O Sanatório Naval em Nova Friburgo O CASO DO CAMPO DE INTERNAÇÃO

sábado, 31 de julho de 2010

Parte VII

O Sanatório Naval foi palco de acontecimentos importantes na história do país e nas memórias de alguns habitantes. Há uma interessante passagem ocorrida ao final da Primeira Guerra Mundial(1914-18). O Sanatório Naval recebeu em 1917, quando o Brasil entra na guerra contra a Alemanha, 600(seiscentos) marinheiros alemães tripulantes dos 45 navios mercantes estacionados em portos brasileiros e que foram apresados. Os tripulantes foram detidos na qualidade de ‘internados’. Criou-se uma infraestrutura para abrigar estes prisioneiros construindo-se duas casas de alvenaria e quatro grandes barracões de madeira para alojamento dos mesmos. Nesta ocasião, ocorre entre outubro e novembro de 1918, um surto de gripe espanhola no mundo, atingindo o Brasil e matando boa parte da população. Foram trazidos para Nova Friburgo 32 doentes acometidos por esta gripe, transferidos do Hospital Central da Marinha. Ocorre então uma tragédia. Estes doentes da gripe espanhola acabaram infectando o acampamento dos prisioneiros alemães. Foram contaminados por esta doença 276 dos 600 prisioneiros, tendo falecido cinco deles. Agora, por que trazer prisioneiros de guerra alemães para Nova Friburgo se o Sanatório Naval era tão somente um hospital e não uma base militar propriamente dita? Provavelmente foi o clima de Friburgo, semelhante ao europeu, que teria concorrido para abrigar soldados alemães, por lhes ser mais favorável em termos de adaptação. D.João VI não escolheu esta região para abrigar os suíços devido ao fator climático? Por outro lado, Friburgo já possuía uma considerável colônia de alemães, o que facilitaria na comunicação com os prisioneiros.

Paralelamente a todos estes acontecimentos, Nova Friburgo iniciava seu processo de industrialização, cujas empresas eram de empresários alemães. Terminada a guerra em 1918, os prisioneiros alemães foram retirados do Sanatório Naval. No entanto, há relatos de que vários destes alemães prisioneiros de guerra no Sanatório Naval foram cooptados pelos industriais alemães para trabalhar em suas fábricas, instalando-se definitivamente em Nova Friburgo. Os prisioneiros alemães foram autorizados a trabalhar nas comunidades onde estavam locados, desde que o empregador mantivesse a Comissão Militar informada sobre a situação do ‘internado’. Carlos Rodolpho Fischer nos informa que diversos prisioneiros alemães ‘internados’ no Sanatório Naval, se radicaram em Friburgo, a exemplo de Richard Hugo Otto Ihns (1889-1960), que após a guerra se radicou em Friburgo e ingressou na empresa M. Sinjen & Cia., a convite do conselheiro Julius Arp, tornando-se um líder militante da colônia alemã no município. Fischer afirma que esta foi a “terceira leva” de colonos alemães, marcando a história de Friburgo, apesar de não fornecer o quantitativo dos que ficaram. Não se sabe quantos destes prisioneiros alemães se estabeleceram em Friburgo. Porém, se consideramos que as imigrações anteriores de 1824(343 colonos) e de 1892 (703 imigrantes) de alemães a Nova Friburgo foram pouco significativas, pode-se de fato afirmar ser esta a “terceira leva”, como disse Fischer.

No site centrodedocumentaçãodjoaovi, da Fundação Pró-Memória, há duas fotos registrando o acampamento destes prisioneiros alemães. No cemitério luterano, um lugar de memória, encontram-se enterrados os corpos dos cinco soldados que morreram simultaneamente de tifo. Na próxima semana finalizo esta série com uma matéria sobre as memórias de alguns friburguenses sobre o Sanatório Naval, já que por muitos anos este estabelecimento assemelhava-se no imaginário local ao ‘castelo’ de Kafka, soberbo e misterioso no alto da colina da cidade.

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.