Memória: os Spinelli

sábado, 31 de julho de 2010

Quando comecei a escrever em A VOZ DA SERRA intitulei a coluna de história e memória. História, por tratar das fontes tradicionais e memória para resgatar os acontecimentos do passado, narrada por indivíduos que foram testemunhas ou partícipes da história local.

A partir da segunda metade do século XIX, houve uma significativa imigração de italianos para Nova Friburgo. Entre as inúmeras famílias que migraram estavam os Spinelli, originários de Verona, a romântica cidade que serviu de ambientação da peça de Shakespeare, Romeu e Julieta. Os timoneiros desta família foram Luiz e Marieta Zuanazzi Spinelli, que chegaram ao Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1889 e depois de trabalhar algum tempo para o barão de Duas Barras, em Cantagalo, migraram para a florescente Nova Friburgo. Recordemos, entre 1881 e 1913, imigraram para o Brasil mais de um milhão e seiscentos mil imigrantes, sendo boa parte deles constituída por italianos.

Luiz Spinelli trabalhou inicialmente em serviços de aluguel de carroças, limpeza pública e na construção civil, tendo inclusive participado da edificação do palacete do barão de Duas Barras, hoje Faculdade de Odontologia, nas obras do Colégio Anchieta e do pavilhão de caça do visconde de Nova Friburgo, atualmente Sanatório Naval. Seu primeiro estabelecimento comercial foi uma padaria, a padaria Spinelli, hoje padaria Suíça. A partir de então, Luiz Spinelli, já auxiliado pelos seus onze filhos, fez com que os negócios da família Spinelli crescessem vertiginosamente até tornar-se uma grande holding em Nova Friburgo.

Os Spinelli foram proprietários de uma grande loja de departamentos, que funcionava no térreo do atual edifício Spinelli, na Praça Getúlio Vargas. Este prédio, o primeiro edifício da cidade, foi construído onde funcionava o outrora resplandecente Hotel Salusse. Vendiam na loja automóveis, material de construção, eletrodomésticos e tudo que a modernidade oferecia à época, como os primeiros aparelhos de rádio, geladeira e televisão. Dizia-se à época que se alguém fosse casar-se, os Spinelli forneciam tudo. Construíam a casa, faziam os móveis, vendiam os eletrodomésticos, enfim, forneciam tudo.

Os Spinelli possuíram o primeiro automóvel em Nova Friburgo e foram representantes da Ford, além de diversificarem seus negócios no ramo da carpintaria, transporte de cargas e passageiros e agropecuária. Foram os pioneiros na viação em Friburgo. A propósito, os Spinelli foram pioneiros em tudo. Trouxeram para Friburgo na década de quarenta o primeiro avião bimotor para transporte de passageiros. O campo de pouso situava-se onde hoje se localiza o Batalhão da Polícia Militar. Um serviço em que estamos hoje muito longe alcançar, Friburgo já o tinha no século passado.

De acordo com o senhor Nelson Spinelli, Nova Friburgo cresceu junto com os Spinelli. Impulsionaram as atividades de comércio, serviços e agronegócios na cidade, além de participar das atividades culturais, auxiliando os clubes sociais, como o Xadrez, modalidades esportivas, como o futebol, e o que foi mais importante, colocando Nova Friburgo na vanguarda em tudo que a modernidade oferecia nos primeiros anos do século XX.

Indubitavelmente, pode-se afirmar que o progresso de Friburgo coincide com o crescimento dos negócios dos Spinelli, de forma que se torna impossível separar a urbanização da cidade de um dos seus principais atores: a família Spinelli.

Fonte: Entrevista com o Sr. Nelson Spinelli.

Janaína Botelho é professora de História do Direito da Candido Mendes, pesquisadora e autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX. mjbotelho@globo.com

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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