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Mão de Luva e os Sertões do Macacu
Como parte das comemorações pelos 197 anos de fundação de Nova Friburgo, a historiadora Janaína Botelho a partir de hoje, e até o próximo dia 16 de maio, aniversário da cidade, traça alguns pontos importantes da trajetória do município nesta série de artigos a pedido de A Voz da Serra: da Coroa Portuguesa à chegada dos primeiros colonos suíços, do processo de industrialização com os demais povos europeus até a modernidade e os contrastes dos dias atuais. Confira.
O surgimento de Nova Friburgo é fruto do desdobramento de importantes acontecimentos nacionais. Em 1763, o Rio de Janeiro é erigido à capital do Vice-Reino e ocorre o deslocamento da estrutura administrativa da Bahia para esse município. Os Sertões do Macacu, hoje Centro-Norte fluminense, estariam mais próximos do centro político e administrativo colonial. O acesso a esses sertões por Minas Gerais era oficialmente interditado para que através dele não evadisse clandestinamente o ouro extraído naquela província. Porém, a queda da extração desse minério em Minas Gerais, no último quartel do século XVIII, acarretou a penetração clandestina de garimpeiros de Minas Gerais para os Sertões do Macacu, habitado tão somente por índios das tribos Coroados, Puris e Coropós. Denominava-se de sertões, por ser o interior do município de Santo Antônio de Sá, banhado pelo Rio Macacu, que compreendia as cidades que hoje são Itaboraí, Cachoeiras de Macacu, Magé, entre outros.
Assim, no final do século XVIII, os Sertões do Macacu são penetrados por garimpeiros em busca do ouro de aluvião, lascas de metal precioso que deslizam dos morros e se acomodam nos rios, no caso os rios Grande, Negro e Macuco. Ainda que proibida a penetração, um grupo de garimpeiros se instalou nos Sertões do Macacu aproximadamente em fins da década de 1770, sob a liderança do mulato bandoleiro Mão de Luva. A Coroa Portuguesa reprimiu essa ocupação irregular invadindo o arraial formado por Mão de Luva, prendendo-o, e a todo o seu bando. Em princípios de 1785, o Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos e Souza autorizou a ocupação e povoamento oficial daqueles sertões distribuindo sesmarias (terras) aos interessados na exploração do ouro. Iniciava-se com essa medida a ocupação oficial dos Sertões do Macacu. Os pretendentes às sesmarias e exploração legal do ouro deveriam habitar a região e possuir uma boa escravaria, condição essencial para obtenção de terras.
Instala-se uma estrutura administrativa para disciplinar o garimpo, distribuir as terras minerais e prover a cobrança de imposto. Como os Sertões do Macacu pertencessem ao município de Santo Antônio de Sá, devido à descoberta de ribeirões auríferos foi dele desmembrado, ganhando autonomia. Foi desse núcleo de povoamento que surgiria Cantagalo, erigida em 1814, precocemente, ao status de termo (município). Os primeiros anos foram de euforia, imaginando-se encontrar nos rios jazidas fartas. No entanto, logo perceberam que os ribeirões auríferos não eram tão profícuos como pareciam. Em Cantagalo, em 17 anos de mineração oficial, verifica-se apenas prejuízo aos sesmeiros. Por conseguinte, a Coroa Portuguesa desativou a estrutura administrativa que montara. Alguns mineradores abandonaram o garimpo e outros passaram a se dedicar à agricultura cultivando café, açúcar, lavoura branca (milho, feijão e arroz) e criação de gado. A Coroa Portuguesa, sempre ávida por metais preciosos, frustrou-se pelo fato de o Brasil não lhe ter dado o ouro e a prata que a sua rival Espanha arrancava de suas colônias. O sonho de uma nova Vila Rica nos Sertões do Macacu, como ocorreu em Ouro Preto, se esvaeceu. Continua amanhã com a matéria “A origem de Nova Friburgo.”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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