O Morro Queimado está em festa

quinta-feira, 10 de maio de 2018

O Morro Queimado está em festa. Celebra o bicentenário do acordo entre o Reino de Portugal, Brasil e Algarves e a Confederação Helvética, atualmente a Suíça. Na realidade, o bicentenário deveria ser comemorado em 3 de janeiro de 2020, e não em 2018, e vou explicar o porquê. A data de 16 de maio de 1818, foi quando Dom João VI assinou o acordo de imigração estabelecendo as condições para a recepção de colonos suíços no reino do Brasil. Já em 3 de janeiro de 1820, o rei, de fato, criou a Vila de Nova Friburgo em um território desmembrado de Cantagalo, instalando a Câmara Municipal com poderes administrativo, legislativo e judiciário.

Esse equívoco na data festiva foi discutido por ocasião do 150° aniversário da cidade. Criou-se uma polêmica que dividiu os friburguenses. Ambos os lados acordaram que o Instituto Histórico e Geográfico fosse consultado e servisse como árbitro do conflito. O Instituto deu parecer favorável ao dia 3 de janeiro de 1820, como a data de fundação de Nova Friburgo. Porém, esse parecer não foi acatado e o dia 16 de maio continuou como a data de festividade da cidade.

Martin Nicoulin, historiador suíço, se manifestou sugerindo que os habitantes de Nova Friburgo celebrassem a sua fundação nos dias 17 e 18 de abril, contado a partir de 1820, data em que o povo da vila se confraternizou em uma grande festa na sede da Fazenda do Morro Queimado.

No entanto, já que o dia 16 de maio ficou consagrado, vamos às celebrações. Muitos eventos interessantes estão ocorrendo na cidade. No Cadima Shopping, podemos nos deliciar com uma viagem virtual de trem pela serra. No trajeto, além do prazeroso passeio de trem, uma breve história de Nova Friburgo é contada com imagens ilustrativas. O projeto é de Beto Meyer, responsável pelo setor de informática da Stam, empresa metalúrgica que patrocinou esse entretenimento.

O mais interessante é que terminada a exposição no shopping, o trem irá percorrer as escolas da rede pública para alegria da meninada. Paralelamente pode ser vista uma exposição de fotos antigas do trem do acervo da Fundação Dom João VI, como a imagem da estação inaugurada em 18 de dezembro de 1873, que poucos conhecem. Essa estação foi demolida para dar lugar a um novo prédio inaugurado em 2 de junho de 1935. Com o fim da linha férrea no sub trecho de Nova Friburgo, em 15 de julho de 1964, cinco anos depois torna-se a sede da Prefeitura Municipal, com o nome de Palácio Barão de Nova Friburgo.

Outro grande presente no bicentenário é a exibição no Teatro Laercio Ventura, no dia 15, do média metragem de Bebeto Abrantes e Jean-Jacques Fontaine, intitulado “Quando os suíços emigravam”. O filme se desenvolve em dois eixos paralelos. O primeiro mergulha no cotidiano de quatro famílias de descendentes de emigrantes suíços do início do século 19, morando na região de Nova Friburgo. Mostra também os laços que essas famílias mantêm, ou não, com os seus parentes distantes na Suíça.

O segundo fio condutor constrói uma narrativa sobre a emigração do passado e do presente, com as suas semelhanças e diferenças. Estes dois eixos se encontram no final num questionamento sobre os fluxos de refugiados que convergem hoje para a Europa e os Estados Unidos. O que a aventura dos emigrantes suíços nos ensina sobre a maneira de enfrentar as migrações de hoje?

A história desta migração de 1818, e as condições nas quais ela aconteceu, são contadas por dois pesquisadores, Martin Nicoulin, em Fribourg, que olha o evento do ponto de vista da Suíça e Henrique Bom, em Nova Friburgo, que esclarece as razões pelas quais o Rei de Portugal, Brasil e Algarve decidiu mandar vir esses suíços para o Morro Queimado, antigo nome de Nova Friburgo. Voilá! A cidade está em festa.

  • Foto da galeria

    Estação de trem do século 19. (Acervo Fundação D. João VI)

  • Foto da galeria

    Cartaz do filme quando os suíços emigravam

  • Foto da galeria

    No bicentenário exposição de fotos da Fundação D. João VI

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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