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O Centro de Memória e Pesquisa de Cantagalo
Cantagalo inicia a sua ocupação em fins do século 18 devido à procura do ouro nos afluentes dos rios Grande, Negro e Macuco que recortam sua região, com garimpeiros originários de Minas Gerais. Mas não foi o ouro de aluvião, e sim, o café que originou sua aristocracia rural, os barões do café, a exemplo de Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Cantagalo tem belíssimas propriedades históricas muito bem preservadas como as fazendas Gavião e Areias que pertenceram ao Barão de Nova Friburgo. Visitei o Centro de Memória, Pesquisa e Documentação de Cantagalo e entrevistei o seu coordenador local, o historiador e também vereador João Bosco de Paula Bon Cardoso.
Fiquei admirada com o avanço que o município deu em relação ao tratamento de seu acervo histórico. Principalmente em se tratando de um município em que há mais de dez anos atrás determinados cidadãos colocaram em um caminhão vários documentários históricos para serem incinerados. Cantagalo foi um dos segmentos mais dinâmicos da chamada civilização do café em termos econômicos e políticos, tendo grande importância na história regional. Mas onde estava o acervo documental desse importante período de sua história?
Inicialmente, os integrantes do Centro de Memória se dirigiram até a Igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento de Cantagalo. O padre facultou o acesso da documentação e começaram a catalogá-la. A seguir, toda a documentação da Igreja foi levada para o Centro de Memória, sendo higienizada e digitalizada. O acervo retornou à Igreja compilado em um CD com recomendações de conservação. Nunca mais precisará ser manuseado já que se encontra digitalizado. Infelizmente a Igreja de Nova Friburgo ainda não fez o mesmo emprestando a sua documentação a Fundação D. João VI, criando inclusive dificuldades aos pesquisadores que consultam o seu acervo. Já no cartório de Cantagalo, os responsáveis pelo Centro tiveram que entrar com um processo administrativo que demandou um ano e meio de espera para ter acesso a documentação. Foram feitas exigências de um plano de trabalho e de uma minuta de um convênio. Encontra-se ainda na fase de catalogação essa documentação.
Igualmente, fizeram um levantamento na Câmara Municipal de Cantagalo, que tem um rico acervo que compreende as atas da Câmara, registro dos cemitérios, leis de posturas, etc. A Unirio deu apoio ao centro fornecendo toda a aparelhagem técnica para higienização e digitalização e material de consumo próprio como luvas, máscaras, etc. Foi realizada a capacitação do pessoal com o apoio de um órgão do município de Macaé.
A escravidão é uma das páginas mais lamentáveis de nossa história. Três séculos e meio estabelecida no país em que o trabalho na lavoura e em certos ofícios era feito somente por escravos, e por isso, considerado aviltante pelo homem livre. Em meados do século 19, Cantagalo era um dos distritos cafeeiros mais importantes da província fluminense e consequentemente, apresentava um dos maiores plantéis de escravos. Em 1884, tinha mais de vinte mil escravos. De grande produtor de café no Império, chega ao final daquele século em plena decadência econômica em razão da exaustão do solo, tornando os cafeeiros improdutivos, devido ao fim do trabalho escravo e a falta de habilidade dos fazendeiros no regime de parceria com os colonos europeus para suprir a falta de braços na lavoura. Os fazendeiros dessa região migraram para a pecuária, que demanda pouca mão de obra, e indústrias cimenteiras, que se tornaram outra atividade econômica da região. Porém, apesar de toda a sua importância durante o Império, não foi objeto de atenção e pesquisa por parte dos pesquisadores no país como foram outros municípios fluminenses. Provavelmente a partir da organização de seu acervo através do Centro de Memória, Pesquisa e Documentação muitos trabalhos acadêmicos surgirão e o resultado serão os livros de história povoando as estantes das universidades e das escolas.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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