As furiosas bandas de música

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Prática cultural presente no cotidiano da cidade é difícil imaginar um evento em Nova Friburgo, no final do século 19, que não tivesse a presença das bandas de música tocando retretas, polcas, mazurcas e schottisches.

Muito diferentes das bandas de hoje que se limitam a execução em espaços fixos, as bandas de outrora tinham mobilidade, circulavam pelas ruas da cidade e participavam desde os acontecimentos mais importantes, como datas cívicas, até os mais simplórios.

A passeio percorriam as bandas tocando dobrados e retretas pelas ruas da cidade, principalmente, aos domingos. Estavam presentes nos momentos de alegria, como celebrações de casamentos, aniversários, homenagens, leilões, circos, passeios campestres, procissões religiosas, carnaval, teatro e soirées como também de tristeza, como no caso dos funerais.

Nos acontecimentos mais banais da cidade, lá estava a banda de música, seguindo o cortejo, sempre pontuando os acontecimentos, sempre presente nas sociabilidades. Das soirées mais elegantes como no mais popular dos bailes não havia um momento em que não houvesse a presença das furiosas abrilhantando o evento. Eram prestigiadas por todas as classes sociais. Seus estandartes eram bentos pelo cônego da cidade.

A banda de música é uma prática cultural herdada da colonização portuguesa. A charamela foi um instrumento europeu trazido por portugueses muito utilizados pelos escravos, os charameleiros, que formavam geralmente ternos e quaternos de charamelas, agrupamentos muito comuns em Portugal no século 17 e que se multiplicaram pelas fazendas e vilas do interior do Brasil.

Tudo indica que no Brasil os conjuntos de charameleiros negros foram os antecessores das bandas de música tal como a conhecemos hoje. Manter um conjunto musical era para os fidalgos, sinal de abastança e bom-tom, à maneira das cortes europeias. Há ainda a referência às antigas bandas de barbeiros formadas por africanos libertos. No Brasil colônia, fazendeiros mantinham bandas formadas por escravos para entreter seus convidados, sendo considerado um indício de civilidade do anfitrião.

O Barão de Nova Friburgo foi o primeiro patrono e mecenas da sociedade musical Euterpe. Parece-nos que os imigrantes italianos teriam sofisticado o repertório executado nas retretas das praças públicas. Trechos de óperas italianas com suas árias, duetos, cavatinas, fantasias, entre outros, tornaram-se os gêneros de preferência das bandas que os abrigaram.

Os alemães também possuem tradição em bandas e influenciaram no surgimento de algumas delas no Brasil. Em Nova Friburgo, os alemães influenciaram na formação da Sociedade Musical Lumiarense. No final do século 19, havia quatro sociedades musicais no perímetro da cidade: Euterpe, Campesina, Estrela Friburguense e Recreio dos Artistas. O distrito de Lumiar possuía duas bandas, a Sociedade Musical Euterpe Lumiarense e o Clube Musical Quinze de Novembro, em São Pedro da Serra.

A maior parte destas bandas extinguiu-se, restando a Euterpe, a Campesina e a Sociedade Musical Euterpe Lumiarense. Diferentemente do que ocorre hoje, em que as bandas necessitam de subsídio oficial do município para manutenção de suas atividades, as bandas no passado viviam de recursos próprios. Bailes, casamentos, aniversários, picnics, teatro, circo, soirées, leilões, procissões, funerais, comícios políticos, homenagens, carnaval ou em um passeio banal lá estavam as furiosas presentes em todas as formas de sociabilidade de Nova Friburgo.

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    As bandas de música tocavam retretas, polcas, mazurcas e schottisches

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    Não havia um momento em que não houvesse a presença das bandas abrilhantando um evento na cidade

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    As bandas de música forneciam bons músicos para os bailes de carnaval da cidade

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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