A história da maçonaria em Nova Friburgo

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fazer parte de um grupo e identificar-se através dele é uma necessidade humana. Na história da humanidade houve muitos grupos e alguns se transformaram em sociedades secretas. E quando falamos de sociedades secretas, a maçonaria é citada com frequência como a organização mais emblemática dessa categoria. Nenhuma outra parece ter suscitado tantas controvérsias desde a sua criação. Antes de organizar-se nos moldes que conhecemos hoje, a maçonaria passou por um longo processo de transformação. A maçonaria teria sua origem nas corporações dos construtores de catedrais, em meados do século 13. Séculos depois passou a admitir pessoas não vinculadas ao ofício da construção. Desde então, as lojas maçônicas tornam-se um local de aperfeiçoamento moral e intelectual.

O modelo de maçonaria tal qual conhecemos hoje, na realidade, surgiu no século 18, na Escócia. As lojas maçônicas se expandiram para a Inglaterra até alcançar vários países na Europa e na América. Os símbolos da maçonaria provêm, em grande parte, dos utensílios empregados pelos pedreiros: o esquadro, associado à retidão moral; o compasso, sinônimo da medida que todo maçon deve demonstrar em sua vida; a colher de pedreiro, para estender o cimento do amor fraterno; e a marreta, que lembra a necessidade de se libertar das paixões e futilidades da vida. Pode-se acrescentar ainda a pirâmide, o olho da providência, as colunas de Salomão e o piso de mosaico, que marca a luta entre o bem e o mal, ou a alternância entre o dia e a noite.

No Brasil, chega em princípios do século 19 e Nova Friburgo recebeu uma das primeiras lojas maçônicas. Curiosamente foi o padre Jacob Joye, guia espiritual dos colonos suíços quem fundou a maçonaria na vila da Nova Friburgo. Qual teria sido a razão para o padre Joye criar uma loja maçônica em tão pacata vila, antes mesmo da importante Cantagalo? Possivelmente para criar uma instituição que auxiliasse os colonos suíços já que a administração colonial havia sido extinta em 1831. Ficando os suíços desde então sob a administração da Câmara Municipal provavelmente o padre Joye viu na maçonaria uma forma de prover e amparar os colonos.

Sabemos que a relação entre a Igreja e a maçonaria nunca foi das melhores, o que torna ainda mais intrigante o fato de um padre ser um dos fundadores da maçonaria em Nova Friburgo. A cidade teve duas lojas maçônicas: Loja Maçônica Indústria e Caridade, fundada em 1839 e a Loja Maçônica Ísis, fundada em 1876. Em 1926, as duas lojas se unificaram.

Como era Nova Friburgo quando a maçonaria se instalou nessa vila? Era uma modesta freguesia e duas de suas principais freguesias produtoras de café como a de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer e de São José do Ribeirão ainda não tinham sido anexadas. A vila dependia economicamente dos tropeiros que vinham das fazendas de Cantagalo transportando café e outras mercadorias. A maçonaria participou de inúmeros movimentos sociais em Nova Friburgo: recomendava que seus membros não tivessem escravos; angariava fundos para libertação de cativos, notadamente de mulheres e de crianças; participou da Revolução de 1930; expulsou nazistas de seus quadros e apoiou o golpe militar de 1964.

A partir do momento em que a loja maçônica Indústria e Caridade disponibilizar para pesquisa suas atas do século 19, muito será revelado sobre a história de Nova Friburgo. Como se instalaram em 1839, apenas duas décadas depois da criação da vila de Nova Friburgo, suas atas são uma fonte valiosíssima para os historiadores. Essas atas lançarão luz sobre a história da cidade, principalmente pelo fato dessa instituição ter participado ativamente no processo de abolição da escravidão, da Revolução de 1930 entre outros fatos históricos em Nova Friburgo.

São atualmente quatro lojas maçônicas em Nova Friburgo: Indústria e Caridade, Independência de Nova Friburgo, Professor Oscar Argolo e Jacques de Molay. Essa última tem uma particularidade: congrega tão somente jovens na idade entre 12 e 21 anos. Ao longo da história, muitos políticos importantes nacional e internacionalmente, integraram na fraternidade dos maçons. Essa circunstância abriu brechas para que os amantes das teorias conspiratórias especulassem sobre as influências desta sociedade secreta. Apontada frequentemente como a mais misteriosa de todas as sociedades, a maçonaria, afirmam os seus membros, não é secreta, mas tão somente, discreta. A todos os leitores de A VOZ DA SERRA! Um feliz 2016!

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    Prédio da Maçonaria (Cortesia: Janaína Botelho)

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    Encontro da Maçonaria Indústria e Caridade em Nova Friburgo (Cortesia: Janaína Botelho)

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Janaína Botelho

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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