Cascata Pinel: um recanto poético em Nova Friburgo que encantava a monarquia e a nobreza

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

“A belezas magníficas que Friburgo ostenta, com seus horizontes orlados por imensas serras de granito, atalaias naturais da cidade dos cravos rubros e das camélias brancas; os panoramas maravilhosos que se abrem para todos os lados, sempre variados, sempre diversos, encantando o viajante que não cessa de mirá-los com olhos fascinado de ver (...) Friburgo é assim uma cidade que encanta (...) pelos matizes e nuances dos painéis que surpreendem, como telas aprimoradas por um artista divino...” Essa citação está inscrita no jornal O Nova Friburgo de 1935 em uma matéria que trata dos lugares pitorescos de Friburgo. Eram descritos como pontos de inigualável beleza na primeira metade do século XX, a Chácara do Paraíso, a Granja Spinelli, a Ponte da Saudade, o Sanatório Naval com sua alameda de bambuais, a Vila Amélia com suas chácaras de pera, a Chácara Braune com seus açudes, o Tingly com seus craveiros policrômicos, o Parque São Clemente com a nobreza de seu solar, o Cônego, o Moinho da Saudade e o Catete. Eram lugares de belezas inconfundíveis onde os turistas visitavam com frequência, cuja descrição de um bucolismo inebriante povoava o jornal da época. Porém, o jornal destacava que alguns lugares que outrora constituíram verdadeiros centros de atração dos veranistas já se encontravam desprezados “graças a incúria, a displicência, e indiferentismo dos governos que se vem sucedendo, cada qual com menor visão administrativa, cada qual com menor respeito às tradições e às belezas de Friburgo”. Na década de 30 do século XX, esses lugares já se encontravam em completo abandono e dificilmente se poderia chegar a eles porque os caminhos desapareceram e os atalhos e as picadas foram invadidos pela espessa vegetação.

Entre esses lugares que figuraram outrora entre os pontos prediletos para passeios e piqueniques estavam ainda a Vista Chinesa ou Vale do Hans – a Cascata Hans, com uma queda de setenta metros –, a Cascata da Estação do Rio Grande (possivelmente o Véu das Noivas), e a mais famosa de todas, a Cascata Pinel, formada pelo Rio Grande, com uma altura de cinquenta metros, circundada por moitas e rochas de granito. A Cascata Pinel, um dos mais poéticos recantos de Nova Friburgo, era lugar de passeio de veranistas “desde os tempos coloniais para pic-nics dos nobres e convescotes imperiais”, nos informa O Nova Friburgo de 1935. O nome Pinel advém do sobrenome do proprietário das terras onde se situava a cascata. Carlos Pinel, descendente de Felippe Pinel, o grande psiquiatra francês, veio para o Brasil em 1839 e depois percorreu diversas províncias, chegou a Friburgo em visita à família Salusse, hospedando-se em seu hotel. Encantado com a suavidade do clima de Friburgo e a pujança de sua natureza, adquiriu uma propriedade em 1842, denominada Fazenda dos Pinéis. Nas memórias de seus descendentes, Pinel não comprara, e sim recebera, por doação, essas terras (sesmarias) de D.Pedro II. Casou-se com Catharina Rimes, descendente do Barão de Rimes. Pinel era advogado e foi também um dos responsáveis pela implantação da maçonaria em Friburgo. No entanto, Carlos Pinel dedicou-se somente a agricultura no município. Foi no recanto bucólico da Cascata Pinel que em 1868, a Princesa Izabel ofereceu à embaixada chilena, uma “festa campesina”, a que compareceram D. Pedro II e o Conde d’Eu, tendo sido construídas para o evento, na sua proximidade, barracas de pinho envernizadas. Nessa ocasião, Carlos Pinel fez gravar em um dos granitos que atalaiam a cachoeira, em homenagem a Princesa Izabel, a seguinte inscrição: “Cascata Santa Izabel”. Essa cascata, segundo descrições, fica entre Sumidouro e D. Mariana. Essa localização pode nos levar a concluir erroneamente que se trata da Cascata do Conde d’Eu, mas, na realidade, esta é outra queda d’água.

Em 1908 foi filmada uma “fita cinematográfica” dessa cascata, período em que teve seus dias de glória e fulgor entre os excursionistas, a nobreza e a própria família real. Fica aí uma sugestão aos poderes públicos para resgatar esse aprazível lugar, averiguar se ainda existe a inscrição “Cascata Santa Izabel”, e informando aos turistas que Nova Friburgo não foi a princesinha da Coroa, como Petrópolis, mas encantava a monarquia e a nobreza lusitana.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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