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Notas sobre o nazismo em Nova Friburgo - Parte 2
Nova Friburgo era uma cidade veranista quando empresários alemães aqui chegaram em 1911. Décadas antes, em 1824, um grupo de colonos de diversos Estados alemães havia se instalado nesse município. Peter Julius Ferdinand Arp inicia a instalação de indústrias no ramo têxtil em Nova Friburgo, juntamente com outros empresários alemães. Desde que implantadas essas indústrias, inúmeros técnicos alemães são cooptados para trabalhar nas fábricas e fixam domicílio em Nova Friburgo. Durante a Primeira Guerra Mundial navios alemães da Marinha Mercante alemã são apreendidos e uma das cidades a que se destinou esses marinheiros foi Nova Friburgo. Com tantos alemães em Nova Friburgo, criaram uma associação utilizando inicialmente um prédio próprio no centro da cidade. Como o número de associados crescia cada vez mais sentiu-se a necessidade de ampliação desse espaço.
Em 26 de maio de 1935 foi lançada a pedra fundamental do edifício da nova sede da Sociedade Alemã de Escola e Culto, onde hoje está situada a Sociedade Esportiva Friburguense. A aquisição do terreno e início da construção contou novamente com o apoio de Julis Arp e de Maximilian Falck. Um prédio seria destinado para a escola e outro para a sede social. Esses empresários auxiliaram através de suas empresas, emprestando dinheiro para aquisição do terreno e construção da sede, com uma garantia hipotecária. Sem o auxílio desses empresários a escola teria permanecido em instalações modestas. Os imigrantes italianos fizeram o mesmo, tendo criado uma escola para a formação de seus filhos que servia igualmente como espaço de sociabilidade para seus conterrâneos. O prédio funcionava na avenida, onde atualmente é o Edifício Itália, a poucos metros da sede dos alemães.
Com a idealização da nova sede na avenida, a sociedade até então fechada aos alemães abre suas portas para seletos cidadãos friburguenses. No discurso de Frederico Witte, presidente da Sociedade Alemã de Escola e Culto, por ocasião do lançado da pedra fundamental da nova sede, declarou que “manifesta o desejo de ver ingressados em sua sociedade um número maior de nacionais para em um convívio mais íntimo ainda, os laços de amizade que nos unem”. Essa abertura aos friburguenses seria fundamental para a preservação desse patrimônio, nos anos seguintes, em virtude da perseguição sofrida pelos alemães. Quando do lançamento da pedra fundamental, estávamos há quatro anos antes da Segunda Guerra Mundial. O nazismo lançara suas bases políticas na Alemanha e o fascismo na Itália.
No Brasil, os adeptos da ideologia nazifascista se organizaram através do partido integralista. Nova Friburgo possuía muitos adeptos do fascismo entre os imigrantes italianos e igualmente do integralismo, mormente entre os profissionais liberais. Não é por acaso que localizamos sobrenomes como Mastrângelo e Bizzoto comparecendo às reuniões de preito a Adolf Hitler. Os italianos igualmente formaram o Partido Fascista em Nova Friburgo. Um importante porta-voz do Partido Integralista foi o professor Júlio Ferreira Caboclo. Logo, os alemães se sentiram muito à vontade para se manifestar a favor do Partido Nacional Socialista. Na cerimônia de lançamento da pedra fundamental do edifício da sede da Sociedade Alemã de Escola e Culto foi hasteada a bandeira nazista, com a suástica, e cantado o hino do Partido Nacional Socialista.
Parte dos discursos era em alemão que a imprensa de forma aduladora chamava de língua de Goethe. Contou com a presença do prefeito, de membros do partido integralista, do diretor do Sanatório Naval e de todos os representantes das associações de imigrantes. Nos discursos, segundo o livro de Luiz Henrique da Silva, “Um mundo na sociedade”, foi exaltado publicamente os valores do regime nazista. O jornal O Friburguense, de 2 de julho de 1935, na matéria “Lançamento das pedras fundamentais dos edifícios da sociedade alemã”, descreveu que no pavilhão brasileiro tremulava em alto mastro, ladeado pela bandeira alemã, a “de Hitler”. Continua na próxima semana.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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