O Clube do Trem

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A sua memória está garantida. O trem ganhou um clube. Inicialmente formado por um grupo de aproximadamente 50 pessoas, a velha Maria Fumaça tem um lugar garantido na história de Nova Friburgo e igualmente um espaço em um Centro de Memória que funcionará nas instalações da prefeitura municipal. Mas não é para menos. Era exatamente nesse local que funcionava a antiga estação ferroviária de Nova Friburgo. O Clube do Trem reúne pessoas físicas e jurídicas que se interessam por assuntos ferroviários. Para tanto, foi criada a Associação de Amigos da Preservação e Memória do Patrimônio Ferroviário Barão de Nova Friburgo que utilizará o nome fantasia de Clube do Trem. A finalidade é múltipla: acompanhar as políticas e ações de preservação da memória ferroviária; fomentar a restauração e a entrega ao uso público do patrimônio histórico ferroviário; promover debates, simpósios e seminários sobre o tema; intercâmbio com órgãos e instituições nacionais e internacionais e muitas outras ações.

O clube tem como presidente Ordilei Alves da Costa, autor do livro “O apito do trem” e como vice, o médico Renato Henrique Gomes da Silva. Graças a criação dessa associação, os municípios vizinhos Bom Jardim, Sumidouro e Cantagalo estão articulando seus núcleos já que o cavalo de ferro nos unia irmamente no passado. A associação mal iniciou e já começaram as doações de fotos, documentos e objetos de descendentes de ferroviários. O clube pretende comemorar o dia do ferroviário, 30 de abril, em memória àqueles que constituíram uma das categorias de trabalhadores mais representativas e importantes na história da relação de trabalho no Brasil. Se pudermos estabelecer um marco inicial dos movimentos sindicais no país se dará com organização dos ferroviários, muitas vezes taxados de comunistas.

O trem, não pode ser esquecido jamais na história de Nova Friburgo. A linha férrea subindo a serra em1873, no trecho entre Cachoeiras de Macacu e a vila serrana nos libertou dos incômodos da serra da Boa Vista com perdas de mercadorias conduzidas por tropas de mulas que despencavam nos desfiladeiros nos trechos mais estreitos. De quatro dias de viagem entre a corte e a vila serrana, o percurso passou a ser feito em seis horas. A extensão da linha férrea para o norte-fluminense deu mais lucratividade aos produtores de café, pois o transporte feito por tropeiros era muito mais dispendioso e sujeito a riscos de perda. A economia de Nova Friburgo prosperou igualmente no setor de hotelaria. Além do transporte de mercadorias veio o trem misto e o trem de passeio, permitindo o transporte de passageiros. A charmosa e salubre vila serrana passou a receber muito mais veranistas e seus já afamados colégios viram aumentaro número de alunos da elite carioca.

O trem traz ainda a memória de um dos homens mais ricos no Império: o Barão de Nova Friburgo. Foi ele quem investiu na linha férrea para transportar o café de suas fazendas em Cantagalo. Nada como a trova de Maria José Braga para saudar duas grandes conquistas esse ano em Nova Friburgo, o Clube do Trem e o Centro de Memória da saudosa Maria Fumaça: “Na noite passou o trem em sonhos fazendo dém dém. Cadê o apito do trem? Cadê a sineta do trem? Cadê a linha do trem, estranho novelo de aço desenrolando em dois traços que nas retas se fundiam e pelo infinito fugiam? Saudade do trem de Sumidouro pelas noites varredouro! Passava arrastando fumaça, varria gente da praça, pois moça donzela de bem se recolhia com o trem. Asas brancas de saudade, passavam lenços fugazes despedindo-se de alguém pela janela do trem. Já não viajo de trem naquele doce vai e vém, já não espero ninguém que me chegue pelo trem! Cadê o moço do trem e a velha estação de trem? O próprio trem onde está? Quero ir ao Paraná, embarcar pra Bom Jardim, correr estradas sem fim. Cadê a linha do trem, cadê o apito do trem? Quando eu morrer quero o trem me levando para o além.” 

  • Foto da galeria

    Era na atual prefeitura que funcionava a estação de trem

  • Foto da galeria

    Instalação do Clube do Trem

  • Foto da galeria

    O marco inicial dos movimentos sindicais no país se dará com os ferroviários

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.