A memória: Rodolpho de Nova Friburgo

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Conheci há cerca uma semana Humberto Marchon Fontão. Nascido em 1932, além de seu trabalho e de suas atividades cotidianas preocupou-se em registrar a memória de pessoas, acontecimentos, lugares e fazeres. Fez uma interessante coletânea de depoimentos através do programa que produzia, Revista da Semana, na Rádio Friburgo. Graças ao seu trabalho como memorialista aprendemos interessantes curiosidades sobre Nova Friburgo. Entrevistou Rodolpho de Nova Friburgo, nascido em 1907, bisneto do primeiro Barão de Nova Friburgo e neto de Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, o Conde de Nova Friburgo. Em suas memórias, Rodolpho de Nova Friburgo nos relata que toda a estrutura metálica do Sanatório Naval foi adquirida pelo seu avô em viagem à Alemanha. Toda a Fazenda do Cônego pertencia à família Clemente Pinto e essa propriedade se estendia até Cachoeiras de Macacu. Conforme a tradição oral, essa fazenda dos Clemente Pinto passou a ser denominada de “Fazenda do Cônego” pois hospedava com frequência um eclesiástico, amigo da família. Se reportando a linha férrea, investimento que teve seu avô como timoneiro, eram inicialmente vagonetes puxados a burro. Já a linha férrea de Porto das Caixas a Cachoeiras de Macacu que seguia subindo a serra até Nova Friburgo e estendia-se até Portela, contou certamente com máquinas a vapor. Para tanto, o seu avô viajando pela Europa adquiriu trilhos, vagões, locomotivas e outros materiais utilizados no túnel Simplon, na Suíça. Entre Porto das Caixas e Cachoeiras de Macacu o trem seguia com tração livre e entre esse município e Nova Friburgo, utilizava o sistema de cremalheira. O engenheiro Borel foi o técnico responsável pela obra. Outra curiosidade foi que o nome Banquete, distrito de Bom Jardim, possui esse nome em razão da lauta ceia oferecida pelo conde ao imperador D. Pedro II para inaugurar o trecho da serra de Cachoeiras de Macacu a Nova Friburgo e igualmente a linha que se estendia até onde atualmente é o distrito de Banquete. Essa gravura foi retratada e publicada em uma revista na cidade do Rio de Janeiro. Havia ramificações de uma linha de bonde puxado a burro partindo da chácara do chalet (Country Clube) para a Fazenda do Cônego, para o Sanatório Naval e até a frente da estação de trem, nos “arcos”. Deu origem ao nome da Rua dos Arcos. Curiosamente, como havia uma residência de dois pavimentos no traçado planejado pelos Clemente Pinto para passar a linha de bonde foi derrubado somente o primeiro andar, o rés do chão, ancorando-se o segundo pavimento com vigas grossas de madeira. A parte inferior formou o que o vulgo denominou de arcos, originando o nome do logradouro que permanece até hoje. Segundo Rodolpho, em 1917, só permanecera a linha de bonde puxado a burro do Parque São Clemente, como passou a ser chamada chácara do chalet, até os “arcos”. No entanto, em imagens que possuímos se fazia uso de uma máquina do tipo decauville (trem de pequeno porte) que saía da chácara do chalet até o solar dos Clemente Pinto, na Praça Getúlio Vargas. Segundo Rodolpho, o seu avô Bernardo, já bastante idoso, contava nos encontros familiares aos netos e bisnetos, na Fazenda do Gavião, em Cantagalo, que esteve na Austrália e trouxe com todo cuidado, no seu jaleco, as sementes dos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas, mais ou menos em 1876 ou 1877. Foram plantadas pelo jardineiro, o “velho Maçard”, descendente dos primeiros colonos suíços. Essa informação valoriza ainda mais a história de nossa canônica catedral dos eucaliptos. É através dessas memórias que descobrimos a origem do nome de lugares que jamais poderíamos imaginar e que tornam a história algo sempre interessante. 

  • Foto da galeria

    Fundos do solar na praça Getúlio Vargas. Destaque para os tilhos do trem do bonde deucaville (Cortesia Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    Provavelmente o bonde herdado pelo sanatório dos Clemente Pinto (Cortesia Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    Rodolfo de Nova Friburgo no colo da avó (Cortesia Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    O Conde de Nova Friburgo (Cortesia Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    Trilhos de bonde deucaville na chácara do challet 1900 (Cortesia Janaína Botelho)

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.