Notícias do Morro Queimado - Parte 1

quarta-feira, 06 de janeiro de 2016

Quando da chegada dos colonos suíços ao Brasil, em 1819, o rei Dom João VI determinou algumas providências para o transporte dos suíços do porto do Rio de Janeiro até a Fazenda do Morro Queimado, no distrito de Cantagalo, futuro termo de Nova Friburgo. Pedro Machado de Miranda Malheiro, inspetor da colônia, estaria obrigado a cumprir algumas providências determinadas pelo rei. Seriam elas: assim que chegassem ao porto do Rio de Janeiro os colonos receberiam pão ou biscoito, carne fresca e sal. Assim que fossem desembarcados dos navios seriam transportados por barcos até Tambi. Em Tambi seguiriam até a vila de Macacu por terra ou por barcos pelos rios Macacu e Caceribu. Daí seguiriam até a Fazenda do Colégio, depois para o povoado de Santa Ana e finalmente para a Fazenda do Coronel Francisco Ferreira. Da Fazenda do Coronel Ferreira iniciariam a subida da serra e não encontrariam mais pela frente um lugar de pouso, a não ser a choupana do Registro da Serra.

Em todo momento há referência de distribuição de víveres aos colonos e bestas para o transporte das bagagens e dos valetudinários que não estivessem em condições de andar a pé. Havia ordem de abertura de caminhos, melhoria das estradas, construção de pontes e estivas para a passagem de pessoas, carros de boi e carruagens até a serra. As providências do traslado dos colonos suíços determinadas pelo rei foram devidamente cumpridas pelo inspetor da colônia? Parece que sim e quem nos responde é o pesquisador da Fiocruz Pierre Georges Bauer. Ele pesquisou nos jornais Der Schweizer-Bote e Le Journaldu Jura a publicação da correspondência que os colonos suíços trocaram com os seus parentes na Suíça após terem sido instalados na Vila de Nova Friburgo.

Vamos relatar alguns trechos das cartas desses colonos para as suas famílias na Suíça. Sobre a chegada a Tambi, assim escreveram: “Imediatamente a nossa chegada, fomos visitados por agentes de saúde, alfândega e outros. Essa gente boa foi tratada tão mal pelas pessoas que eram responsáveis por sua travessia que chegaram num estado deplorável e amaldiçoaram os maus administradores. Enquanto aqui, chegaram felizmente em boas mãos porque o inspetor da colônia, o grão-chanceler do estado, recebeu-os como um pai carinhoso. Mesmo já sendo noite, ele mandou imediatamente duas mil laranjas, figos paradisíacos (na realidade, eram bananas), pão, vinho e aguardente. Resumindo, tudo que era possível para o seu alívio. No dia seguinte, nós fomos transferidos para barcos e transportados por remadores pretos até Tambi (...) dez léguas de distância, onde pela primeira vez botamos pés em terra brasileira. Recebemos na chegada mantimentos como pão branco, carne fresca e laranjas que o rei nos enviou. Em Tambi fomos muito bem recebidos pelo grão-chanceler do reino e cônsul-geral da colônia. Aqui foram colocadas mais de 60 tendas para a recepção da colônia inteira. Ficamos três dias para descansar; é o lugar mais encantador que nós tivemos visto no Brasil.”

A Vila de Macacu a que se referem nos parece ser a Vila de Santo Antônio de Sá. Provavelmente se referiam a Vila do “Macacu” em razão do Rio Macacu, importante via fluvial para o transporte de mercadorias até o porto do Rio de Janeiro. Assim escreveram os colonos: “Após cinco dias de descanso viajamos rio acima para uma cidadezinha de Macacu, onde é instalado um hospital. As casas têm um térreo e um andar em cima, tudo feito de barro. Macacu é uma pequena cidade, se ela merece este nome, de uma rua só. As casas são simples, térreas, sem andares, não tem nem tábuas nem janelas. Existe, entretanto, um grande mosteiro e uma bela igreja. O mosteiro serviu por um bom tempo como hospital para os colonos, onde foram muito bem tratados. O mosteiro a que se referem é o Convento de São Boaventura, instalado na Vila de Santo Antônio de Sá. Iniciou sua atividade em 1649, como recolhimento dos frades franciscanos. Nos séculos 17 e 18 receberá acréscimos e suas ruínas hoje estão no território do Complexo Petroquímico da Petrobrás (Comperj). Os colonos suíços receberam atendimento hospitalar no Convento São Boaventura e há referência de que mais de 30 faleceram nesse estabelecimento.Continua na próxima semana.

  • Foto da galeria

    Jerônimo Gavino, colono suíço

  • Foto da galeria

    Casamento de suíços em 1909

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.