Imigração italiana: prosperidade na cidade, miséria no campo - 24 de novembro 2011

sexta-feira, 06 de abril de 2012

A imigração foi um dos traços mais importantes nas mudanças socioeconômicas ocorridas no Brasil a partir das últimas décadas do século XIX. Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros entraram no Brasil entre 1887 e 1930, com os italianos formando o grupo mais numeroso (35,5% do total), vindo a seguir os portugueses (29%) e os espanhóis (14,6%). Em decorrência da forte demanda de força de trabalho para a lavoura do café, o período de 1887 a 1914 concentrou o maior número de imigrantes, com aproximadamente 2,74 milhões de pessoas. Os italianos, mais uma vez, constituíram o principal agrupamento nacional a fornecer mão de obra para a economia cafeeira. A mobilidade social ascendente dos imigrantes nas cidades é inquestionável, como atesta seu êxito em atividades comerciais e industriais, informa-nos o historiador Boris Fausto. E foi exatamente isso que ocorreu, comparando-se os italianos que imigraram para Nova Friburgo em relação aos que se deslocaram para o Centro-Norte Fluminense.

Os que imigraram para essa região para trabalhar nas plantações de café, raramente prosperaram. Imigraram para o Centro-Norte Fluminense os Zagni, Bianchini, Pietrani, Bolorini, Temperini, Boquimpani, Stanísio, Topini, Chimini, Polloni, Topini, Broglia, Montechiari, Angelis, Giampaoli, Latini, Storani, Tambesi, Baldoni, Forconi, Tacconi, Cimini, Pianesi, Bartola, Moriconi, Lelli, Temperini, Fratani, Badini, Sagretti, Talarico, Castricini, Pietrani, Bonan, Bollorini, Campagnucci, Bochimpani, Margaratini e Segalotti. A maioria desses italianos vieram na condição de colonos e ficaram reduzidos à mesma condição social e econômica de um caboclo. No entanto, se observarmos os italianos que, ao fim do século XIX, imigraram para Nova Friburgo, percebemos que, ao contrário, boa parte deles prosperou economicamente, atuando em diversos ramos industriais, comerciais e de prestação de serviços. Presume-se que os núcleos urbanos ofereciam melhores condições de ascensão social do que o campo. No caso dos Spinelli, Luiz e Marieta Zuanazzi Spinelli chegaram ao Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1889, e depois de trabalharem algum tempo para o Barão de Duas Barras, em Cantagalo, migraram para Nova Friburgo. Luiz Spinelli trabalhou inicialmente em serviços de aluguel de carroças, limpeza pública e na construção civil. Seu primeiro estabelecimento comercial foi uma padaria e a partir de então, Luiz Spinelli, já auxiliado pelos seus onze filhos, fez com que os negócios da família Spinelli prosperassem até tornar-se uma grande holding em Nova Friburgo.

Já outros italianos que imigraram para Nova Friburgo aparentavam ser mais remediados, a exemplo de Giovanni Giffoni. Alfaiate por oficio, Giffoni era proprietário de um grande estabelecimento comercial denominado “Vesuvio”, um armazém de secos e molhados, do Café Colombo, de um bilhar na Praça 15 de Novembro (Getúlio Vargas), além de ser importador e representante de vinhos italianos. Também possuía outras propriedades, como uma fazenda de café e residia em uma das residências mais elegantes de Nova Friburgo. Em 1892, conseguiu a concessão do serviço de iluminação pública a gás, remoção do lixo e limpeza da cidade. Em outubro de 1893, chegou a requerer a concessão da iluminação pública e particular por meio de luz elétrica. Já Fernando Bizzotto, natural da cidade de Pádua, era “cidadão que pelo seu esforço próprio, sua dedicação ao trabalho e honestidade, atingiu alto grau de prosperidade e consideração que desfruta no seio da sociedade friburguense”, assim o descreveu o periódico O Nova Friburgo. Vindo para o Brasil em 1884, Bizzotto estabeleceu-se na Rua Gal. Osório com oficina de carpintaria e serralheria. Na seção de serralheria fabricava fogões “econômicos”, marquises, portas de aço, caixa d’água, portões e gradis. Já na seção de carpintaria fabricava esquadrias, “carros”, carroças e móveis. O italiano Raspatini chegou a patentear um tipo de cimento para a construção civil.

Além de obterem concessões de obras e serviços públicos, como os de limpeza, iluminação a gás e construção civil, alguns imigrantes italianos ocupavam posição política como vereadores na Câmara Municipal. Por outro lado, incrementavam as atividades culturais na cidade, sendo as Sociedades Musicais Recreio dos Artistas e Campesina, praticamente mantidas por italianos. Alguns, no entanto, dedicaram-se à agricultura em Nova Friburgo. Uma boa parte deles foi trabalhar como lavrador em Sebastiana, e há igualmente o registro de italianos no povoado de São Pedro, distrito de Nova Friburgo. Os que imigraram para Sebastiana (estrada Friburgo-Teresópolis) parecem ter se dedicado à fruticultura. Logo, percebe-se que os italianos que imigraram para Nova Friburgo e trabalharam como prestadores de serviço, comerciantes e até mesmo como agricultores tornaram-se afortunados. Já os que foram trabalhar como colonos no Centro-Norte Fluminense não prosperaram. Concluiu-se que os núcleos urbanos, ainda que incipientes à época, ofereciam muito mais oportunidades do que o campo, corroborando com o escreveu Boris Fausto de que a ascensão social dos imigrantes nas cidades é algo inquestionável.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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