrêa Filho, assim escreveu sobre Friburgo, no início do século XX: “Por isso espalhou-se, célere, a fama de cidade salubre, para a qual convergem os doentes esperançosos de uma cura ou alívio aos seus achaques, naquele ambiente de ar leve e puro, em que a vida desabrocha em manifestações sugestivas de pujança”. Foi em razão destes cantos de louvor ao clima de Nova Friburgo que no último quartel do século XIX, a Marinha de Guerra Imperial elegeu Nova Friburgo para estabelecer uma enfermaria de beribéricos. A enfermaria proveria a cura e convalescença de seus marujos acometidos de beribéri, doença que atacava os indivíduos que permaneciam muito tempo no mar, provocando-lhes a deficiência de vitamina B1. Até então a marujada ficava internada na Enfermaria de Beribéricos de Copacabana, no Rio de Janeiro. Em abril de 1889, entra em cena o Almirante Carlos Balthazar da Silveira, Ministro da Marinha, que expressou seu descontentamento em relação à enfermaria de Copacabana. Declarava que a mortalidade era avultada naquela enfermaria devido a sua instalação ser quente e úmida. De acordo com ele:“...Torna-se urgente sua remoção para uma localidade de clima mais ameno, que possua água potável boa e abundante...” Em decorrência deste manifesto, em 25 de julho de 1889, foi inaugurada em Nova Friburgo uma enfermaria provisória para tratamento dos oficiais e praças da Armada acometidos de beribéri. A enfermaria funcionava na rua Gal. Osório, próximo ao Colégio Anchieta. Mais de um mês depois de instalada, um diretor do Hospital de Marinha da Corte enviava o seguinte ofício ao Ministro da Marinha: “Tenho a honra de enviar a Exa. os mapas dos doentes de beribéri tratados em Nova Friburgo (...)as duchas aplicadas com método e cuidado constituem um meio terapêutico de grande alcance(...)aqueles que foram paralíticos e com atrofias musculares ainda se acham muito enfraquecidos e que só agora e depois de trinta e tantas duchas é que deixaram as muletas....”. Estas duchas foram aplicadas no Instituto Hidroterápico que já havia em Friburgo. Foi provavelmente neste momento que a Marinha abriu os olhos para aquisição de tal estabelecimento. O Instituto Hidroterápico ou Casa de Duchas foi construído em 1870, pelos médicos Carlos Éboli e o dr. Fortunato. No entanto, com o falecimento de Éboli, em 1885, o estabelecimento ficou acéfalo, pois perdeu seu timoneiro no tratamento à base da hidroterapia. Desde então, o instituto parece ter enfrentado dificuldades financeiras. O Ministério da Marinha entabulou então negociações para aquisição do Instituto Hidroterápico, do qual já se servia. Os friburguenses e as instituições, a exemplo da Câmara, se pronunciaram contra tal aquisição, pois iria comprometer a salubridade de Friburgo já que o instituto se localizava no centro da cidade. Anexo ao Instituto Hidroterápico havia o Hotel Central, que fazia parte do instituto, que é hoje o Colégio N.S. das Dores. O interesse no Instituto Hidroterápico adequava-se perfeitamente aos propósitos da Marinha, pois o tratamento à base da hidroterapia era preconizado como medida terapêutica para a cura do beribéri. Possuindo a Casa de Duchas todas as instalações e aparelhos para tal fim, os problemas financeiros do instituto encaixavam-se como uma luva junto aos projetos da Marinha para adquirir tal estabelecimento. Porém a Marinha não contava com a presença de um ilustre veranista e assíduo frequentador de Friburgo: Rui Barbosa. Foi este advogado e político responsável pela obstrução deste projeto, adiando por alguns anos a vinda do Sanatório para Friburgo. Convido os leitores de A VOZ DA SERRA para acompanharem, em seis partes, um breve relato sobre o Sanatório Naval em Nova Friburgo.
Janaína Botelho é autora do livro
O Cotidiano de Nova Friburgo
no Final do Século XIX.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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