Coronel Lutterbach: o dinamismo de um homem

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Na coluna dessa semana gostaria de indicar mais um livro recém-lançado, que trata da imigração suíça: “Coronel Júlio César Lutterbach, o dinamismo de um homem”, de Júlio César Araújo Lutterbach Galhardo de Castro. Através dessa obra podemos conhecer a trajetória dos colonos suíços que partiram para Cantagalo, rumo ao Eldorado.

Nova Friburgo recebeu os primeiros colonos suíços entre o final de 1819 e princípio do ano seguinte. No entanto, o local onde os colonos foram instalados não possuía, em sua maior parte, terras férteis e condições materiais para a atividade agrícola. Por isso, foram gradativamente abandonando o Núcleo Colonial. A população de 1.662 suíços, em 1820, ficará reduzida a 632, dez anos depois. Muitos desses colonos se deslocaram para outras localidades. Ao se dirigirem para Cantagalo fizeram fortuna, como o caso dos Lutterbach.

Surge a problemática sobre a forma como esses colonos enriqueceram. Na terceira geração, o neto de um pobre colono suíço, Júlio Cézar Lutterbach, já era um homem culto, erudito e com muitas propriedades. O autor Júlio César Araújo Lutterbach Galhardo de Castro responde a essa problemática através da micro-história. Com essa metodologia, o pesquisador faz uma análise microscópica com um estudo intensivo do material documental. O autor faz isso em sua obra reduzindo a escala e apresentando a trajetória de seus ancestrais desde Joseph Jean Constantin, que chegou jovem à vila de Nova Friburgo com a família, em princípios do século 19. Demonstra que os Lutterbach de forma pioneira se dedicam à criação de gado zebu da raça guzerá, importado da Índia, diversificando os negócios mesmo quando o café representava o principal item de exportação do Brasil.

Os Lutterbach, assim como os Lemgruber, anteciparam-se investindo na criação de gado, atividade econômica na qual os outros fazendeiros da região somente migrariam com o fim da escravidão em decorrência da falta de braços na lavoura. O levantamento minucioso feito da linhagem dos Lutterbach joga luz sobre as estratégias de acumulação de riqueza, que foi além do binômio plantio do café com o modo de produção escrava. Na terceira geração, partindo de Joseph Jean Constantin, o autor demonstra ser o dinâmico Júlio Cézar Lutterbach um dos homens mais ricos e influentes da região.

Outra particularidade dos Lutterbach são os casamentos entre primos e igualmente com outras famílias descendentes de colonos suíços. Podemos interpretar com isso como se deu a acumulação de riquezas e o aumento do patrimônio através de casamentos consanguíneos e do compadrio. João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, juiz de direito em Nova Friburgo no período de 1850 a 1852, assim escreveu no relatório sobre a colonização suíça e alemã: “...Além do milho, que forma o mais importante artigo da produção colonial há também batata e o toucinho, que os colonos põem sobre os seus próprios animais e transportam para Santa Anna ou Porto das Caixas(...) Os que se estabeleceram nas vertentes do rio Macaé cultivam o café, vivem na posse de boa fortuna: tais são as famílias Jaccoud, Poubel, Boechat, Magnin, Bersot, Miserez, Wermellinger, Tardin e Marchon. Outros há, também, que plantam o milho, a batata e fabricam toucinho, ou que pelo comércio acham-se em circunstâncias favoráveis: assim como Curty, Monnerat, Sanglard, Frossard, Clerc, Grandjean, Balmat e outros mais. É verdade que a fortuna destes não pode ser comparável com a de seus compatriotas estabelecidos no termo de Cantagalo, entre os quais alguns há, como a viúva Ludolf, os irmãos Egdorn, os Lemgruber, Luterbach, Monnerat imãos e Ubelhard...”

É possível através da análise da trajetória dos Lutterbach extrair uma generalização mais ampla explicando como os outros suíços enriqueceram, embora feita dentro de dimensões estreitas. Tomando uma família em particular como ponto de partida pode servir para revelar um fenômeno mais geral e dar conta da problemática colocada anteriormente. Júlio César através de sua obra responde, numa deliciosa leitura, como e através de quais estratégias muitos colonos suíços enriqueceram merecendo o registro do juiz Cansanção de Simimbu. 

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    Os Lutterbach se casam entre primos e com outras famílias descendentes de colonos suíços

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    Na terceira geração, Júlio Cézar Lutterbach, já era um homem erudito e com muitas propriedades

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    Os historiadores expuseram a Nicoulin os seus trabalhos atuais

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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