Cascata do Pinel: um lugar de memória

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Existem lugares que no passado foram importantes espaços de sociabilidade, mas que hoje nada representam ou simplesmente deixaram de existir. Eram descritos como lugares de passeios na primeira metade do século 20, a Chácara do Paraíso, a Granja Spinelli, a chácara da Vila Amélia, a chácara Braune com os seus açudes, as plantações de cravo no Tingly, o Parque São Clemente, o Moinho da Saudade (na Ponte da Saudade) e o alto do Catete.

A Cascata do Pinel era um dos lugares favoritos para os passeios campestres. É formada pelo Rio Grande com uma altura aproximada de 50 metros, circundada por uma belíssima vegetação e rochas de granito. O nome Pinel advém do sobrenome do proprietário das terras onde se situava a cascata. Carlos Pinel, descendente de Felippe Pinel, o grande psiquiatra francês, veio em 1839, para o Brasil. Depois de percorrer diversas províncias chegou à Nova Friburgo em visita a família franco-suíça Salusse, hospedando-se em seu hotel.

Encantado com a salubridade do clima de Nova Friburgo e a pujança de sua natureza adquiriu uma propriedade em 1842, conhecida pelo vulgo como Fazenda dos Pinéis. O advogado Carlos Pinel casou-se com Catharina Rimes, descendente do Barão de Rimes, e foi um dos responsáveis pela implantação da maçonaria em Nova Friburgo. Foi no recanto bucólico da Cascata do Pinel que em 1868, a Princesa Izabel, com seu marido o Conde d’Eau, ofereceram à embaixada chilena uma festa campestre que contou com a presença de seu pai, o imperador D. Pedro II.

Foram construídas para o evento barracas de pinho envernizadas. Nessa ocasião, Carlos Pinel fez gravar em um dos granitos que atalaiam a cachoeira, em homenagem a Princesa Izabel, a seguinte inscrição: Cascata Santa Izabel. Essa cascata paz parte do álbum de fotos de Nova Friburgo pertencente à imperatriz Teresa Cristina. Essa imagem, conforme a Brasiliana Fotográfica foi tirada em 1870, pelo fotógrafo alemão Albert Henschel.

Em um dos convescotes dos hóspedes do Hotel Central rumo à cascata, músicos da banda Euterpe seguiam o alegre cortejo tocando retretas e dobrados. A harmonia com a natureza era imitada pela elite brasileira da burguesia francesa de apreciar a vida bucólica e os passeios pelo campo, à moda joie de vivre.

Os veranistas seguiram em várias carroças atravessando a cidade ao som dos dobrados da banda e de foguetes, gritando vivas à população. Ao atingirem a cascata serviram-se de um refrescante vermouth, champanhe veuve clicquot e salada russa. Após um breve descanso depois da refeição, os músicos da Euterpe iniciaram seu repertório de valsas, polcas e quadrilhas, onde o champanhe fluía entre os copos e a alegria. A descrição desse passeio está relatada no jornal O Friburguense, na reportagem “Um pic-nic no Pinnell”, de 21 de abril de 1895.

Esses locais pitorescos eram, na realidade, utilizados pelos veranistas fugindo da canícula, ou seja, do calor causticante do Rio de Janeiro e das epidemias de febre amarela. Nesse aspecto, vale a pena destacar que os cariocas ficavam seis meses em Nova Friburgo, durante todo o verão, daí serem chamados de veranistas pela população local.

Para dissipar a monotonia de permanecer praticamente metade do ano na serra, os cariocas exploravam os lugares pitorescos nos arredores da cidade. Praticamente todos esses espaços bucólicos não tem nenhum significado nos dias atuais. Apenas para ficar em um exemplo, a Granja Spinelli, propriedade rural que pertencia à família de descendentes de imigrantes italianos, atualmente é um bairro que não possui qualquer atrativo turístico.

Voltando a Cascata Pinel, a empresa Empiria, Viagem e Excursão inclui em seu roteiro uma visita a essa queda d’água, autorizada pelo proprietário. Essa cascata fica na localidade da Fazenda da Laje, antes do sítio do Manoel do Queijo, no distrito de Conselheiro Paulino.

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    A Empresa Empiria inclui uma visita a Cascata do Pinel. (Acervo pessoal)

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    Essa imagem foi tirada, em 1870, pelo fotógrafo alemão Albert Henschel

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    A Cascata do Pinel atraía no final do século 19 os veranistas cariocas

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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