Coronel Galiano das Neves - um atípico coronel da República Velha

sábado, 31 de julho de 2010

Rua Cel. Galiano Emílio das Neves. Passamos por esta rua, uma das transversais da Praça Getúlio Vargas ou nos referimos à ela como “a rua do shopping”. E foi exatamente onde se localiza o shopping que Galiano Emílio das Neves viveu os últimos dias de sua vida. Nascido em São João del-Rei em 1 de maio de 1826, assim que terminou os estudos preparatórios foi para o Rio de Janeiro, ingressando no Curso de Medicina. No entanto, vítima da tuberculose, foi obrigado a interromper a Faculdade e aconselhado, pelos mais notáveis médicos da época, a residir na então Vila do Morro Queimado, em Nova Friburgo, cujo clima saudável e salubre favorecia a convalescência desta doença. Em Friburgo casou-se com Josephina, filha de família tradicional de franco-suíços que possuíam um dos mais importantes hotéis na cidade, o Hotel Salusse. Na sua vida pública foi um republicano histórico, envolvendo-se nos primeiros movimentos revolucionários de Minas Gerais contra a monarquia. Os irmãos de Galiano, Galdino Emiliano das Neves e Joviano Firmino das Neves, também vieram para Friburgo participando da política local. Homens esbeltos e de bela cepa, são ligados ao tronco familiar do ex-presidente Tancredo Neves. O coronel Galiano possuía uma fazenda de café na localidade de Amparo, denominada Cachoeira do Amparo e outra de criação, a Fazenda São Bento, até hoje conservada pela família Seng das Neves. Mas essas propriedades nos iludem imaginando que o coronel Galiano das Neves era o típico coronel durão e matuto da República Velha, agricultor, plantador de café e com plantel de escravos. O título de coronel era uma patente em que todos os civis que compunham a Guarda Nacional a possuíam. Era mais um título honorífico do que em decorrência de uma formação militar. A aquisição de propriedades rurais denotava mais uma questão de distinção e prestígio social do que propriamente tornar-se um grande agricultor, já que o coronel Galiano das Neves trocou o amanho da terra pela educação. Adquiriu o Instituto Colegial Freese, do inglês John Freese e lecionava no colégio. Este colégio foi responsável pela formação da elite política fluminense. Apreciador da boa música, chegou a fundar na capital federal, antes de vir residir em Friburgo, uma filarmônica denominada Campesina, onde tocava o general Deodoro da Fonseca. Igualmente, teria trazido o maestro Samuel Antonio dos Santos, fundador da Euterpe Friburguense, para Nova Friburgo, contratado como professor de música do Colégio Freese. Quando o colégio fechou, a Campesina, fundada por seu enteado Major Augusto Marques Braga, teria recebido doações de instrumentos Colégio Freese. Mesmo tendo exercido o papel de vereador, presidente da Câmara e integrar o Partido Autonomista Republicano em Friburgo, a política foi secundária na vida dele. Na realidade, foi seu filho, Galiano Júnior, conhecido na cidade por Chon-Chon, que foi aguerrido na política, tornando-se um ferrenho adversário de Galdino do Vale Filho. Apesar de republicano, D. Pedro II o distinguia com especial carinho, tendo-o convidado para um chá no Paço Imperial. O coronel Galiano nunca foi combativo politicamente, já que eram a educação e a música a sua verdadeira missão. Homem erudito, exímio tocador de rabeca, ou seja, o violino, seu feitio nobre e moderado nunca se compatibilizou com “tricas de campanário” da política friburguense. Falecido em 5 de maio de 1916, aos 90 anos, foi um personagem lendário em Nova Friburgo, onde todos tiravam o chapéu em respeito e simpatia ao velho coronel. Seu pai lhe deu o nome de um imperador romano para ser um conquistador, mas seu espírito tendia mais para a civilização grega, já que sua grande paixão foi a sabedoria e as artes musicais. Foi um atípico coronel da República Velha.

Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX.

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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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