Colunas
Memória da indústria – O industrioso Franz Ludwig Hepp
No princípio do século 20, as indústrias de empresários alemães que se instalaram em Nova Friburgo eram todas do ramo têxtil. Produziam ligas, suspensórios e passamanarias de um modo geral. Hans Gaiser foi o precursor da indústria metal mecânica no município com a produção de componentes para a construção civil. Em 1937, abriu a empresa Ferragens Haga fabricando chave, trinco, lingueta, gonzo e tranqueta. Em 1946, tal foi o seu crescimento que a Ferragens Haga se transformou em uma sociedade anônima passando para a razão social Ferragens Haga S.A.
Hans Gaiser morreu em 29 de setembro de 1952, e como perdera dois filhos de seu casamento com Selma Gaiser, não deixando herdeiros na linha reta descendente, seu patrimônio foi dividido entre os sobrinhos do casal. No entanto, Selma legou para o filho de sua irmã, Frederico Sichel, a pérola da herança: a indústria Ferragens Haga S.A. Para Dora Hepp, sobrinha consanguínea de Hans Gaiser, coube no quinhão hereditário um legado em dinheiro. A Ferragens Haga sob a administração de Frederico Sichel se desenvolveu de tal maneira que na década de 60, produzia componentes para motores, compressores, fechaduras e maçanetas para as indústrias automobilísticas de São Paulo. Além disso, fabricava peças para máquinas de costura e de escrever.
Apesar de Dora Hepp ter sido menos privilegiada na sucessão, se relacionava bem com Selma Gaiser. Com a herança recebida, o marido de Dora, Franz Ludwig Hepp investiu em sua própria indústria no local onde hoje funciona o Sesc Nova Friburgo. Ludwig Hepp se associou a Fette Indaço, empresa do grupo alemão Saarbergwerke formando a empresa Ferramentas Fette do Brasil Ltda, com o nome popular de Indaço. Instalou um dos mais importantes setores da tecnologia mecânica com a produção de ferramentas de corte de alta precisão. Simbolicamente inaugurou a fábrica em 1º de maio de 1978, Dia do Trabalhador.
A solenidade contou com a presença do governador do estado, Floriano Peixoto Faria Lima, do cônsul da Alemanha, de vários executivos alemães do grupo Saarbergwerke, diversos secretários de estado e de políticos locais. O jornal O Globo, de 1º de maio de 1978, deu destaque a importância da instalação de uma indústria de tecnologia de ponta em Nova Friburgo. A fabricação desse tipo de peça, entre os quais o de usinagem de engrenagens, era até então privilégio de países altamente industrializados como os Estados Unidos da América e de alguns países europeus.
Franz Ludwig Hepp investiu em máquinas consideradas as mais modernas no mundo fornecidas pela Wilhelm Fette S.A., da Alemanha. Com essa indústria, Nova Friburgo reforçava, juntamente com a Ferragens Haga, um lugar de destaque na indústria metal mecânica no país, contribuindo para o desenvolvimento da tecnologia nacional. A Haga e a Indaço formaram uma mão-de-obra especializada no setor metal mecânico de tal ordem que possivelmente incentivaram outras indústrias no mesmo ramo.
Em 1985, o município de Nova Friburgo abrigava diversas indústrias metal mecânica como a Iwega, a Torrington e a Eletromecânica. A discrição da família Hepp nos impede de saber mais sobre Franz Ludwig. Mas parece que teve posteriormente um sócio que o induziu a transferir a empresa para São Paulo, mais próxima do centro industrial do país. Essa transferência não foi uma boa estratégia, pois desde então a empresa entrou em declínio. Mas vale a pena registrar, ainda que com fontes modestas de informação, o papel de empresários como Franz Ludwig Hepp na formação de uma mão de obra especializada na atividade metal mecânica.
Hepp é um exemplo de industrial industrioso. Dentro desse quadro de memória da indústria, a partir da próxima semana escrevo uma série de três artigos sobre a “Fábrica Ypu, o avô fundou, o neto afundou”, baseadas em uma entrevista com Brigitte Madeleine Schultz.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário