E assim se passaram cinco anos da tragédia – Parte 1

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Para quem conhece a história de Nova Friburgo, as enchentes do Rio São João das Bengalas não surpreende. Desde a fundação da vila, em 1820, as enchentes desse rio sempre causaram danos materiais e, às vezes, humano. Como historicamente as cidades sempre se originam ao redor dos rios, Nova Friburgo desenvolveu-se às margens do Rio São João das Bengalas, formado pela confluência dos rios Cônego e Santo Antônio que se lança no Rio Grande e deságua no Paraíba do Sul. A ocorrência de chuvas torrenciais com a consequente elevação do nível de água dos rios acarretando enchentes faz parte do cotidiano das cidades. Originariamente o Rio Bengalas não possuía esse alinhamento reto passando pela avenida. Ele fluía pelo centro da vila tendo outra configuração.

Manhã de 12 de janeiro de 2011. Um verdadeiro caos no município e na Região Serrana. Ninguém conseguia entender o que estava acontecendo. A chuva na madrugada fora intensa e a população não tinha a menor ideia da proporção que a tempestade provocaria em relação a perda de vidas humanas e notadamente materiais. As notícias chegavam aos poucos e de forma difusa com ruídos de comunicação.

Em meio aos caos ainda surgiram boatos como o de uma represa que havia se rompido e inundaria o centro de Nova Friburgo. Mas que represa era essa? E como poderia inundar a cidade? Ninguém poderia ter naquela circunstância um raciocínio lógico em meio a tanta confusão. Nesse momento falta o mais importante: a comunicação. Não funcionava o sistema de telefonia, internet ou eletricidade para assistir ou ouvir o noticiário local. A VOZ DA SERRA também não circulou por alguns dias.

Quem estava fora do município tinha mais informação do que os moradores de Nova Friburgo. A tragédia climática ocorrida na Região Serrana ganha imediatamente a mídia nacional e internacional. Até mesmo a rede de televisão americana CNN e a inglesa BBC noticiaram esse sinistro ocorrido no estado do Rio de Janeiro. A enchente e o desmoronamento dos morros foi um fenômeno natural atípico que entrou para a história de Nova Friburgo e do mundo em razão de sua intensidade.

Quem poderia imaginar que as três cidades serranas de veraneio como Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, não obstante habituadas às enchentes, sofreria um sinistro de tal proporção. Até a presidente da República, Dilma Roussef, visitou a cidade para ver de perto os efeitos da catástrofe ambiental. Os colégios públicos e privados servem como abrigo aos desabrigados. A mobilização e a solidariedade de outros estados ajudam a minimizar os efeitos da catástrofe. O município tenta reerguer-se. Começa a contabilizar os mortos, cuidar dos feridos, dar amparo aos desabrigados e realizar obras emergenciais para que a cidade retome o seu cotidiano aos poucos. 

Ruas do Centro, como a Augusto Spinelli, Monsenhor Miranda e Cristiana Ziede, onde reside a classe alta, sofre uma das maiores catástrofes. Um prédio desaba parcialmente na Rua Augusto Spinelli, um corredor de residências é soterrado na Rua Cristina Ziede, fenômeno que ninguém conseguia entender. Dessa vez a catástrofe não poupou nem ricos e nem pobres.

A morte do ex-prefeito da cidade, Paulo Azevedo, em seu sítio no distrito de Campo do Coelho, choca ainda mais a população. Nem os socorristas, como os soldados do Corpo de Bombeiros foram poupados, falecendo alguns deles na operação de resgate de vítimas do desabamento na Rua Augusto Spinelli.

 Nos supermercados do Rio de Janeiro, prateleiras de verduras e legumes completamente vazias. O cinturão verde que compreende Nova Friburgo, Sumidouro e Teresópolis estava totalmente destruído. Mais da metade desses produtos consumidos pelos cariocas são produzidos por essa região, celeiro do Rio de Janeiro. Em Nova Friburgo, as enchentes e desmoronamentos dos morros além de destruírem as plantações olerícolas acarretaram igualmente danos ao solo nas regiões do Campo do Coelho, Conquista e Salinas.

Mas o que teria provocado tal catástrofe na Região Serrana? Um simples fenômeno natural em razão das mudanças climáticas no mundo? A ocupação e a intervenção humana de forma desorganizada? Ou um fenômeno natural no qual a ação do homem contribuiu para agravar as consequências? Fui buscar a resposta no relatório de inspeção da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Eles concluíram que ocorreu a terceira hipótese. Continua na próxima semana.

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    As enchentes fazem parte do cotidiano da cidade (Acervo Fundação D. João VI)

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    Enchente em frente a casa de D. Vitalina (Acervo Fundação D. João VI)

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    O Rio Bengalas originariamente não tinha o alinhamento reto que possui atualmente (Acervo Fundação D. João VI)

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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