A espada do coronel Galiano das Neves

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A espada do coronel Galiano das Neves

Na semana passada, uma espada da Guarda Nacional do coronel Galiano Emílio das Neves foi adquirida pela Sociedade de Amigos da Fundação D. João VI, para compor o acervo do futuro museu. Trata-se de uma espada de transição do Segundo Império para a República Velha. De acordo com presidente da Fundação, o historiador Luiz Fernando Folly, as lâminas desse artefato foram fabricadas no exterior pelos irmãos Weyersberg, entre 1880, até aproximadamente 1918, e todo o resto foi montado no Brasil pela fábrica Corneta que produzia armamentos.

Ainda segundo ele, é uma espada de oficial da República Velha, já que ao invés da cabeça de leão da Guarda Nacional Imperial, o pomo é fitomórfico, com desenho de plantas. No guarda-corpo e na lâmina é impresso o brasão da República. O coronel Galiano Emílio das Neves é originário de São João Del Rei, em Minas Gerais, da família do ex-presidente Tancredo Neves. Em 1º de maio de 1826, ingressou na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro.

Vítima da tuberculose, interrompeu os seus estudos e veio residir na Vila de Nova Friburgo, cujo clima salubre ajudaria na sua convalescência. Casou-se com Josephina Salusse, filha de família tradicional de franco-suíços e donos do Hotel Salusse. Era proprietário de dois latifúndios, a Fazenda Cachoeira do Amparo, no distrito de Amparo, com cultivo de café e lavoura branca, e a Fazenda São Bento, de criação de gado, no distrito do Campo do Coelho, essa última ainda na propriedade da família Neves. Adquiriu em sociedade o Instituto Colegial Freese, do inglês John Freese e lecionava neste colégio onde estudava os filhos da elite política e fazendeira do Império.

No mês de novembro, o professor Galiano das Neves acompanhava os alunos do Instituto Colegial Freese quando iam prestar exames preparatórios na Instrução Pública no Rio de Janeiro. Desciam em grupo a Serra da Boa Vista, a cavalo, cujo caminho era diferente da atual rodovia. Exerceu o cargo de vereador por vários mandatos tendo sido presidente da Câmara Municipal. Como todo homem da elite foi membro da Guarda Nacional.

 Como o Exército era formado basicamente por negros e mulatos livres, e igualmente homens pobres, arregimentados à força e pegos literalmente no laço para servir aos seus quadros e os altos postos de comando ocupados por luso-brasileiros, os liberais passaram a não confiar nessa instituição. Buscou-se uma alternativa criando em 18 de agosto de 1831, a Guarda Nacional, formada pela elite civil para ser empregada em casos de revoltas e insurreições, inclusive de escravos.

Os membros da Guarda eram recrutados entre os cidadãos eleitores, com renda anual mínima estipulada pelo governo. Essa instituição era subordinada ao Ministro da Justiça, aos presidentes de província e deveria ser dividida em unidades dentro dos distritos de cada município. Possuía um quadro de oficiais e praças, distribuídos na artilharia, na cavalaria e na infantaria. Durante a Guerra do Paraguai  teve participação significativa.

O Exército, historicamente concorrente da Guarda Nacional, com a implantação do regime político republicano eclipsou a sua participação na segurança nacional. Em 1918, essa instituição passa a ser subordinada ao Ministério de Guerra o que constituiu, de certo modo, a sua absorção pelo Exército. Foi extinta oficialmente, em 1922. Como o coronel faleceu em 5 de maio de 1916, aos 90 anos, possivelmente recebeu essa espada como presente de forma honorífica, já que pela sua idade avançada estaria na reserva. Fazendo parte do futuro museu, poderemos ilustrar com esse preciosíssimo artefato, o período do coronelismo em Nova Friburgo, na República Velha, sendo um dos principais atores históricos a família Neves.

  • Foto da galeria

    Ao invés da cabeça de leão da Guarda Nacional Imperial, o pomo é fitomórfico, com desenho de plantas

  • Foto da galeria

    Coronel Galiano das Neves

  • Foto da galeria

    Espada da Guarda Nacional:adquirida pela Sociedade de Amigos da Fundação

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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