Colunas
Família Sanglard, os caçadores de javali - Parte 1
O nome de família vem de tempos remotos. No francês arcaico Saingliard ou Sangliard significa caçadores de javali, atividade pelo qual ficou conhecida a família. Os Sanglard são imigrantes suíços que chegaram a Vila de Nova Friburgo em 9 de dezembro de 1819, em um dos diversos navios que traziam muitos outros, fruto de um acordo de imigração entre o Rei D. João VI e a Confederação Helvética, atual Suíça.
No livro “Família Sanglard, Suíça-Brasil” de Pedro Elias Erthal Sanglard, o autor nos informa que são naturais de Cornol, Cantão do Jura. O patriarca, Mathieu Sanglard, nascido no ano de 1777, era fabricante de cerâmica. Enfrentando dificuldades financeiras e figurando na lista de indigentes, resolveu emigrar com a família para o Brasil. Casado com Thérèse Fegatte tinha quatro filhos, sendo eles Conrad, nascido em 1807, Gottfried, nascido em 1809, Catherine, nascida em 1811, e François Xavier, nascido em 1813.
Nos “Números Coloniais” ocuparam um lote juntamente com as famílias de Conrad Girard e Villette, havendo com a primeira um vínculo de parentesco, totalizando 18 pessoas na família artificial. Eram distribuídos dessa forma pelo fato de o número de imigrantes ter ultrapassado em muito o esperado pelo Governo Geral e daí a colocação nos lotes de duas ou três famílias orgânicas, formando uma família artificial. A numeração dos lotes era de 1 a 120, e foram distribuídos inicialmente somente 100, ficando 20 de reserva.
O pesquisador Pedro Sanglard nos informa que os “Números Coloniais” formavam um retângulo de 19.800 por 6.600 metros, num total de 130.680.000 metros quadrados. Situados a leste da vila, tinha início na Pedra do Cônego e finalizava em São Pedro da Serra. O lote que coube aos Sanglard se situava onde hoje é a localidade do Stucky, no distrito de Mury. Lembrando que Mury foi o lote da família suíça Murith, sofrendo uma corruptela no nome. O quinhão de terras que coube as três famílias tinha 300 x 750 braças, ou seja, 660 metros de frente e fundos por 1.650 metros nas laterais, com área de 108 hectares, ou seja, 1.089.000 metros quadrados. A região é cortada pelo rio Ribeirão do Capitão.
Além dos lotes de terra, os imigrantes receberam sementes, subsídios por um período, assim como isenção de impostos por determinado tempo. O casal Mathieu e Thérèse Sanglard, considerando os padrões da época, chegam ao Brasil com uma idade avançada, ele com 42 anos e ela com um ano a mais. Seus filhos tinham idade variando entre 6 e 12 anos. Conrad, o primogênito, tinha 12 anos e François, o mais novo, 6 anos apenas.
Com três filhos homens ainda crianças foram difíceis para Mathieu os primeiros anos na lida do campo, que exigia inicialmente a derrubada da mata e atividade agrícola exige muito esforço físico. Teriam adquirido um escravo? Nessa ocasião não eram caros e mesmo os mais pobres poderiam tê-los, o que se denominou pelos historiadores de “escravidão miúda”.
Três décadas depois sabemos que assim o fizeram. O patriarca Mathieu Sanglard faleceu poucos anos depois de sua chegada a Nova Friburgo, em 1825, com 48 anos de idade, deixando viúva e quatro filhos. Sua esposa Thérèse morreu 25 anos depois. Conrad Sanglard casou-se com Maria Viccencia Parchet e seu irmão François Xavier contraiu núpcias com Joanna Parchet, irmã de sua cunhada.
Era muito comum à época esse tipo de aliança matrimonial em que irmãs se casavam com irmãos, visando a manutenção do patrimônio em um ciclo familiar bem restrito. Conrad muda-se com a família para a localidade de Penna, na ocasião Cantagalo, atualmente município de Cordeiro. François recebeu do sogro, como herança, uma chácara com 2.500 pés de café e possivelmente seu irmão igual quinhão, o que denota como esses imigrantes, através de alianças matrimonias, começaram a ascender socialmente. Continua na próxima semana.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário