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A família Cardinot
Em Nova Friburgo, além da Freguesia de São João Batista, sede administrativa, surgem as freguesias de São José do Ribeirão, Nossa Senhora da Conceição do Paquequer e Nossa Senhora de Sebastiana. Essa última freguesia era denominada de Terras Frias, atual Campo do Coelho, terceiro distrito de Nova Friburgo. Na ocasião da aquisição de algumas sesmarias para fundar o termo de Nova Friburgo, entre elas a Fazenda do Morro Queimado, escolhida para o funcionamento administrativo e sede da vila, o Rei D. João VI reservou como propriedade particular a Fazenda Córrego d’Anta.
A Confederação Helvética, mais precisamente o Cantão de Fribourg, firmara um acordo com o Rei D. João VI para receber colonos suíços. Entre novembro de 1819 e março de 1820, chegaram os colonos ao Brasil. Apesar de D. João VI ter estipulado a vinda de aproximadamente 800 pessoas, chegaram 1.631 suíços de diversos cantões da Confederação Helvética. As terras doadas aos colonos suíços eram na maior parte impróprias para a atividade agrícola, e por isso, muitos abandonaram o Núcleo Colonial. Na opinião dos contemporâneos da época, o projeto de estabelecimento de um núcleo colonial de colonos europeus foi um fracasso. Ainda assim, os suíços continuaram a emigrar para Nova Friburgo e Cantagalo. Foi o caso de Etienne Alexis Cardinaux. Ele não veio junto com os primeiros colonos suíços, mas possivelmente entre os anos de 1833 e 1836, segundo o pesquisador Henrique Bom. No livro do historiador Martin Nicoulin, a Gênese de Nova Friburgo, o autor cita que junto aos primeiros colonos veio Jacques Cardinaux, originário da localidade de Bulle, no Cantão de Fribourg. No entanto, não embarcou, conforme comprovou Henrique Bom. Chegando sozinho, Etienne Alexis Cardinaux deixou numerosa descendência.
Quem se dirige ao Campo do Coelho, vê uma placa indicando a localidade de Cardinot, que sofreu uma corruptela no registro civil, pois o nome originário é Cardinaux. Lugar pacato, a sociabilidade do local são as partidas de futebol no domingo com clubes de outros bairros e depois a cerveja no bar em frente ao campo. O Cardinot começa na Pedra da Caledônia e se estende até a estrada Friburgo-Teresópolis. A localidade tem um casario simples e a beleza de sua simplicidade. Existe a escola municipal que homenageia Ernesto Souza Cardinot, em memória a um pequeno pecuarista e tropeiro que vendia a sua produção de leite no centro de Nova Friburgo.
Até meados do século 20, passavam pelo Cardinot tropeiros de Salinas, Baixada de Salinas, São Lourenço, Três Picos, Centenário e Santa Cruz até alcançar a Granja Spinelli e vender seus produtos agrícolas no centro, nas casas comerciais do Sr. Folly, Tessarolo, etc. Levava-se pouco mais uma hora até chegar ao seu destino. No entanto, Cardinot não era o único lugar de passagem para as tropas alcançarem o centro de Friburgo. A estrada tem passagem para automóvel até certo trecho. Por isso, esse antigo caminho das tropas se encontra preservado.
Os Cardinot são famílias de condição financeira modesta e se casam entre primos. Segundo declarou um membro da família, o casamento consanguíneo “é para não dividir a herança”, declarou. Casam-se igualmente com os Schuabb, Knupp, Herggendorn e Perrout. Além dos Cardinot, há no Campo do Coelho muitos Condack, Tardin e Schuenck. Os Cardinot estão na oitava geração, na faixa estária entre 30 a 40 anos. Esse ano fizeram o segundo encontro da família e estão bem articulados montando a cada encontro a árvore genealógica a partir de Etienne Alexis Cardinaux. Atualmente são quase 500 deles vivendo em Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, Teresópolis, Petrópolis e no Espírito Santo.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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