Mosteiro da Santa Cruz: para a glória de Deus - Última parte

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Visitei o Mosteiro da Santa Cruz, no distrito de Riograndina, e entrevistei o irmão Plácido, um francês com pouco mais de 50 anos. Esse monastério tivera em sua fundação laços com a Abadia de Sainte-Madeleine du Barroux, na França, mas perdeu a ligação com essa abadia em virtude de dissenções, conforme expliquei na coluna da semana passada.

O monastério em Nova Friburgo segue a linha dos tradicionalistas que discordam de quase todas as decisões tomadas no Concílio Vaticano II, realizado na cidade-Estado do Vaticano, em 1961. Um dos maiores críticos foi o arcebispo Marcel Lefebvre que em artigos e homilias declarou que o concílio foi resultado de uma infiltração maçônica na Igreja. O papa João Paulo II declarou a excomunhão de Lefebvre que faleceu em 1991, aos 85 anos, não se reconciliando com a Igreja Católica.

Estabelecido há 32 anos em Nova Friburgo, no Mosteiro da Santa Cruz são realizadas missas tridentinas, em latim. O papa João Paulo II concedeu uma autorização excepcional para a celebração da missa tridentina em casos específicos, já que havia sido abolida por aquele concílio. Na missa, as mulheres devem usar véu e ambos os sexos ficam separados em duas alas na igreja. Canta-se o gregoriano e toda a missa é cantada pelos monges.

No Mosteiro da Santa Cruz, durante o dia, a divisão do tempo é como nos monastérios da Idade Média. A rotina dos monges tem início às 3h30 da madrugada, com as matinas, seguidas da Lectio Divina. Às 6h as laudes, seguidas de oração mental; às 7h, o café da manhã; às 7h30 a prima, seguida de aulas. Às 11h a terça e a missa conventual; às 12h a sexta, seguida de almoço; às 14h15 a noa, seguida de trabalho manual; às 17h as vésperas, seguidas de oração; às 18h o jantar; às 18h45 o capítulo; às 19h as completas e às 20h todos devem se recolher e dormir.

Os monges não podem falar durante o dia entre si e se comunicam apenas com sinais. Valoriza-se muito o silêncio. Vivem uma vida contemplativa e oram todo o tempo. Na sua admissão fazem voto de pobreza. O mosteiro mantém há 20 anos o Colégio São Bento, Santa Escolástica, que dá formação desde a educação infantil até o segundo segmento, que corresponde ao 9º ano.

Na escola, diariamente é celebrado o santo do dia, quando é contada a sua história. A cada mês, a história de um santo é narrada mais detalhadamente. Reza-se diariamente uma dezena do terço. O Hino Pontifício, do Vaticano, é cantado periodicamente pelas crianças. Me chamou a atenção o uniforme das professoras. Um vestido longo preto, sobre uma camisa branca, tudo com muito recato. As meninas têm o uniforme semelhante ao das professoras. No recreio, os meninos são separados das meninas.

Indagando sobre a admissão de novos monges, segundo o irmão Plácido, o nível de evasão é alto quando entram para o monastério ainda muito jovens. Já os que entram com 18 anos ou mais permanecem, em sua maioria. O irmão Plácido faz severas críticas ao rumo tomado pela Igreja Católica a partir do Concílio de Vaticano II. É contrário a tolerância religiosa e prega a universalidade da Igreja Católica. Não concorda com a aproximação dos católicos com as outras religiões como o islamismo, o judaísmo, o budismo e o hinduísmo. É absolutamente contra o uso de anticoncepcionais.

Quando fiz a entrevista não pude ter acesso na parte em que os monges circulam, mas pode-se vê-los durante a missa, não obstante existir um biombo de madeira, em forma de treliça, para ocultá-los. Reclusos, isolados dos acontecimentos do mundo, me surpreendeu que tivessem aceito me conceder uma entrevista. Quando perguntei ao irmão Plácido porque aceitou me receber, ele me respondeu que não foi por vaidade pessoal, mas sim, para a glória de Deus.

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    Alunos do Colégio São Bento cantam o Hino Pontifício, do Vaticano

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    Canta-se o gregoriano e toda a missa é cantada pelos monges.

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    O irmão Plácido duante a missa no Mosteiro da Santa Cruz

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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