O Dia do Trabalho e a memória da Fábrica Ypu

quinta-feira, 01 de maio de 2014

O Dia Internacional do Trabalho é destaque na mídia local juntamente com outra notícia: a aquisição, por parte do poder público municipal, da Fábrica Ypu. Segundo matéria publicada em AVS, em 29 de abril do corrente ano, "Compra da Ypu: dúvidas persistem”, trata-se de uma transação nebulosa, sobre a qual ainda não se esclareceu à sociedade de que forma foi realizada. Ano eleitoral, todos sabemos, o dinheiro logo aparece e o clientelismo grassa nas relações políticas entre os governos federal, estadual e municipal. Mas o objetivo dessa matéria é apenas informar ao leitor sobre a história dessa fábrica.  A Fábrica Ypu é um complexo industrial com 30 mil metros quadrados de área construída, de um total de 305 mil metros quadrados, abrangendo extensa área verde, e 30 residências para servirem aos funcionários da indústria. Uma prática muito interessante das empresas no passado. A Fábrica Filó igualmente tinha uma vila operária nas suas imediações. 

 A indústria Maximiliano Falck e Cia. foi estabelecida em Nova Friburgo pelo berlinense Maximiliano Falck, em 1912, no sítio Ypu — e daí o vulgo passou a denominá-la de Fábrica Ypu. De sítio a "cidade Ypu”, como era conhecida à época, a empresa especializara-se em passamanaria, produzindo ligas, cintos, suspensórios, cadarços e elásticos. O historiador João Raimundo nos informa que inicialmente construiu-se um barracão onde foram instalados 14 teares importados da Alemanha, com 12 operários produzindo artigos de passamanaria. Dez anos depois de sua fundação, a fábrica já possuía mais de quatro centenas de operários. A autossuficiência da empresa pode ser verificada pelos setores que possuía até a elaboração do produto final: tecelagem, trançadeira, tinturaria, engomação, tipografia e cartonagem (embalagem do produto), oficina mecânica e carpintaria. Posteriormente, ampliou suas atividades para acessórios de couro. 

Maximiliano Falck fora incentivado pelo conterrâneo Julius Arp, proprietário da Fábrica de Rendas Arp, a se estabelecer em Nova Friburgo juntamente com Gustav Otto Siems, esse último com a Fábrica Filó. Nova Friburgo tinha uma grande vantagem sobre outras cidades para abrigar esse complexo industrial: Julius Arp tornara-se proprietário da companhia de eletricidade, força motriz das máquinas alemãs. Os alemães fizeram a segunda revolução industrial substituindo as máquinas inglesas a vapor pela movida à eletricidade. Logo, esse foi o grande diferencial de Nova Friburgo, o monopólio do alemão Julius Arp sobre a energia elétrica, da qual dependeriam as indústrias. Não deve ter sido difícil para Julius Arp convencer Maximiliano Falck e Gustav Otto Siems a investirem na cidade veranista. Nova Friburgo, de clima agradável, similar ao da Alemanha, possuía igualmente inúmeras outras vantagens: farto manancial de água e um rio que corta o coração da cidade para despejar dos dejetos químicos das indústrias têxteis; uma linha férrea para o transporte das mercadorias e um passado histórico significativo, que compreendia uma mão de obra composta de descendentes de europeus que vieram como colonos (suíços e alemães) e imigrantes (italianos, portugueses e espanhóis) durante o século XIX. Além de todas essas vantagens, possuía colégios de ponta para educação da elite, como o Anchieta, N.S. das Dores, Colégio Braune, entre outros. Não bastasse isso, o político Galdino do Vale usou o incentivo à indústria como plataforma política contra seu rival, o coronel Chon Chon, da família Galiano das Neves. Logo, tinham amplo e irrestrito apoio de um importante político local. Até então, Nova Friburgo possuíra apenas duas fábricas de bebidas (cervejarias), uma de tamanco e algumas poucas torrefações de café. 

Os sucessores de Falk não lograram êxito na administração da empresa, que teve decretada a sua concordata. Foi adquirida por Willian Khoury, mas o seu destino foi a falência depois de longa agonia administrativa. A Fábrica Ypu foi arrematada pela Prefeitura de Nova Friburgo pela metade do preço de sua avaliação, que fora de R$28 milhões. A reforma e a manutenção de tão grandioso espaço deve chegar a valores significativos. Não foi à toa que espantou a iniciativa privada, que mesmo na "galinha morta” não se interessou por tal imóvel. No Dia Internacional do Trabalho, uma homenagem e preito aos antigos operários da Fábrica Ypu e o desejo de que a memória dessa empresa não caia no esquecimento da população.  


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”


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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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