Nelore Lemgruber - Última parte

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

As lavouras de café no fim do século 19, começavam a dar sinais de declínio pelo baixo índice de produtividade dos cafeeiros. Além disso, o fim do trabalho escravo provocou uma crise na mão-de-obra, com a falta de braços na lavoura. Portanto, inúmeros cafeicultores do Centro-Norte fluminense seguiram o exemplo de Manoel Lemgruber diversificando sua atividade econômica e começaram a importar a raça zebu, que se difundiu em todo o país. O gado europeu mostrava-se frágil e sucumbia facilmente. Já a raça zebu, em razão de sua rusticidade, adaptara-se às condições climáticas do Brasil e igualmente aos pastos.  Iniciou-se uma campanha contra os criadores do zebu por parte dos pecuaristas paulistas que faziam a defesa da raça caracu, de origem portuguesa, existente no Brasil desde o período colonial. Mas a raça zebu se impôs e passou a ser utilizada como aprimoramento genético dos rebanhos nacionais. A família passou a usar a marca Nelore Lemgruber, lembrando que Nelore é a região na Índia de onde veio o gado zebu. Durante  várias gerações, a família Lemgruber manteve a linhagem fechada do seu gado evitando o cruzamento com o gado europeu. As raças indefinidas de origem europeia eram de genética pouco recomendada para cruzamentos produtivos. A robustez do gado não era suficiente para atender ao desempenho que lhe era exigido. Graças aos Lemgruber, e aos que seguiram o seu exemplo na criação do zebu, o Estado do Rio de Janeiro se consolida na atividade econômica da pecuária. Em 4 de maio de 1921, foi inaugurado em um parque de exposições a primeira Exposição Regional de Gado e Produtos Derivados, em Cordeiro, na ocasião ainda distrito de Cantagalo. Cordeiro foi reconhecido como a capital da pecuária fluminense. Manoel Ubelhard Lemgruber, que introduziu a raça zebu no Brasil, morreu em 20 de julho de 1921. Seu filho Octacílio Lemgruber o sucedeu e atualmente o seu neto, Paulo Lemgruber, nascido em 16 de agosto de 1933, dá continuidade ao trabalho de seus ancestrais na Fazenda São José, no Carmo. Mantém os reprodutores respeitando a tradição de manter a linhagem fechada não utilizando sangue externo. Os touros reprodutores da linhagem Lemgruber ganham peso rapidamente, possuem carcaça volumosa, são musculosos, com muita carne entre as pernas, pele firme e mansidão. A precocidade sexual constitui outra vantagem pois os animais são aproveitados mais cedo no processo reprodutivo. As vacas da raça zebu são de extraordinária habilidade maternal dando, por conseguinte, boa produção de leite para suas crias. Alimentam-se de capim no pasto, sal mineral e bastante água. 

A Fazenda São José se dedica exclusivamente à produção de matrizes nos mesmos padrões dos primeiros animais trazidos da Índia, no final  do século 19. Praticamente quase não existem mais postos de monta para cruzamento dos animais. O sêmen do touro é coletado em postos especializados. Paulo Lemgruber envia o reprodutor para uma central em São Paulo que fica o tempo suficiente para a coleta do sêmen. No entanto, faz uma coleta particular na Fazenda São José e mantém em nitrogênio um banco de sêmen. Grande parte dos criadores do país busca adquirir reprodutores e matrizes dos animais Nelore Lemgruber pela notória pureza na linhagem de seu sangue. A linhagem Lemgruber é parte integrante dos maiores rebanhos do país. 

A raça zebu é a maior do mundo em escala comercial. Graças à introdução e expansão desse gado no território nacional, o Brasil se consolidou entre os maiores exportadores de carne bovina do mundo. O boi branco tem mostrado força na pecuária nacional. Paulo Lemgruber preserva a linhagem em respeito aos elos que o unem aos seus ancestrais que deixaram como legado um valioso patrimônio genético.  

 

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    A raça zebu é a maior do mundo em escala comercial

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    Os Lemgruber mudaram a história da pecuária no Brasil

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    Paulo Lemgruber preserva a linhagem fechada em respeito aos seus ancestrais

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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