O Ibelga e a pedagogia da alternância

quinta-feira, 08 de agosto de 2019

O terceiro distrito de Nova Friburgo possui as localidades de Campo do Coelho, São Lourenço, Três Picos, Patrocínio, Salinas, Baixada de Salinas, Barracão dos Mendes, Floresta Mendes, Conquista, Centenário, Córrego D’Antas, Rio Grande, Cardinot, Florândia, Santana, Hotz, Três Cachoeiras, Pilões, Santa Cruz e Campestre. Banhado pela bacia do Rio Grande produz olerícolas como couve-flor, chuchu, berinjela, jiló, pimentão, abobrinha, tomate, brócolis, salsinha, cebolinha, entre outras.

No passado, essa região era conhecida como Terras Frias, por ser o ponto mais alto de Nova Friburgo, com 910 metros de altitude. Os proprietários de terras dessa região ficaram à margem da economia cafeeira do Vale do Paraíba fluminense, dedicando-se à produção de legumes como a batata inglesa, abóbora, milho e a criação de mulas, o que lhe valeu a alcunha de “terra de carrapatos”, de acordo com a tradição oral.

Os imigrantes japoneses introduziram inovações agrícolas no terceiro distrito como o estancamento e o sistema de estufas, logo assimiladas pelos produtores rurais. A partir de então, essa região se torna o maior distrito agrícola de Nova Friburgo, que juntamente com Sumidouro e Teresópolis, abastem a cidade do Rio de Janeiro. No passado, esse distrito era formado por latifúndios pertencentes quase todos à família Mendes. No entanto, atualmente as propriedades agrícolas têm em média entre dois e quatro hectares, cuja estrutura econômica é formada por agricultores familiares.

O que existe de mais positivo nessa região é que não se observa a evasão populacional do campo. Isso ocorreu com a região de Amparo que passou a esvaziar-se a partir de meados do século 20, perdendo a preeminência de maior distrito agrícola do município. Urge destacar que o terceiro distrito não enfrenta a evasão do campo graças a iniciativa do belga Charles Van Hombeek.

Há 25 anos, apaixonando-se por essa localidade, conseguiu junto a algumas instituições, a exemplo da ONG belga Disop e da Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, a instalação do Instituto Bélgica-Nova Friburgo. Inaugurado em 17 de julho de 1990, a Escola Fazenda Rei Alberto I ou Ibelga, em São Lourenço, inicia as atividades da escola quatro anos depois. O Instituto Bélgica – Nova Friburgo é uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, de caráter cultural, educacional, beneficente e filantrópico. Tem por finalidade estimular o desenvolvimento sustentável nos aspectos socioeconômico, cultural e ambiental através da educação e da elevação do nível técnico das comunidades rurais.

O Ibelga implantou Centros Familiares de Formação por Alternância, os Ceffas, que utilizam a pedagogia da alternância, sistema educativo surgido na França, em 1935, e que chegou ao Brasil 33 anos depois. Os Ceffas funcionam em regime de alternância e consistem na organização da formação em espaços e tempos diferenciados. Em Nova Friburgo, os alunos alternam períodos de uma semana no centro educativo e outra no meio sócio-profissional-familiar.

Neste sistema pedagógico, o processo de ensino e aprendizagem desenvolve-se a partir da experiência e da realidade concreta dos educandos, onde o meio sócio-profissional-familiar representa o eixo principal da proposta pedagógica. Vargem Alta, no sétimo distrito (São Pedro da Serra), região de cultivo de flores de corte, foi igualmente beneficiada no ano de 2002, com uma escola do Ibelga, com formação em floricultura.

Denominada de Ceffa Flores, essa extensão do Ibelga se daria, na realidade, no município de Sumidouro. No entanto, por questões políticas, não se concretizou e como já havia uma verba do instituto, privilegiaram os produtores de flores de corte. Entrevistei Ricardo Van Hombeek, filho do fundador, na ocasião da celebração dos 25 anos do Ibelga. Como presidente do Instituto, planeja para os próximos anos colocar o produtor rural sintonizado com as novas tecnologias.

Ainda com relação ao planejamento estratégico, objetiva ampliar as parcerias do Ibelga com novas instituições, além das já existentes. Graças ao Ibelga, a evasão do campo tem sido quase inexistente, garantindo a sucessão do negócio de uma geração à outra entre as famílias de produtores rurais do distrito de Campo do Coelho.

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    Escola Fazenda Rei Alberto I ou IBELGA, em São Lourenço

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    O IBELGA garante a sucessão do negócio entre os agricultores familiares

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    O Sr. Charles e seu filho Ricardo Van Hombeek. O primeiro foi criador do IBELGA

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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