Na rota da cerveja, na rota da história

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

No que diz respeito à história da cerveja em Nova Friburgo, o município não poderia ficar fora da rota cervejeira da Região Serrana, no estado do Rio de Janeiro.

No Brasil, a cerveja está ligada a uma tradição da cultura alemã. Como Nova Friburgo, além de colonos, recebeu igualmente imigrantes germânicos ao longo de sua história, era natural que participasse dessa rota, que compreende os municípios de Petrópolis e Teresópolis. Considerada alimento durante a sua história de mais de seis mil anos, a cerveja fez parte da vida do homem desde os primórdios da humanidade. Existe uma relação direta entre pão e cerveja: ambos são feitos de grãos como a cevada e o trigo, água e fermentação. Assim como o pão, a cerveja alimenta e já foi, por isso, chamada de "pão líquido”. Na Mesopotâmia, em 4000 a.C., o Código de Hamurabi previa o afogamento do cervejeiro em sua própria bebida, caso ela fosse intragável. Os egípcios fabricavam cervejas suaves destinadas aos pobres, e as aromatizadas com gengibre, tâmara e mel eram reservadas aos nobres. Até o início da Idade Média, a produção de cerveja era uma atividade exclusivamente caseira, de responsabilidade das mulheres e dirigida ao consumo doméstico, já que fazia parte da dieta da família. Mas a cerveja produzida nessa época tinha muito pouco em comum com a bebida que tomamos hoje. Era, às vezes, usada como remédio, para o que a ela eram misturadas cascas, raízes e  especiarias como tomilho, pimenta e ervas em geral.

As primeiras iniciativas de produção em maior escala aconteceram nos mosteiros, a partir do século VI. Os mais famosos são a Abadia de Sankt Gallen, na Suíça, e a Abadia de Bobbio, na Itália, na qual o escritor Umberto Eco se inspirou para escrever o romance O Nome da Rosa. Os mosteiros tornaram-se unidades de produção da cerveja, tendo aprimorado seu método de fabricação. Produziam cerveja em grande escala, de boa qualidade, com receitas particulares, guardadas em segredo. Em 1040, o Mosteiro de Weihenstephan, em Freising, na Alemanha, conseguiu a licença para produzir cerveja comercialmente. É a cervejaria mais antiga em atividade no mundo. Atualmente, é um importante centro de formação de mestres cervejeiros e ainda produz as cervejas weihenstephaner. Santo Agostinho é considerado pela Igreja Católica o padroeiro dos cervejeiros. 

De atividade caseira, a produção da cerveja transformou-se lentamente em um negócio com características de indústria. Na primeira metade do século XIX, a cerveja consumida no Brasil era importada da Inglaterra. Com a chegada de imigrantes alemães ao Brasil, o país passa a ganhar suas primeiras fábricas de cerveja. Em 1842, surgem as primeiras cervejarias com produção em escala industrial no Brasil. E como iniciou a história da cerveja em Nova Friburgo? Em 1861, o alemão Pedro Gehart solicitou à Câmara Municipal da vila de Nova Friburgo licença para abertura de uma fábrica de cerveja, mas desconhecemos algo mais sobre o seu negócio. O que sabemos é que Albano Beauclair foi o primeiro cervejeiro fabricando a cerveja "Friburgo Brau”. Beauclair tinha o diploma de mestre cervejeiro conferido pela Escola de Cervejaria de Worms, na Alemanha. Beauclair instala, em 1893, uma cervejaria em Nova Friburgo, a Cervejaria Beauclair. Situava-se à margem do Rio Santo Antônio, na Rua Mac-Niven. Em 1907, Beauclair arrendou a fábrica a Bernardo Dias e o novo proprietário mudou o nome para Fábrica de Cerveja Germânia. A cerveja "germânia” era descrita como de cor topázio, de espuma argêntea e "aurivibrante”. As garrafas tinham rótulos litografados em letras art noveau com o nome de "Germânia” impresso em tinta vermelha, substituindo as rolhas de cortiça, presas em arame, pelo sistema "teutonia”. Outra cerveja produzida em Nova Friburgo no final do século XIX foi a "Cerveja Suspiro”, de propriedade de Gonçalves & Bastos, fabricada até os anos 40 do século XX. No bairro de Mury, com forte concentração de alemães, existiu igualmente uma fábrica de cerveja artesanal que levava o nome do bairro. Há referência de que o alemão Ernst Kappel, executivo da fábrica Rendas Arp, instalou cervejaria na segunda década século XX, no centro da cidade. A fabricação de cerveja em Nova Friburgo sempre esteve ligada aos alemães, mas atualmente não há essa relação. Trata-se de empresários que investem em um ramo que provavelmente trará um grande retorno turístico ao município. Com a adesão a rota da cerveja, Nova Friburgo igualmente resgata a sua história no que tange a tradição alemã no município. Na rota da cerveja, na rota da história.


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de

diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”


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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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