Colunas
A Família Erthal - O café é o negro e o negro é o café
Quem passa por Bom Jardim avista da estrada seus morros cobertos por pés de café. Todas essas plantações e muitas outras que a vista não alcança pertencem à família Erthal. Entrevistei o sr. Aloísio dos Santos Erthal e sua esposa, Maria das Dores Monnerat Erthal, assim como um dos filhos do casal Miguel Erthal, responsável pela administração de nove fazendas de café da família.
O patriarca Joseph Erthal nasceu em 1760, em Baden, na Alemanha ainda não unificada. Veio em 1824 para Nova Friburgo, juntamente com outros colonos alemães, para tomar posse nas datas de terras abandonadas anteriormente pelos colonos suíços. Casou-se com a conterrânea Anna Bárbara Muller, deixando vasta descendência. Foi trabalhar como ferreiro e fez um bom pecúlio com esse ofício que lhe permitiu adquirir uma propriedade agrícola, passando a plantar café. Faleceu em 1836, e desde então, a partir das gerações seguintes, os Erthal continuaram a prosperar.
O café, subidor de morros e montanhas fez durante o período do Império a fortuna dos fazendeiros do Vale do Paraíba. A economia do Brasil durante séculos foi baseada na monocultura, na mão de obra escrava e na venda para o mercado externo. Passou pelos ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do ouro e finalmente o café, no século 19. A família Erthal é a maior produtora de café do Estado do Rio. Além do mercado interno, com o café bom-jardinense, exporta para um distribuidor e seu produto é consumido em diversos países do mundo.
No Brasil Império os fazendeiros contavam exclusivamente com a mão de obra escrava. A partir do fim do tráfico intercontinental de escravos, em 1850, colonos europeus, principalmente italianos e portugueses, vinham sendo cooptados para substituir o trabalho cativo nas lavouras de café. O café é o negro e o negro é o café. Esse era o paradigma dos fazendeiros no Império e com o fim da escravidão ocorreu uma verdadeira desorganização do trabalho no país.
Segundo Miguel Erthal, seu tataravô, Joseph Erthal, e seus descendentes utilizaram o trabalho escravo em suas fazendas. Com a abolição da escravidão, trabalharam com colonos meeiros. Atualmente tem alguns trabalhadores fixos e formalizados, mas de um modo geral trabalham com sistema de “turmas” para tratar e colher o café, diferentemente do restante dos agricultores do país que trabalham com sistema de parceria.
Ainda segundo ele, no estado do Rio de Janeiro ninguém mais quer plantar café, contribuindo essa federação atualmente com apenas 0,3% do que é produzido em todo o território nacional. Enquanto no Brasil são produzidas em média entre 51 a 52 milhões de sacas, o estado fluminense participa tão somente com 150 mil. Comprar uma fazenda de café é o mesmo que casar com uma mulher feia, conclui Miguel Erthal.
No exterior, o Brasil está competindo na produção desse produto com países como a Índia, Vietnã, Colômbia, Guatemala e Honduras que utilizam a mão de obra semiescrava. Considerando que a mão de obra representa 60% do custo do café, a competitividade no mercado internacional está cada vez mais difícil já que no Brasil, ao menos no Sudeste e nesse setor, superou-se a primitiva forma de exploração do trabalho. Lembrando que em algumas regiões e atividades econômicas, o Brasil igualmente ainda lida com o trabalho semiescravo. Continua na próxima semana.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário