Eduardo das Neves: o Palhaço Negro em Nova Friburgo - 2 de setembro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nova Friburgo, no final do século XIX, vivia a sua belle époque. As epidemias frequentes de febre amarela que a todo verão assolavam o Rio de Janeiro, fazia com que os cariocas migrassem para Friburgo e aí permanecessem até que cessasse a epidemia. Mas o que tem a ver a belle époque com epidemias de febre amarela? Ora, naturalmente migravam para Nova Friburgo os cidadãos cariocas mais abastados, que chegavam a permanecer seis meses na cidade, incrementando a sua vida social. Este público atraía, igualmente, inúmeras companhias teatrais e os melhores circos da época. A importância de Nova Friburgo no circuito dos grandes espetáculos pode ser abalizada pela presença do afamado Circo Brasileiro, que além de artistas nacionais e estrangeiros contava, à época, com um dos maiores artistas: Eduardo das Neves, o Palhaço Negro, célebre compositor e cantor de modinhas brasileiras. Eduardo Sebastião das Neves, palhaço, poeta, cantor, compositor e violonista, nasceu em 1874, no Rio de Janeiro, e morreu na mesma cidade, em 11 de novembro de 1919. Trabalhou na Estrada de Ferro Central do Brasil e como soldado do Corpo de Bombeiros, de onde foi expulso por frequentar fardado rodas boêmias. Em 1895, tornou-se palhaço e cantor, apresentando-se em circos. Era conhecido como Palhaço Negro, Diamante Negro, Dudu das Neves e Crioulo Dudu.

Sua importância foi tamanha para Nova Friburgo que em certa ocasião gerou polêmica. A Câmara Municipal não autorizou que o Circo Brasileiro fosse armado na Praça 15 de Novembro (atual Getúlio Vargas), local onde normalmente se armavam os circos. Foi autorizado somente na Praça do Suspiro. A imprensa denunciou: A Câmara foi pressionada pelo proprietário do teatro, temendo que o circo tirasse o público do Teatro D. Eugênia. Os jornais da época davam grande destaque a cada vez que Eduardo das Neves se apresentava em Friburgo, e curiosamente ressaltavam o fato de ser ele um palhaço negro. Eduardo das Neves, o Palhaço Negro, era célebre compositor e cantor de modinhas brasileiras sendo exclusivo da Casa Edison, contratado a partir de 1906. Era considerado o mais popular e influente de todos os primeiros cantores profissionais, compondo modinhas, lundus, recitativos, monólogos, cançonetas, tremeliques, choros e chulas. No prefácio do disco intitulado Trovador da Malandragem, que escreveu em 1902, queixara-se de que muitos duvidavam ser ele o autor das modinhas que cantava, devido à sua condição de negro e origem humilde. Segundo José Ramos Tinhorão, uma das razões do sucesso de Eduardo das Neves era a de ter lançado a novidade de compor modinhas e lundus sobre acontecimentos da atualidade, a exemplo de O aumento das passagens, O 5 de novembro, A conquista do ar, essa última canção numa alusão a Santos Dumont. São ainda autorias suas Pegas na chaleira e Pelo buraco.

Ainda segundo Tinhorão, a importância de Eduardo das Neves estava no fato de que, dirigindo-se às camadas heterogêneas, como o povo humilde frequentador de circo, e o público médio dos teatros, ele ainda estendia sua ação em vários estados brasileiros, viajando com circos e companhias teatrais e espalhando seus discos por todo país. O filho de Eduardo das Neves, o Negro Cândido das Neves, o Índio, continuou a obra do pai. Juntamente com outros compositores chegariam à fase de expansão do rádio, a partir da década de 30, dando continuidade ao gênero das modinhas que contavam com cantores de veleidades operísticas como Vicente Celestino, Francisco Alves, Orlando Silva e Sílvio Caldas.

Eduardo das Neves, que se apresentava frequentemente em Friburgo, é provavelmente o autor de um teatro-revista sobre o seu cotidiano intitulado Costumes de Friburgo, ganhando a cidade inclusive uma cançoneta denominada Friburgo na Ponta. O teatro-revista consiste em uma peça com quadros de música, dança, anedotas, alegorias, esquetes, na qual se criticam os fatos mais em evidência da época. Friburgo na Ponta teria hoje como expressão correspondente “Friburgo no auge”. A presença constante de Eduardo das Neves no município e igualmente o título de sua canção, Friburgo na Ponta, são uma prova evidente de que a cidade vivia a sua belle époque ao final do século XIX.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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