O palacete do Barão das Duas Barras - A residência de verão do governador (Última parte)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Não dá para citar a trajetória de todos os Moraes, mas podemos mencionar os que mais se destacaram. José Antônio de Moraes, segundo filho de Basília e de Antônio Rodrigues de Moraes, recebeu o título de Barão de Imbé, em 1884, e cinco anos depois, de visconde. A divisão geopolítica da província do Rio de Janeiro iria alterar bastante com a proclamação da República. Neste arranjo político estiveram envolvidos membros da família Moraes. Nesse contexto foi criado o município de São Francisco de Paula, que recebeu posteriormente o nome atual de Trajano de Moraes, filho mais velho de José Antônio de Moraes e Leopoldina das Neves, os Viscondes de Imbé. O notório político de Nova Friburgo, Galdino do Valle Filho era bisneto dos barões das Duas Barras. Era filho de Francisca de Moraes Martins e de Galdino do Valle. Nascido em 1879, na Fazenda Olaria, de propriedade de sua avó Felizarda de Moraes, Galdino do Valle Filho mudou-se para Nova Friburgo. Formado em medicina, se elegeu deputado federal nos anos de 1924, 1927, 1930 e 1954. Após o fim do mandato como parlamentar, em 1959, afastou-se definitivamente da política. Elias Antônio de Moraes, o quarto filho de João Antônio, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e em 1865, diplomou-se. Elias Moraes foi um caso raro de casamento por opção pessoal. Apaixonou-se pela jovem carioca Georgeanna e se casaram com as bênçãos da família. Recebeu como dote a Fazenda do Ribeirão Dourado onde nasceram os cinco filhos do casal. A expectativa de seu pai era de que Elias Moraes fosse cafeicultor e exercesse a medicina apenas no atendimento de doentes pobres ou escravos. No entanto, Elias nunca assumiu totalmente a atividade econômica do café como desejava o seu pai. Passou a importar touros e vacas da raça indiana guzerá e criar o gado nelore na Fazenda do Ribeirão Dourado, seguindo o exemplo da família Lemgruber, que introduziu esse gado no Brasil. No ano de 1889, no apagar das luzes do governo monárquico, Elias Antônio de Moraes recebeu o título de 2º Barão das Duas Barras. Contudo, a carioca e urbana Georgeanna não se conformou com o isolamento do latifúndio em Cantagalo. O segundo Barão e a Baronesa das Duas Barras buscavam um estilo de vida urbano e bons colégios para os filhos e, na ocasião, era o que Nova Friburgo tinha de melhor. Adquiriram a chácara Boa Sorte, em Nova Friburgo, próxima a estrada Cantagalo, atual Rua General Osório. A construção do palacete ocorreu entre os anos de 1886 e 1896, sendo uma cópia em menor escala do palácio do Primeiro Barão de Nova Friburgo, atual Museu da República, no Rio de Janeiro. Como os Moraes cooptaram colonos em suas fazendas para substituir a mão-de-obra escrava, os imigrantes italianos auxiliaram na construção e no acabamento do palacete. Luiz Spinelli, que chegou ao Rio de Janeiro em 1889, depois de trabalhar algum tempo na fazenda do segundo Barão das Duas Barras é transferido para Nova Friburgo para trabalhar na edificação do palacete. Há fortes indícios de que o artista italiano Elviro Martignoni tenha pintado afrescos nesse palacete. Esse talentoso pintor contribuiu com o seu trabalho artístico na catedral São João Batista e na chácara do chalet dos barões de Nova Friburgo. Os seus afrescos podem estar escondidos sob camadas de pintura. Georgeanna organizava muitos saraus e soirées no elegante palacete e a vida social do casal era sempre mencionada no jornal O Friburguense. Muitos membros da família Moraes também se sentiram atraídos pela vida urbana e construíram confortáveis residências no centro de Nova Friburgo. O segundo Barão das Duas Barras faleceu em 1927, aos 87 anos de idade. Com o passar dos anos, o palacete passou da família Moraes para a propriedade da Prefeitura Municipal de Nova Friburgo. No ano de 1960, o prefeito municipal Amâncio Azevedo convenceu o governador Roberto da Silveira a trocar Petrópolis por Nova Friburgo em suas férias de verão. O palacete passou a ser residência oficial do governador do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, em um acidente de helicóptero em Petrópolis, o governador Roberto da Silveira veio a falecer em fevereiro de 1961, em consequência da gravidade das queimaduras. Não sendo mais a residência de verão do governador, a partir do ano de 1971, o palacete passou a abrigar o curso superior de Odontologia, conhecida como Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo, tendo como mantenedora a Fundação Educacional e Cultural de Nova Friburgo. Dois anos depois foi criada a Autarquia Municipal de Ensino Superior que mantinha a faculdade. Chegou a ser considerado o melhor curso superior de odontologia do país, sendo um dos mais procurados entre os estudantes. Um acordo entre a Prefeitura de Nova Friburgo e a UFF extinguiu a autarquia e o palacete passou a ser ocupado pela universidade. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Unidades Federais, o REUNI, criou o Polo Universitário de Nova Friburgo, oferecendo cursos de graduação em odontologia, biomedicina e fonoaudiologia, através do Instituto de Saúde de Nova Friburgo. No ano de 2019, ocorreu a efetiva transferência do palacete para a Universidade Federal Fluminense, perdendo o município um dos seus mais estimados patrimônios históricos. A história da família Moraes foi extraída do livro “Histórias de Família, Casamentos, Alianças e Fortunas”, de Marieta de Moraes Ferreira.

 

  • Foto da galeria

    O palacete foi residência oficial do governador do Estado do Rio de Janeiro

  • Foto da galeria

    A baronesa Georgeanna organizava muitos saraus e soirées no elegante palacete

  • Foto da galeria

    O segundo Barão das Duas Barras faleceu em 1927, aos 87 anos de idade

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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