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O COLÉGIO FREESE - A FORMAÇÃO DA ELITE POLÍTICA NO IMPÉRIO
Quando o naturalista alemão Hermann Burmeister visitou Nova Friburgo, em 1851, impressionou-se que uma vila tão pacata tivesse um estabelecimento educacional de alto nível, “à altura dos melhores existentes no país”. Tratava-se do Instituto Colegial Freese, do inglês John Henry Freese, fundado em 1841, um precursor de outros colégios, a exemplo do Colégio Anchieta, que formou a elite política e profissionais liberais do Império. Depois de terminada a educação lá encetada, muitos ex-alunos do Colégio Freese ocuparam eminente posição na política, tornando-se deputados e senadores do Império e outros se destacaram “nas letras” e na carreira militar.
O colégio situava-se na Rua do Colégio, atual Rua Monsenhor Miranda, onde hoje funciona a Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Foi posteriormente vendido ao Coronel Galiano Emílo das Neves e a Cristovão Vieira de Freitas, mas o Prof. John Freese continuou como professor do colégio. Muitos educadores do afamado Colégio Pedro II foram cooptados para dar aula no Colégio Freese. Curiosamente, foi vendido ao Dr. Carlos Éboli para transformar-se no estabelecimento hidroterápico, que recebia pacientes de todo o país para tratamento medicinal à base de hidroterapia. Digo curiosamente, pois saúde e educação sempre foi uma simbiose perfeita na economia da cidade. O Colégio Freese era amplo, arejado, dispondo de grande pátio para recreio dos alunos, grandes alojamentos para dormitórios, salas de aulas, salas de estudo, sala para exames, refeitório, oratório e uma “rica biblioteca” que impressionou o visitante. Hermann Burmeister relatara que o Colégio Freese não ficava a dever nada, quanto às instalações, às suas congêneres européias. Durante sua estada em Friburgo, o colégio, que já tivera outrora 80 alunos, contava então com 60, pois a instalação de outro instituto semelhante em Petrópolis fizera com que sua freqüência diminuísse.
As matérias ministradas eram português, grego, latim, inglês, francês, alemão, religião, aritmética, álgebra, filosofia, retórica, geografia, história geral, história natural, física, astronomia geral, desenho, contabilidade, cálculo e música. Um dos seus diretores, o Cel. Galiano, era um erudito e apreciador de música, formando uma banda no colégio. A Campesina, cujo fundador foi o Major Augusto Marques Braga, enteado de Galiano, tinha os instrumentos gravados com as iniciais C.F., de Colégio Freese, provavelmente uma doação do Cel. Galiano. Além de ser um estabelecimento de ensino considerado semelhante aos melhores colégios europeus, o clima sadio de Friburgo motivava também os pais a matricularem seus filhos neste colégio. Funcionando em regime de internato, as mães observavam que seus filhos quando retornavam ao lar durante as férias de final de ano, encontravam-se saudáveis e vigorosos. Uma mãe que residia na Corte, e teve três filhos matriculados no Colégio Freese, observou o bom resultado obtido pelos meninos quanto à saúde. Segundo um relato, “todos gozavam saúde, e José, o mais velho, por ser um pouco fraco e adoentado, foi o que mais lucrou com o magnífico clima do lugar.” Em razão disso, fez toda a formação de seus filhos no Colégio Freese.
Mas, como era a viagem destes estudantes a Friburgo? Partindo do Rio de Janeiro, tomavam eles, na Prainha, a barca que atravessava a baía, conduzindo-os até Villa Nova. Daí tomavam “carros” até a estação da estrada de ferro seguindo, pela via férrea até a raiz da serra do Morro Queimado. Neste ponto, deveriam galgar, a cavalo, serra acima até chegar a Friburgo. Ainda não havia o trem entre Cachoeiras e Friburgo, cujo trecho só seria inaugurado em 18 de dezembro de 1873. No mês de novembro, época das férias, quando os alunos regressavam aos seus lares, faziam a viagem de retorno em companhia do Coronel Galiano, que pessoalmente acompanhava os seus discípulos para a Corte, a fim de prestar exames na “Instrução Pública” e entregá-los aos seus pais. Finalizando, a lembrança do Colégio Freese, serve apenas para destacar um estabelecimento que foi um dos precursores de uma futura geração de colégios que iriam colocar Friburgo como uma referência em ensino, tanto no período imperial quanto republicano, na história da educação do Brasil. Fonte: Centro de Documentação Pró-Memória
Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX. mjbotelho@globo.com
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Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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