Como foram os festejos do centenário de Nova Friburgo?

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Como foi a comemoração do centenário de Nova Friburgo, em 1918? Antes de narrar os eventos, uma análise do município naquele momento. No campo da política uma novidade. Há apenas dois anos a Câmara Municipal havia perdido o poder executivo, que foi transferido para a figura do prefeito, limitando-se à função legislativa. O primeiro prefeito, eleito em 1916, se chamava Everard Barreto de Andrade e o prefeito na ocasião do centenário foi Silvio Fontoura Rangel.

Nova Friburgo era um município com uma economia predominantemente agrícola e o distrito de Amparo o maior produtor de legumes, verduras e frutas, exportando para o Rio de Janeiro e Niterói. As indústrias têxteis instaladas a partir de 1911 geravam os primeiros empregos e a crise econômica instalada no norte-fluminense atraía para Nova Friburgo imigrantes europeus que trabalhavam como colonos nas fazendas de café. Paralelamente, o setor de serviços e comércio respondia por boa parte da economia, já que naquela época os veranistas ficavam longas temporadas na cidade, podendo chegar a meses. Ainda que sendo uma modesta “urbs”, Nova Friburgo ainda apresentava aspectos do mundo rural onde circulavam frequentemente pelo centro da cidade tropas de mulas e carros de boi.

Passemos à celebração do centenário. Pela manhã, houve missa campal em uma capela armada na Praça Getúlio Vargas. Às 13 horas ocorreu uma sessão solene na Câmara Municipal. O discurso de Agenor de Roure destacou a epopeia dos suíços e definitivamente consagrou Nova Friburgo como a Suíça Brasileira. Nos festejos, bandas de música e centenas de crianças cantavam o recém-criado hino da cidade. Foi inaugurado um monumento comemorativo do centenário, uma estátua com a representação de uma colona suíça segurando em seu colo um bebê, na altura da atual Praça Dermeval Barbosa Moreira. Posteriormente a estátua da colona foi roubada. Os descendentes do barão de Nova Friburgo que promoveram grande desenvolvimento ao município com a linha férrea não foram esquecidos. Foi homenageado o falecido Conde de Nova Friburgo, cuja família se achava representada por Ada Nova Friburgo e seu irmão Braz de Nova Friburgo.

Seguiu-se a abertura das exposições agrícola, industrial e artística no Theatro D. Eugênia, que se localizava na Rua Augusto Spinelli. Foram expostos produtos da lavoura como arroz, feijão, marmelo, café, milho branco, cará, nabo, morangas, abóboras, mandioca, batata doce e inglesa, banana, laranja, mel e vinhos de caqui, jabuticaba e ameixa. Foram igualmente expostas mobílias, pelicas, palitos, ratoeiras, pássaros e insetos “conservados”, enfim, tudo o que se produzia no município. As indústrias Rendas Arp, Filó e Ypu, há sete anos instaladas na cidade, concorreram na exposição com rendas, suspensórios, ligas, cadarços em seda e algodão. Foi inaugurada no palacete Adalgiza Salusse (hoje edifício Rosa Marchon) uma exposição artística com inúmeros trabalhos de pintura de artistas locais.

Próximo à Praça do Suspiro, a pedra fundamental do edifício da municipalidade foi lançada, construção essa que nunca se efetivou. A inauguração da ponte sobre o Rio Bengalas ligando a Av. Rui Barbosa à Av. Euterpe foi o presente que a cidade ganhou. No campo da sociabilidade foi realizado um torneio de tênis no Friburgo Lawn Tennis Club e à noite os jogadores ofereceram um chá dançante nos salões do Hotel Central. Nas soirées particulares dançava-se tango e valsas, com recitação de monólogos e cenas cômicas. Foi oferecido na Praça Getúlio Vargas pelas famílias friburguenses um almoço para 130 “pobres” e o Cinema Leal disponibilizou uma sessão gratuita logo em seguida ao almoço. Na alameda dos eucaliptos foram igualmente realizadas corridas de bicicletas. À tarde, formou-se imponente préstito composto de escolas, senhoras da elite e grande número de pessoas que, acompanhadas por três bandas musicais, percorreram o centro da cidade em busca de óbolos para instituições de caridade. Os rapazes do Tiro de Guerra, do Colégio Anchieta e pequenos escoteiros marcharam com garbo pela Praça Getúlio Vargas.

A festa veneziana no Rio Bengalas foi o ponto alto dos festejos. O rio foi represado na altura do Colégio Modelo para que se tornasse navegável e os barcos pudessem circular. As sociedades musicais foram responsáveis pela festa e na extensão da avenida se revezavam as bandas de música Euterpe, Campesina, Pérola Salinense (Salinas), Euterpe Lumiarense, Recreio Infantil, de Amparo, Corpo Militar do Estado, Pena de Ouro, de Cachoeiras de Macacu, Nova Aurora e a banda do Colégio Anchieta. Pelas águas do Bengalas deslizavam placidamente elegantes barquinhos cujo embarque era disputadíssimo. Às 23 horas subiram ao ar os primeiros foguetões que acompanhavam um balão, prenúncio de que se aproximava a hora de serem queimados os fogos de artifício. O fogo terminou com um artístico vulcão cujas centenas de foguetões produziram maravilhosa impressão. A avenida apresentava um aspecto feérico, com um brilhante conjunto de luzes, relatou a imprensa.

Por fim, há uma divertida história. Há no distrito do Campo do Coelho uma localidade denominada de Centenário e esse nome tem relação com os festejos dos cem anos. Nessa ocasião, muitos moradores de uma localidade desse distrito foram ao centro da cidade para os festejos do aniversário, já que existem ali muitos Cardinot, Tardin, Condack e Schuab, e gostariam de celebrar a epopeia de seus antepassados. No entanto, algumas pessoas não puderam ir. Os que ficaram reuniram-se na casa do Zizico, se divertindo com comidas, bebidas e ao som de uma viola. Os que foram a “Friburgo”, quando retornaram, encontraram a festa no Zizico ainda acontecendo e muito animada. Segundo a memória oral, muito mais acalorada do que a festa promovida no centro da cidade. E assim deram nome de sua localidade de Centenário.    

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    A residência da Chácara da Vila Amélia foi destaque no jornal

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    As comemorações do centenário na Revista Fon Fon

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    Silvio Fontoura Rangel, encostado na Fonte do Suspiro, o prefeito do centenário

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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