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Langsdorff e a imigração alemã na Fazenda da Mandioca - Parte 1
Em 1818, Dom João VI iniciou tratativas com a Confederação Helvética, atual Suíça, para receber imigrantes suíços no Brasil. Esses imigrantes teriam direito a lotes de terras e se dedicariam ao cultivo de alimentos e à criação de gado leiteiro. O acordo se efetivou e os imigrantes suíços chegaram ao Brasil entre o final de 1819 e o início do ano seguinte. Foi criado naquela ocasião o termo de Nova Friburgo para abrigar um núcleo de colonos.
Anos depois, integrariam esse núcleo imigrantes alemães, que chegaram à vila serrana em 1824, com as mesmas relações contratuais que os suíços. Foram agentes desses imigrantes, Sebastian Nicolas Gachet, em relação aos suíços e George Von Schäffer, em relação aos alemães. Nessa ocasião, ocorria paralelamente um projeto de assentamento de imigrantes por iniciativa do naturalista alemão, naturalizado russo, o Barão Georg Heinrich Von Langsdorff.
O barão chegou ao Brasil em 1803, e dez anos depois se tornou cônsul-geral da Rússia no país. Era igualmente conselheiro do governo português para assuntos da colonização europeia. Falava fluentemente sete idiomas, entre eles, o português. Em 1816, quatro anos antes da fundação de Nova Friburgo, Langsdorff adquiriu na subida da Serra da Estrela, na localidade de Inhomirim, em Petrópolis, a Fazenda da Mandioca, para dar início a um projeto de criação de uma colônia agrícola com imigrantes alemães.
Quando adquiriu a Fazenda da Mandioca, Petrópolis era tão somente a Fazenda do Córrego Seco. Em seu projeto, Langsdorff introduziria técnicas agrícolas e industriais europeias e um modelo de trabalho livre e remunerado em substituição ao trabalho escravo, para servir de modelo no país. Além da implantação de uma colônia agrícola com imigrantes alemães preparava uma grande expedição exploratória pelo interior do Brasil. Nesse último caso, recebera apoio financeiro do governo russo.
No entanto, para a colônia agrícola, não obstante inúmeros pedidos de ajuda financeira às autoridades nacionais, teve que colocar recursos próprios usando uma herança legada por seu tio. Langsdorff recebeu no grupo de imigrantes alemães agricultores, artesãos, marceneiros, carpinteiros, construtor de moinho, ferrador, carvoeiro, pedreiros, alfaiate, saboeiro, cirurgião e guarda-livros.
Por questões disciplinares, alguns foram excluídos ainda no porto do Rio de Janeiro. Dos 94 imigrantes que desembarcaram, apenas 85 se dirigiram para a Fazenda da Mandioca. Adepto da policultura havia na propriedade plantações de mandioca, café, milho, batata, índigo e noz moscada. Modernizou os engenhos de farinha e milho e construiu olarias.
Na Fazenda da Mandioca ele manteve uma valiosa biblioteca de história natural, um museu de nossa fauna e flora e um Jardim Botânico. Dom Pedro I visitou a Fazenda da Mandioca assim como diversos viajantes e cientistas. Saint-Hilaire conheceu essa propriedade e anotou que "é impossível encontrar um lugar onde um naturalista faça mais belos trabalhos. Langsdorff não pode deixar de ficar célebre na História do Brasil".
O pintor alemão Johann Moritz Rugendas retratou a Fazenda da Mandioca e o agente Schäffer, que como disse antes trouxe imigrantes alemães para Nova Friburgo, igualmente visitou a fazenda. Ao mesmo tempo em que se dedicava a administração da colônia agrícola, Langsdorff mantinha suas atividades como cônsul, aos seus estudos científicos e preparava o maior projeto de sua vida, a expedição científica ao Mato Grosso, Amazônia, Pará, Peru e Venezuela.
Parece-nos que esse foi o seu erro, ter tantas atividades ao mesmo tempo. Possivelmente em razão de sua pouca dedicação à colônia agrícola em sua fase inicial, ocorreu um descontentamento entre os colonos alemães culminando com a falta de disciplina e até mesmo rebeldia. Em uma correspondência enviada a José Bonifácio, Langsdorff informou-o sobre a revolta e solicitou ao primeiro-ministro a anulação dos contratos assinados pelos imigrantes. Igualmente fez uma solicitação para a transferência de colonos suíços estabelecidos em Nova Friburgo para a Fazenda da Mandioca.
Continua na próxima semana.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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