O Rio São João das Bengalas

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Rio São João das Bengalas nos deu tristezas e alegrias ao longo de nossa história. As enchentes desse rio são um déjà vu e não surpreende. Desde a fundação da vila, em 1820, as enchentes causavam danos materiais à população. Na história da humanidade as cidades se formam ao redor dos rios, em razão da atividade econômica agrícola que necessita deles para irrigar as plantações, mover os moinhos e monjolos à força d’ àgua.     

Em Nova Friburgo não foi diferente. Desenvolveu-se às margens do Rio São João das Bengalas, formado pela confluência dos rios Cônego e Santo Antônio que se lança no Rio Grande e deságua no Paraíba do Sul. O Rio São João das Bengalas não tinha esse alinhamento que possui hoje e pequenos riachos se estendiam pelo centro da cidade.

Em princípios do século 20 foi feito nele uma retificação. O curioso é que era navegável. Havia inclusive no século 19, um porto na altura de Duas Pedras, o Porto do Dutra, que conduzia passageiros. Desde a fundação da vila, no período das chuvas, a partir do mês de novembro, a enchente atingia as casas e derrubava os pontilhões. A primeira colheita dos colonos suíços foi um fracasso em razão das incessantes chuvas.

O Código de Postura previa que em caso de inundação, a Câmara Municipal poderia solicitar o auxílio da população para debelar tal sinistro. Caso não houvesse colaboração, punia-se o cidadão com pena de multa e até mesmo prisão. Quando havia inundação do Rio Bengalas na vila, fazia-se o sinal de rebate e chamada e cada vizinho do quarteirão era obrigado a acudir ao local que sofria danos.

Igualmente, toda pessoa que possuísse máquinas e instrumentos para os socorros de inundação, como bombas d´água, barris, carroças, escadas, calabrês, moirões, cordas e correntes seria obrigada a concorrer com os mesmos, colocando-os à disposição das autoridades, com direito a indenização por qualquer dano ou prejuízo que neles viesse a sofrer.

As fontes iconográficas de princípios do século 20 demonstram que as enchentes faziam parte do cotidiano da cidade. Mas o Rio São João das Bengalas não deve apenas ser lembrado em caso de enchentes. Alguém consegue imaginar barcos velejando nesse rio na avenida?

Na comemoração do centenário da fundação de Nova Friburgo, em 1918, os descendentes do Barão de Nova Friburgo se incumbiram de organizar uma festa veneziana no Rio Bengalas. A família do barão e o sr. Ernesto Kepp patrocinaram 12 pequenos barcos para quatro passageiros. No fim da Avenida Galdino do Vale, na altura do Colégio Modelo, as águas foram represadas deixando o rio Bengalas com um enorme volume d´água. A avenida foi toda iluminada e o povo disputava para conseguir um lugar às margens do rio para ver os 12 barcos com as autoridades.

O Rio São João das Bengalas banhava as lavouras do vale do Rio Grande, hoje Conselheiro Paulino. Ali se plantavam crisântemos, rosas e hortaliças e a fertilidade de seu solo era assegurada pela proximidade com esse rio. Era o celeiro agrícola no centro da vila. Ganhou tanta importância que o vale do Rio Grande passou a ser distrito, o de Riograndina. E assim o velho Rio São João das Bengalas além de tristezas já nos deu muitas alegrias. 

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    As enchentes do Rio Bengalas são um déjà vu em nossa história

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    Enchente na Rua Francisco Miele em 02 de janeiro de 1938

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    Quem poderia imaginar essa cena no Rio Bengalas

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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