Imigração em Friburgo: franceses, espanhóis e árabes

sábado, 31 de julho de 2010

Não posso me furtar a estabelecer um diálogo com a matéria “Nova Friburgo e sua porção francesa”, elaborada por Girlan Guilland, secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Friburgo. A matéria é uma espécie de “considerações preliminares” para justificar o decreto n°179/2009, em que o município passa a reconhecer a influência francesa na sua formação social e na história local. Ao ler a matéria, publicada em A VOZ DA SERRA no dia 14 próximo passado, nos convencemos de que a bandeira da França, realmente, deve ser colocada no panteão entre as outras nações, formadoras de nosso município. Como já possuía em meus alfarrábios alguma coisa sobre o assunto, ei-lo para corroborar com a justificativa de tal inclusão. Imigraram para o Brasil, entre 1881 e 1913, mais de um milhão e seiscentos mil imigrantes. Uma parcela destes imigrantes veio para o estado o Rio, espalhando-se por suas regiões. Havia no estado do Rio, em 1892, 54.148 indivíduos que se declararam estrangeiros e, na matéria de hoje, analisaremos os franceses, espanhóis e árabes. O jornal O Friburguense relata que havia “grande número de estrangeiros especialmente portugueses, italianos, espanhóis e franceses” em Friburgo, no final do século XIX. Vejamos estes números.

Dos que imigraram, segundo o levantamento de 1892, os espanhóis aparecem em terceiro lugar em imigração(3.834), os franceses em sexto (1.087) e os árabes não aparecem no censo. Mas sabe-se por outras fontes, como os jornais, que Friburgo recebeu um contingente de árabes no final daquele século. Eram denominados turcos, tendo se ocupado no comércio local. O clube Xadrez e o antigo Cinema Leal, em estilo mourisco, pode ter sido influência dos árabes em Friburgo.

Os espanhóis migraram para as regiões norte fluminense (777), serrana(714), Médio Paraíba(669) e Centro-Sul Fluminense (669). Na região serrana, Friburgo foi a que mais os recebeu (304), seguida por Petrópolis (194). Foram para cidades como Campos (347), Macaé (286), Resende (247) e a favorita de todas elas, Paraíba do Sul (476).

Com relação aos franceses, migraram preferencialmente para as regiões norte fluminense (351) e serrana (393). Campos foi a cidade preferida pela maior parte deles (293) e na região serrana, Petrópolis (266) e Friburgo (98). É significativo que Friburgo já possuísse no terceiro quartel do século XIX, uma representação do consulado francês, cujo agente era Auguste Maulaz. Na Rua do Chateau, há referência de que lá residia “o francês” Nicolau Leglay. Havia um anúncio no jornal O Friburguense de assinatura de um periódico francês, Ecos da França, denotando que haveria uma presença de franceses na cidade. Discretos, eram proprietários de um comércio mais sofisticado para atender aos abastados veranistas que vinham para Friburgo na estação calmosa. Na Praça Paissandu, existia a Charcuterie Française, de propriedade de Felix Besnard. O requintado estabelecimento de embutidos vendia boudins, saucisses, crepinettes, patè d’Italie, patè de foie de canard, patè de Pithuiers, langues fourrèes, rillettes de tours, patè de Ruffec, tripés à la mode de Caen, saucissous de Lyon e Arles, preparation de jambons façon, westphalie york, glaces, galantine truffèe, linguiças, salpicões, morcelas e salames. Mas que delícia de cidade, hein!

Logo, nesta Babel de línguas e mosaico de culturas, não podemos menosprezar os cidadãos da terra de Cervantes, Vitor Hugo e dos pais da medicina, os árabes, na construção de Nova Friburgo. Fonte: Centro de Documentação Pró-Memória de N.F.Para conhecer a história de Friburgo, visite o site www.djoaovi.com.br.

Janaína Botelho é professora de História do Direito da Candido Mendes, autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX.

mjbotelho@globo.com

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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