A Nova Friburgo que não existe mais...

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Nessa semana me detive na análise de antigos álbuns sobre Nova Friburgo. Inicialmente vale destacar a particularidade de no passado se produzir álbuns que traziam informações sobre a população, demografia, clima, economia e aspectos pitorescos. O texto é sempre elogioso, com dados sobre a localidade e ilustrações com imagens fotográficas. Alguns deles descrevem os “vultos” da cidade, indivíduos que se destacam na política e famílias em razão de seu status social. Vejamos o que descreve um desses álbuns sobre o município de Nova Friburgo, em 1922, há quase cem anos atrás. Inicialmente, destaca-se sua paisagem montanhosa e descreve-se Nova Friburgo como um vale com terras férteis em razão da irrigação de diversos rios como o Bengalas, que banha a cidade, e igualmente o Paquequer e o Rio Grande, que atravessam o município. Em 1922, o álbum nos informa que Nova Friburgo produzia 1.000 toneladas de café, 10.000 toneladas de batata, 2.500 toneladas de milho, 1.000 toneladas de feijão, 500 toneladas de frutas, 600 toneladas de legumes, mais de 500.000 mil flores, além de laticínios como queijo, manteiga, etc. Parece-nos que nessa ocasião boa parte dessa produção vinha do distrito de Amparo, celeiro agrícola do município hoje suplantado pelo distrito de Campo do Coelho, outrora denominado de “Terras Frias”. Igualmente Conselheiro Paulino e Riograndina, com terras úberes banhadas pelo Rio Grande, provavelmente devem ter contribuído com a produção agrícola. Não foi por acaso que ambos ganharam uma estação de trem, a Estação de Conselheiro Paulino e de Riograndina, para transportar os produtos de sua lavoura. Conselheiro Paulino foi um político saquarema, grande defensor da escravidão no Brasil e com fazendas em Cantagalo. 

As indústrias não mereceram muito destaque. Nessa ocasião, estávamos há apenas dez anos da instalação das primeiras indústrias capitaneadas pelo industrial alemão Julius Arp e, portanto, não foram objeto de muita atenção. É mencionada a produção de rendas, bordados, suspensórios, cadarços, ligas e couros curtidos. As indústrias metalúrgicas ainda não tinham se implantado e nessa ocasião a população rural excedia à urbana. Tem destaque na descrição de Nova Friburgo a pureza do ar, a temperatura amena, a qualidade de suas águas fazendo do município um “inigualável sanatório”. Nova Friburgo sempre foi uma cidade procurada para a convalescença de doenças como a tuberculose e o beribéri, além dos que fugiam da canícula e da febre amarela do Rio de Janeiro. 

A sua altitude mereceu destaque: o álbum nos informa que o centro da cidade estava a 856 metros, Conselheiro Paulino a 841 metros, Rio Grande a 724 metros e Teodoro de Oliveira a 1.075 metros de altitude. No site atual da PMNF descreve-se de forma lacônica o clima de Nova Friburgo: “Clima tropical de altitude. Temperatura amena no verão e fria no inverno, com as quatro estações bem definidas.” E só! Paradoxalmente, no mesmo site coloca-se o turismo como primeira atividade econômica.

Considerando que desde a sua fundação Nova Friburgo atraiu veranistas em razão de seu clima, um município que coloca o turismo como primeira atividade econômica deveria dar mais destaque às suas condições climáticas. Vejamos o que diz o álbum: “...de cujo clima, apreciado e muito reputado, de longe data atrai, no verão,  uma larga corrente de população, enchendo-se os hotéis e escasseando as casas de aluguel”.  

Na segunda década do século XX, Nova Friburgo contava com 28.651 habitantes. Para estabelecer uma comparação com o último censo do IBGE, de 2010, a população de Nova Friburgo é de 182.082 habitantes. As praças eram mais ajardinadas, a do Suspiro entrecortada por um pequeno riacho e uma ponte. Na Praça Getúlio Vargas, denominada de 15 de Novembro, uma particularidade: ao final dela havia um cineteatro em exótico estilo mourisco. A influência do Império Turco-Otomano lançou moda em toda Europa e chegou ao Brasil. No entanto, o que mais provoca saudosismo são as belas residências em ambos os lados da avenida, antigamente denominadas de Avenida Friburgo e Santos Dumont. Era o local do footing, havendo belas “vivendas”, palacetes em variados estilos. A mais bela e elegante, uma das maiores perdas do patrimônio histórico local foi a que pertencera provavelmente ao imigrante italiano Giovanni Giffone. Infelizmente, terminou os seus dias nas mãos da associação Casa de Itália, que a derrubou para dar lugar a um edifício: o Edifício Itália. De todos os palacetes na avenida somente restou a bela residência de Galdino do Vale, que era até modesta em meio às que a circundavam. O belíssimo prédio do grupo Escolar Ribeiro de Almeida estava em construção e mesmo assim mereceu atenção pelo primor de seu estilo. O hotel Cassino Turista, uma teteia em frente à Praça Getúlio Vargas. Carroças circulando pela cidade denotam o centro ainda rural. Muito mais se poderia dizer dessa Nova Friburgo que não se existe mais.

 

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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