Langsdorff e a imigração alemã na Fazenda da Mandioca - Última Parte

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Na coluna anterior apresentamos o Barão Georg Heinrich Von Langsdorff. Cônsul-geral da Rússia no Brasil, era igualmente conselheiro do governo português para assuntos da colonização europeia. Em 1816, Langsdorff adquiriu na localidade de Inhomirim, em Petrópolis, a Fazenda da Mandioca, dando início a uma colônia agrícola com imigrantes alemães.

O descontentamento dos colonos gerou uma revolta e Langsdorff solicitou a José Bonifácio a anulação dos contratos assinados pelos imigrantes. Igualmente pleiteia o mesmo apoio dado aos colonos suíços de Nova Friburgo, assim como a transferência desses até a Fazenda da Mandioca. A questão da ida de alguns colonos suíços para Petrópolis ainda é nebulosa por falta de pesquisas.

Há inclusive um vídeo de história produzido pelo Senado Federal que narra que a Fazenda da Mandioca se localizava nos arredores de Nova Friburgo. Langsdorff estava interessado na colônia de suíços instalada no Morro Queimado. Entre os seus vários colaboradores estava o cartógrafo Néster Gravílovitch Rubtsov que elaborou, em 1822, a seu pedido, um mapa de sede da Vila de Nova Friburgo, dois anos após a sua fundação.

Nesse ano, a situação na Fazenda da Mandioca tinha melhorado um pouco. Langsdorff chegou a comunicar à Academia de Ciências de São Petersburgo que ele era o único fundador de uma promissora colônia europeia no Brasil. O curioso é que o interesse de Langsdorff foi tão somente na vila de Nova Friburgo, e não em seus arreadores e aspectos naturais.

Na planta, Rubtsov destacou as casas dos colonos, a casa de vivenda da Fazenda do Morro Queimado, as casas geminadas nas partes alta e baixa da vila e o quadrilátero de casas no entorno da Praça do Pelourinho, atual Marcílio Dias. Além dos poucos prédios, os rios da vila foram igualmente traçados, como os rios Santo Antônio, Cônego e o São João das Bengalas que se forma pela junção dos mesmos.

A vegetação e as montanhas parecem não ter tido importância já que Rubtsov faz apenas referências sutis. Graças a Langsdorff ganhamos uma planta da sede da vila. No entanto, a colônia agrícola com imigrantes alemães não foi adiante. A Fazenda da Mandioca foi desapropriada em 1826, e em seu lugar construída a Real Fábrica de Pólvora da Estrela. Mas o gênio incansável de Langsdorff tinha um projeto muito mais ousado. Viajou pelo interior do Brasil reunindo cerca de 300 mil itens representativos da natureza e do povo brasileiro.

Nas expedições científicas reuniu coleções etnográficas, herpetológicas, ornitológicas, taxidérmicas, amostras de minerais, coleções de plantas com cerca de 100 mil exemplares da flora tropical, centenas de objetos indígenas, mapas, documentos e desenhos das regiões por onde passava. Essas peças foram analisadas e comentadas em mais de mil páginas manuscritas com observações diárias dos membros da expedição sobre geografia, zoologia, comércio, estatística, economia, história, linguística, vias de comunicação, envolvendo mais de 300 cidades e 200 povoações do interior do país.

As anotações de sua expedição foram feitas em alemão com alguns trechos em latim, português, francês e inglês. Mas ocorreu uma tragédia com o jovem cientista. Durante a expedição científica que realizou nas matas do Mato Grosso, Pará e Amazonas ficou combalido pelas febres tropicais, perdendo a memória. Ficou completamente privado de sua sanidade mental e teve que regressar à Europa. Faleceu em 1852, com 78 anos de idade.

Os manuscritos, as iconografias e as amostras reunidas por Langsdorff foram remetidas para a Rússia, onde ficaram depositados por mais de 100 anos no porão da Academia de Ciências de São Petersburgo. Após décadas de rogativas de intelectuais brasileiros para liberação desse material junto ao governo russo, tivemos acesso ao acervo somente a partir 1987, mesmo assim com restrições.

A escola de samba Estácio de Sá, em 1994, teve como enredo “Langsdorff, um delírio na Sapucaí”, homenageando aquele que foi o cientista que melhor retratou a nossa natureza, população e cultura.   

  • Foto da galeria

    Em 1822, o cartógrafo Rubtsov elaborou um mapa da Vila de Nova Friburgo

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    Litografia da Expedição de Langsdorff

  • Foto da galeria

    Serra da Estrela, a caminho da Fazenda da Mandioca

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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