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Fazenda Conceição do Pinheiro
Duas Barras possui muitas fazendas históricas do ciclo do café, e nessa ocasião, pertencia a Cantagalo. Fui visitar uma delas, a Fazenda Conceição do Pinheiro. Banhada pelos rios Negro e Macuco, esse recurso hídrico movia os engenhos das fazendas trazendo-lhes produtividade, pois a energia das máquinas vinha da água. Essa propriedade possuía abastecimento de energia elétrica própria com uma cachoeira que produzia cerca de 100 HP. Um açude distribuía a água canalizada do Rio Negro para o engenho, a sede e demais áreas de serviço.
Como a demanda pelo café no comércio internacional passou a ser maior do que o açúcar, a partir de 1840, os fazendeiros do Centro-Norte fluminense foram migrando da lavoura branca para o cultivo do café. Na Fazenda Conceição do Pinheiro não foi diferente. Fica bem próxima da Vila de Duas Barras, tendo sido propriedade de José de Aquino Pinheiro, o Barão de Aquino. Nascido em 7 de março de 1837, na Fazenda Ribeirão, era filho de família tradicional. Seu pai, o tenente-coronel Joaquim Luiz Pinheiro, de origem portuguesa, recebeu os títulos de Barão do Paquequer e depois Visconde de Pinheiro. O Barão de Aquino casou-se com a sua prima Rita Luiza Ribeiro e teve 15 filhos, dos quais oito sobreviveram. As obras da casa-sede da Fazenda Conceição do Pinheiro foram concluídas em 1880. Geralmente as fazendas de café formavam um conjunto com a casa-sede, terreiro de café, senzala, armazéns e as casas das máquinas denominadas de engenho. Uma característica comum a essas unidades produtivas é que as edificações ficam em torno do terreiro de café, área onde ocorre a primeira fase de beneficiamento desse produto, permitindo ainda uma visão das plantações nas encostas dos morros que cercam a propriedade.
A vida material e o cotidiano das pessoas no passado é sempre algo curioso. O que se comia nessa época? A carne de porco era a mais consumida. O milho era moído na pedra de mó para fazer a farinha de fubá para o angu ou a milharina da canjiquinha. A farinha de mandioca, chamada de “paiol debaixo da terra”, era a base da alimentação de todos, sendo consumida com feijão preto. Já a batata doce acompanhava o café adoçado com rapadura. Na roça, o almoço era às nove horas da manhã. O café do meio-dia podia ser acompanhado de batata doce, inhame, mandioca, angu frito ou broa de milho ou de inhame. Jantava-se às três horas da tarde e antes de deitar fazia-se uma ceia.
Na doença, a horta com plantas medicinais era a farmácia. No final do século 19, muitos fazendeiros de Cantagalo faliram em razão da falta de mão de obra provocada pelo fim da escravidão. Outro motivo da crise eram os cafezais pouco produtivos em razão da falta de tratamento e adubagem das terras ao longo de décadas. Penhoradas, muitas fazendas foram sendo vendidas em hasta pública ou ainda a particulares. O Barão de Aquino não escapou da crise. Faleceu em 1921, aos 84 anos de idade, na Fazenda Santa Mônica. Um ano depois de sua morte a Fazenda Conceição do Pinheiro foi vendida a Regino Monnerat. A crise de 1929 provocada pela superprodução de café foi a pá de cal para o fim do plantio desse produto nessa propriedade e nas fazendas do Centro-Norte fluminense. Os estoques de café do governo foram queimados ou lançados ao mar, sendo ainda proibida a formação de novas lavouras. Os fazendeiros foram incentivados pelo governo a arrancar os pés de café.
A partir de então, a migração para a atividade econômica da pecuária alcançou todas as fazendas dessa região. A economia de Duas Barras e de todo o Centro-Norte fluminense se consolida com a pecuária leiteira, com apenas alguns produtores de gado de corte. A boa notícia é que o proprietário da Fazenda Conceição do Pinheiro resolveu abrir a visitação desse importante patrimônio histórico. Com isso, teremos a oportunidade de um passeio turístico que envolverá história, música, gastronomia e um delicioso momento de lazer. O responsável pelo tour é Edson Machado, presidente da Fundação Martinho da Vila. O visitando desfrutará não somente da belíssima paisagem rural, mas igualmente poderá sentir de perto a atmosfera de uma antiga fazenda de café de um dos momentos históricos mais importantes de nossa região: o período do Império.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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