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É aniversário de Nova Friburgo
A data da comemoração do aniversário de Nova Friburgo é motivo de polêmica. Seria na data do decreto estabelecendo uma colônia de suíços, em 16 de maio de 1818, ou da instalação da Câmara Municipal, em 3 de janeiro de 1820? Em 1967, essa discussão foi levantada por ocasião do 150° aniversário da cidade. Envolveram-se na contenda a Academia Friburguense de Letras, o prefeito, a imprensa e a sociedade em geral.
Como não se chegou a um consenso, o Instituto Histórico e Geográfico foi consultado para decidir sobre a questão. Esse instituto deu o parecer favorável ao dia 3 de janeiro de 1820. No entanto, não foi levado em consideração e o dia 16 de maio ficou desde então consagrado como a data de aniversário de Nova Friburgo. Porque o Instituto Histórico e Geográfico deu esse parecer?
Na realidade, o acordo assinado entre D. João VI e o Cantão de Fribourg não constitui a formação de Nova Friburgo, mas sim, uma carta de intenções para recepção de imigrantes suíços no Brasil. Entre a partida dos colonos e a sua chegada muito poderia ter sido alterado, como o local da instalação da colônia e assim Nova Friburgo nunca existiria. E não se estava muito longe disso acontecer. De fato, a Vila de Nova Friburgo surgiu em 3 de janeiro de 1820, com a instalação da Câmara Municipal e os pelouros de justiça.
Antes disso, a região era Cantagalo de onde seria desmembrada. Na ocasião, o jornalista Pedro Cúrio escreveu o seguinte editorial: “...a comissão cometeu um erro de data (...) Nesta data, em 1818, D. João VI aprovou o contrato comercial com Sebastian Nicolas Gachet a fim de estabelecer uma colônia de suíços na Fazenda de Morro Queimado, no distrito de Cantagalo (...) Em 3 de janeiro de 1820, sim, foi que D. João VI baixou o alvará criando a Vila de Nova Friburgo...”
Já o jornalista José Antônio de Souza Cardoso no artigo “Datas Memoráveis” publicado em O Friburguense, em 1893, via o dia 3 de janeiro como uma data muito importante e somente comparável a 8 de janeiro de 1890, quando Nova Friburgo passa de vila à cidade. Segundo ele, foi no dia 3 de janeiro de 1820, que “Nova Friburgo entrou para o mapa das poucas vilas que então existiam, dando aos habitantes vantagens e regalias que até então não possuíam, e que, antes, para gozá-los, tinham de atravessar uma multidão de serras e maus caminhos, afrontando grandes perigos, fazendo enormes dispêndios e suportando inúmeros incômodos”. Esta data foi tão importante que se tornou nome de logradouro público, a Rua Três de Janeiro, atual Monsenhor Miranda.
Nos parece que a fixação da data em 16 de maio tem um conteúdo ideológico, ou seja, fixar a representação de que Nova Friburgo foi criada por homens brancos europeus. No momento de calorosos discursos de eugenia reforçar a imagem de uma cidade majoritariamente de raça branca era um diferencial. O historiador Martin Nicoulin na tentativa de contemporizar escreveu que não convém como data de fundação de Nova Friburgo, o dia 16 de maio de 1818, ou 3 de janeiro de 1820.
Segundo ele, a cidade serrana somente nasceu nos dias 17 e 18 de abril de 1820, quando ocorreu o encontro dos primeiros habitantes da vila para celebrar a sua fundação. Para confundir ainda mais a questão das datas comemorativas, em 2019, o Consulado da Suíça lembra a epopeia da partida dos imigrantes suíços ao Brasil. Traz-se a memória da viagem do primeiro grupo de imigrantes em 4 de julho de 1819, no navio Daphné, em Estavayer-Le-Lac.
Os imigrantes dessa embarcação chegaram à Fazenda do Morro Queimado no dia 4 de novembro do mesmo ano, após 55 dias de travessia. Os friburguenses descendentes dessas famílias irão celebrar a data dessa epopeia em Estavayer-Le-Lac. O grupo está sendo organizado por Geraldo Thurler e Marcel Schuwey. Para as autoridades do governo suíço a emigração de sua população é o evento mais marcante. Reflete a crise econômica e social que vivia a Confederação Helvética naquele momento e o estímulo para que seus habitantes, vivendo em estado de miserabilidade, emigrassem para outro país.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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