O município vizinho de Sumidouro e sua grandeza histórica

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Sumidouro pertenceu a Nova Friburgo durante quase todo o século 19. Era a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer, considerada a de maior potencial econômico, proporcionado pelo plantio do café. Sua economia girava igualmente com a produção de açúcar nos engenhos, alguns deles de propriedade de descendentes de suíços e de imigrantes italianos. Essa freguesia ficou ligada a vila serrana até 1881, quando foi incorporada ao município do Carmo.

A geopolítica na República Velha era extremamente instável. Em 1890, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer desmembra-se do Carmo, ganha status de município e passa a denominar-se Sumidouro. Dois anos depois sofre uma perseguição política e fica suprimido esse município. Uma parte passa pertencer ao Carmo, outra a Duas Barras e uma terceira a Sapucaia. No entanto, no mesmo ano, em 1892, ficou restabelecido o município com todo o seu território.

Sumidouro é dividido em terras quentes e terras frias. Seus vales férteis são banhados pelo Rio Paquequer e seus afluentes. No período em que era freguesia de Nova Friburgo, o café era plantado nas terras quentes onde hoje predomina a pecuária.  O censo de 1872, traz o único registro oficial da população escrava nacional. Nesse ano, a população cativa superava a livre na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer. Do total de 4.015 habitantes, 2.167 eram escravos. Como toda região tem a sua nobreza local, José de Aquino Pinheiro, o Barão de Aquino, representava a mais alta estirpe da Freguesia do Paquequer.

Fui visitar a Fazenda Santa Cruz que pertencera a família Jordão, no século 19. A restauração da casa de vivenda vem sendo feita pelo atual proprietário, sr. Miltolino Donin de Souza, que transformou-a em uma pousada, como fora na primeira metade do século 20. O fim da escravidão associado a falta de adubação da terra e pouca chuva causada pela derrubada da floresta, diminuiu a produtividade dos cafeeiros, provocando a bancarrota de muitos fazendeiros dessa região.

Com o fim da escravidão adotou-se inicialmente o sistema de colonato. Portugueses e italianos se estabeleceram como colonos nessa região em substituição à mão de obra escrava. Como esses imigrantes adquiriram posteriormente suas próprias propriedades a única maneira encontrada pelos produtores rurais, na relação de trabalho, foi o sistema de arrendamento ou parceria, para resolver o problema da falta de mão de obra no campo. Alguns fazendeiros migraram para a pecuária, que demanda menos mão de obra.

Em meados do século 19, a mais aperfeiçoada máquina de beneficiar café, que removia a sua casca e polpa, era o engenho de pilões. Suas dimensões e custo de construção, tornavam-na acessível somente aos maiores fazendeiros. Os que não possuíam esse mecanismo batiam o café com casca, conhecido como café em côco, com varas ou utilizavam o monjolo para socar o café. Já outros empregavam escravos para pilar o café em pilões. Geralmente o engenho de pilões era movido mecanicamente pela força de uma grande roda hidráulica. Simultaneamente, ventiladores manuais ou mecânicos sopravam os resíduos, em substituição das peneiras. O sr. Miltolino tem um desses engenho de pilões em perfeito estado e colocará em funcionamento no Centro de Memória que está criando em sua propriedade. Integrará igualmente esse centro carros de boi restaurados.

Até o final da década de 1930, do século passado, predominou o cultivo do café nas terras quentes como a principal atividade econômica de Sumidouro. A partir de 1940, nas áreas montanhosas, com altitude que chegam a 1.300 metros de altitude, teve início a produção de hortaliças, legumes e frutas, base de sua economia até hoje. Na agricultura, os japoneses tiveram um papel inovador ao ensinarem o cultivo de caqui e técnicas agrícolas no plantio de olerícolas.

Atualmente a economia de Sumidouro é essencialmente agrícola e boa parte da população vive na área rural. Nesse município existem inúmeras fazendas históricas do Segundo Reinado, ainda bem preservadas. Muitas propriedades históricas são produtivas como a Fazenda Boaventura que se dedica ao plantio de verduras e legumes, forragem e pecuária leiteira. A Fazenda Vista Alegre é outra propriedade histórica produtiva, pertencente à família Erthal, descendentes de colonos alemães que chegaram a Nova Friburgo em 1824 e foram em busca de melhores terras nas cabeceiras do Rio Paquequer.

Outra grande propriedade é a Fazenda São Bento, dos Galiano das Neves que pertencera a Freguesia do Paquequer e com a divisão administrativa no século 19, passou a pertencer a Sumidouro. Casas de vivenda do Império, ruínas da Ponte Seca circundada por um belíssimo vale, três túneis de trem, alambiques, antigas igrejas, tudo isso mostra a grandeza histórica do município de Sumidouro.   

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    Casa de Vivenda da Fazenda Santa Cruz em Sumidouro

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    Carros de boi restaurados no Centro de Memória

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    Engenho de pilões, máquina de beneficiar o café

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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