Memória da velha Maria Fumaça

quarta-feira, 03 de maio de 2017

Em meados do século 19, Cantagalo era um dos maiores produtores de café do Brasil Império. Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo, era o mais exponencial produtor. Transportava o café em tropas de mulas, sendo um dos seus trajetos a descida pela Serra da Boa Vista, passando pela vila de Nova Friburgo. Havia grandes perdas de café no transporte feito por mulas, e por isso, o Barão de Nova Friburgo decidiu investir no que havia de mais revolucionário e moderno na época: a linha férrea. A Sociedade Anônima Estrada de Ferro Cantagalo, de sua propriedade, construiu a via férrea em três etapas: a primeira, de Porto das Caixas a Cachoeiras de Macacu; a segunda subindo a Serra da Boa Vista até alcançar a vila de Nova Friburgo e a terceira até Cantagalo, cujo ponto final foi a estação de Macuco.

O trecho inicial foi concluído no ano de 1860. A subida da serra, trecho mais trabalhoso e oneroso, foi executado por Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, filho do Barão de Nova Friburgo, que havia falecido. Esse segundo trecho foi inaugurado em 18 de dezembro de 1873, com a presença do Imperador D. Pedro II, e Bernardo Clemente Pinto, nessa ocasião, foi agraciado com o título de 2° Barão de Nova Friburgo. O terceiro trecho foi finalizado em 1876. Graças a linha férrea os lucros com a produção de café aumentaram significativamente e beneficiou não somente o Barão de Nova Friburgo mas igualmente os demais fazendeiros da região.

Alguns problemas entre os Clemente Pinto e o governo imperial fizeram com que a família perdesse a concessão. Em 1877, a Província do Rio de Janeiro encampou a Estrada de Ferro Cantagalo que passou a ser denominada de Estrada de Ferro Leopoldina. Uma das vantagens foi o trem de passeio e o trem misto, que iria permitir o transporte de passageiros. De quatro dias de viagem a partir do Rio de Janeiro, passou-se a fazê-la em seis horas até Nova Friburgo. Essa facilidade trouxe um enorme desenvolvimento ao município, que passou a receber muitos veranistas cariocas e do interior da província fluminense. Nova Friburgo se beneficiou igualmente com o ramal férreo de Sumidouro em fins do século 19. Seguindo por Sumidouro, passava-se por inúmeras estações até alcançar o estado de Minas Gerais. Isso facilitou o intercâmbio comercial entre friburguenses e mineiros.

Em 1898, a concessão da linha férrea passou a ser de capital inglês sendo denominada The Leopoldina Railway Company Limited. Em junho de 1935, a antiga estação de trem no centro da cidade é substituída por uma mais elegante, em estilo colonial. Em Nova Friburgo havia cinco estações de trem: a estação de Mury; no centro da cidade, onde está instalada a prefeitura; a de cargas, onde está estabelecido o 11° Batalhão da Polícia Militar; a de Conselheiro Paulino, que não existe mais, e que se situava em frente ao campo de futebol do pastão; e a de Riograndina, que abriga um Ponto de Cultura. Em razão de políticas equivocadas e atendendo aos interesses dos norte-americanos, as ferrovias foram sendo substituídas em todo o país por rodovias e o transporte feito por caminhões. Para grande tristeza dos friburguenses, a linha férrea foi desativada em 15 de julho de 1964. Podemos ver em uma imagem do acervo da Fundação D. João VI uma senhora se despedindo, dolorosamente, da velha Maria Fumaça. 

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    Estação de trem do século 19. Acervo Fundação D. João VI

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    Uma senhora se despede da velha maria fumaça. Acervo Fundação D. João VI

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    Em 1898, a linha férrea passou a ser de capital inglês

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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