Notas sobre o nazismo em Nova Friburgo - Parte 3

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

No 46° aniversário de Hitler houve uma grande celebração na Sociedade Alemã de Escola e Culto. O jornal O Friburguense de 28 de abril de 1935, reportou as comemorações. Na ocasião era presidente da sociedade Frederico Witte. Discursos em alemão eram entremeados com os de língua portuguesa. O hino brasileiro antecedeu ao hino nacional alemão e ao do Partido Nacional Socialista. Richard Ihns, o poderoso executivo da fábrica de Rendas Arp, compareceu a essa solenidade, sendo esse parte de seu discurso: “...Quis a diretoria da Deutscher Schul und Kirchenverein confiar-me a difícil, porém, para mim muito grata incumbência de transmitir ao seleto auditório, principalmente aos brasileiros, os nossos agradecimentos pela benevolência que teve em aquiescer as justas e dignas homenagens que a Sociedade Alemã presta, neste momento, ao chefe de Estado e Chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, cujo aniversário natalício festejamos hoje, quem tem nas suas mãos as rédeas do governo alemão, (...) notícias vindas dos nossos parentes na Alemanha nos cientificaram com mais detalhes e fidelidade a grande remodelação, o grande reerguimento, a grande ressurreição que o povo alemão deve a ação destemida, resoluta e incansável do Fuehrer. Desse homem assombroso que conseguiu conduzir o povo alemão para uma vida melhor, dando bem estar a milhões de almas e implantando nelas a inabalável confiança no futuro melhor! A ele, o povo alemão deve a gratidão por ter dado trabalho a milhões de compatriotas que, desocupados, tinham perdido a esperança para uma vida melhor. As milhões de crianças que viviam num ambiente triste e cheio de desconfianças, trouxe ele o conforto de um horizonte claro para o seu desenvolvimento....”. Júlio Ferreira Caboclo, usando da palavra fez uma exaltação das qualidades de Adolf Hitler e da Alemanha. Seus discursos publicados no jornal O Friburguense eram sempre de preito à “raça pura”, mormente a ariana. Outro discurso interessante foi o de J. Nunes da Rocha, representado a Associação Comercial e a Liga dos Proprietários. Homenageando Hitler, chamou-o de alma da raça germânica e coloca os alemães como os responsáveis pela transformação de Nova Friburgo, passando-a de modesta cidade de veraneio para um centro industrial de relevo. Ainda segundo ele, as indústrias alemãs deram origem a outras menores, fomentaram o comércio, aumentaram as rendas do município e atribui todo o progresso do município ao “made in Germany”. Rocha destacou ainda: “Digamos todos que há muita razão para que todos benqueiramos, em Friburgo, aos alemães que aqui vão se fixando...” O diretor do Sanatório Naval, Dr. Oswaldo Palhares, igualmente prestigiou a comemoração do aniversário de Adolf Hitler.

Talvez o leitor a essa altura esteja interpretando a posição política desses indivíduos como que apoiando os campos de concentração e extermínio de judeus, comunistas, ciganos e homossexuais, fruto da política de limpeza étnica do nacional-socialismo. Mas não corresponde à realidade! Ainda estávamos no período do “ovo da serpente” e se desconhecia as atrocidades que seriam praticadas pelo regime nazista. Tampouco os próprios cidadãos alemães sabiam do que ocorria. Todos os alemães que imigraram para Nova Friburgo fugiam da fome, da miséria e do desemprego da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Viam Adolf Hitler promover o progresso do país, construir estradas ligando toda a Alemanha recém unificada, gerar empregos, enfim, dar autoestima ao povo germano. Não devemos cometer anacronismo e interpretar as pessoas que celebraram o aniversário de Hitler em Nova Friburgo sob a luz do conhecimento que temos hoje do que se passou naquele período. Os alemães em Nova Friburgo pagariam caro, mais adiante, por essa posição  partidária em favor do nacional-socialismo.

Continua na próxima semana.   

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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