Colégio Nova Friburgo: virtude, saúde e saber - Parte 1

quarta-feira, 22 de março de 2017

Meados do século 20. Nova Friburgo torna-se cada vez mais industrial, ampliando suas fábricas com a vinda de metalúrgicas que, associadas às indústrias têxteis, colocam-na como um município atrativo em relação ao norte-fluminense. A população cresce significativamente, os clubes de serviço surgem por todo o centro da cidade e novas formas de sociabilidade aparecem entre a elite local. Até o caridoso médico Dermeval Barbosa Moreira resolve diversificar sua atividade profissional. Investe juntamente com outros sócios em um suntuoso prédio destinado a um cassino, no Parque da Cascata, que passaria a chamar-se Cassino Cascata. Seus sócios eram nada menos que os empresários do Cassino da Pampulha, da Urca e do Quitandinha. No entanto, o presidente Eurico Gaspar Dutra proíbe o jogo de azar no país. O Cassino Cascata perde a sua função e deixa seus investidores em total desespero.  O médico Dermeval Barbosa Moreira procura a direção do Hospital de Tuberculosos de Corrêas, em Petrópolis, oferecendo o prédio do Cassino Cascata para a instalação de um hospital de tuberculosos. Houve interesse por parte daquele estabelecimento e as negociações se iniciam.

Nova Friburgo já possuía o Sanatório Naval da Marinha destinado à cura de marinheiros tuberculosos que dera resultados satisfatórios em razão das condições climáticas do município. Era o local apropriado para a cura e convalescença de tísicos. O então prefeito César Guinle e um grupo de empresários como Augusto Spinelli, José Eugênio Muller, Jamil El-Jaick, entre outros, se mobilizam para impedir a instalação de mais um sanatório de tuberculosos no município. Adquirem o prédio do Cassino Cascata a fim de instalar no local um estabelecimento de ensino. Criam a Empresa Educacional Fluminense e o colégio inicia suas atividades. No entanto, não conseguem dar cobro às despesas de tal empreendimento. A Empresa Educacional Fluminense oferece o prédio ao Colégio Anchieta a fim de prolongarem aquele estabelecimento até o Parque da Cascata, mas os padres jesuítas não têm interesse no imóvel. O prefeito César Guinle entra então em contato com Luís Simões Lopes, presidente da Fundação Getúlio Vargas, através de seu cunhado que participava do conselho para convencer a direção da recém-criada instituição a adquirir tal imóvel.

Veio como sopa no mel essa proposta para um projeto de Simões Lopes. Nascido em Pelotas, seu pai foi influente político durante a República Velha. Simões Lopes apoiou Getúlio Vargas e após a vitória do movimento revolucionário, a Revolução de 30, que levou Vargas ao poder, foi nomeado oficial de gabinete da Secretaria da Presidência da República. Casou-se com a socialite Aimée Sotto Mayor de Sá de quem se divorciou por causa de um suposto romance dela com Getúlio Vargas. Em dezembro de 1944, assumiu a presidência da recém-criada Fundação Getúlio Vargas, órgão cujo objetivo principal era promover a formação de pessoal qualificado para a administração pública e privada. Um colégio nos padrões do britânico Summerhill havia sido idealizado por Simões Lopes nos anos 30. O prédio no Parque da Cascata veio na hora certa e a Fundação Getúlio Vargas comprou o prédio na galinha morta, isso porque o prefeito César Guinle, autor do projeto de cidade-jardim para Nova Friburgo, fez de tudo para que o Parque da Cascata não se transformasse em um Hospital de Tuberculosos. Inicia-se uma negociação que envolve a Prefeitura de Nova Friburgo, a Empresa Educacional Fluminense e a Fundação Getúlio Vargas. A Prefeitura desembolsaria alguns milhões de cruzeiros para viabilizar a vinda de Fundação, o que acabou gerando protestos de alguns segmentos da sociedade friburguense. Porém, a mensagem do prefeito César Guinle foi aprovada pela Câmara Municipal, que conseguiu os recursos. Foi investido um total de CR$6.000.000,00 (seis milhões de cruzeiros) na compra da propriedade, nos informa Pedro Cúrio do jornal O Nova Friburgo. A Prefeitura entrou com CR$2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros); uma subscrição realizada entre a população friburguense arrecadou CR$1.000.000,00 (um milhão de cruzeiros) e foi feito um empréstimo junto a Caixa Econômica de CR$2.5000.000,00 (dois milhões e quinhentos mil cruzeiros). A Fundação Getúlio Vargas entrou somente com CR$500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros). Continua na próxima semana.

  • Foto da galeria

    Imagens das primeiras turmas do Colégio Nova Friburgo

  • Foto da galeria

    A proposta pedagógica era a formação de líderes para empresas públicas e privadas

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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