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Memória das indústrias friburguenses – A Fábrica Ypu (Parte 3)
Um bairro surge ao redor da fábrica
Um bairro surgiu ao redor da fábrica, o bairro Ypu, outrora Sítio Ypu de propriedade de Maximilian Falck. Aumentou o número de residências ao seu redor, o comércio se ampliou e se diversificou. Tudo girava em torno da fábrica. Em 1938, a Fábrica Ypu se transformou em sociedade anônima aumentando o número de operários. Diversas ações foram realizadas e a fábrica passou a ser não apenas um local de trabalho, mas igualmente um espaço de sociabilidade.
Em 1944, foi inaugurada a Recreativa Ypu para atividades sociais e esportivas dos funcionários. Era um tempo em que a fábrica era a extensão dos lares dos operários, em que tinham ciúmes de suas máquinas e o apito da fábrica regia as atividades do bairro. Cada indústria tinha o seu time de futebol e grupos de atletas. A formação dessas equipes deu origem aos jogos olímpicos, conhecido como Jogos dos Industriários, que reunia todas as indústrias.
A Rendas Arp tinha, inclusive, uma enorme área de treinamento no coração do bairro Olaria para os atletas se exercitarem durante todo o ano. As modalidades aconteciam nas instalações esportivas das fábricas, no Campo do Friburgo e no hoje conhecido como Estádio Frederico Sichel. É bem possível que essas olimpíadas fossem uma estratégia para tirar o foco dos operários para o movimento sindical. De qualquer forma era um dos eventos mais importantes da cidade. Além da prática esportiva, os funcionários da Ypu tinham benefícios como assistência médica e dentária. Havia também em suas instalações um salão social com palco para teatro e projeções cinematográficas.
Em 1945, algumas residências foram construídas para os operários ao redor da fábrica constituindo a Vila Operária, uma prática comum entre as indústrias naquela época. O diretor de produção Emil Cleff residiu com a sua família dentro da fábrica em uma modesta residência. Lembrando que a comunicação na época era mais difícil e não havia serviço de ônibus entre os bairros até meados do século 20. Os operários se deslocavam por meio de bicicletas ou a pé para o trabalho. A Fábrica Ypu foi crescendo e se adaptando ao mercado.
Conhecida como a “fábrica de suspensórios”, como esse acessório masculino caiu em desuso, passaram a fabricar cinto de couro masculino para substituir esse produto. Instalaram, então, um curtume para curtir o próprio couro e passam a produzir uma linha de cintos com o nome de “Friburgo”, e a seguir carteiras para dinheiro. No balanço do ano de 1958, a fábrica contava com 1.026 operários e cerca de 90% da matéria-prima, antes importada, já era nacional. Podem ter tido problema no transporte das mercadorias com o fim da linha férrea em 1964, pois as estradas eram muito ruins.
Na década de 1970, a empresa investiu em equipamentos novos de bordados com máquinas importadas da Alemanha. Lembrando que a especialidade da fábrica era a confecção de passamanaria, sianinha, guipir, bordado inglês, bico de renda, cordão etc. Um restaurante com capacidade para oferecer três mil refeições diárias foi construído na década de 1970, época que a fábrica Ypu contava com aproximadamente 1.200 funcionários.
A empresa foi ampliando cada vez mais as suas instalações sendo autossuficiente em tudo, produzindo inclusive a embalagem de seus produtos no setor de cartonagem. Dispunha de oficina mecânica, carpintaria e chegou ao ponto de fabricar algumas máquinas da produção que antes eram importadas. Seu parque industrial tinha 44 mil metros quadrados de construção. Suas instalações tomam proporções tão imensas que atraía a atenção de quem chegava a Nova Friburgo.
Na próxima semana a última parte, “Na terceira geração, o declínio.”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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