Caminho do Barão: na trilha da história

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Essa semana fiz o trajeto denominado Caminho do Barão. Trata-se da subida da serra saindo da Castália ou Pirâmide, em Cachoeiras de Macacu, rumo a São Lourenço. De São Lourenço segue-se uma trilha menos penosa rumo ao Cônego, e daí alcança-se a Praça do Paissandu. Um detalhe: pode ser feito igualmente esse trajeto com a descida. Era esse o trajeto feito em boa parte do século 19 até o advento do trem. Até a chegada da linha férrea, em 1873, os antigos moradores da Vila do Morro Queimado faziam esse percurso até a Raiz da Serra (Cachoeiras de Macacu) para seguirem viagem. O atual acesso de entrada na cidade só veio com a estrada de rodagem. Cumpre destacar que o caminho sobre o qual passava a linha férrea era outro. Logo, temos ao longo da história três acessos a Nova Friburgo vindo do Rio de Janeiro.

O artigo de hoje é para comentar sobre o antigo caminho pelo qual seguiam as tropas de mula. Esse trajeto ficou conhecido como o “caminho do barão”. O barão que dá nome a essa via é o barão de Nova Friburgo. Ele era proprietário de uma sesmaria denominada de Fazenda do Cônego. A memória oral nos informa que a fazenda do barão passou a ter essa denominação por hospedar com frequência um cônego. Essa fazenda se estendia até Cachoeiras de Macacu. O barão utilizava essa rota que atravessava sua propriedade para escoar o café em tropas de muares rumo a Porto das Caixas, no município de Itaboraí. A descrição dos documentos históricos relata que esse caminho possuía trechos muito estreitos, no qual muitas mulas caíam nos desfiladeiros. Sob o peso das bruacas repletas de café ou outras mercadorias, era impossível o seu resgate. A perda material era imensa. Fui conferir e percorri o Caminho do Barão. De fato em certos trechos só se passa com um pé e contei pelo menos quatro nessa circunstância. A mata não é tão fechada como imaginava e a subida em apenas em alguns trechos apresenta grande aclive. Como contratei um mateiro, Roberto Schuenck, para percorrer esse histórico caminho, aproveitei ao máximo a sabedoria desse homem do campo. Curiosamente, seu bisavô, descendente de colonos alemães, foi proprietário de uma imensa fazenda em São Lourenço. Sua geração não chegou a herdar terras, sendo ele meeiro de uma propriedade agrícola, mal tirando para o seu sustento. Roberto Schuenck conhece como ninguém o Caminho do Barão pois, em São Lourenço, curiosamente, não se perdeu o hábito de se utilizar a antiga rota para chegar a Cachoeiras de Macau. Ele nos informa que a fauna é constituída por tucanos, araçaris (da mesma família do tucano), siricoás, subiadores, capoeiras, inhambus, macucos, jacus, jacutingas, maritacas, maracanãs, piriquito-verdes, entre outros. Existem onças, mas elas se afastam quando percebem a presença do homem. Apenas quando estão com cria ficam mais perigosas, pois temem por seus filhotes. As espécies são a jaguatirica, a onça-parda e lombo-preto. Há igualmente macacos das espécies topete, bugil e monocarvoeiro. Catitu, um porquinho pequeno, pode ser encontrado assim como a preguiça. Há muitas cobras, mas não atacam. Porém, deve-se ficar atento à “malha”, clareira na mata com entrada de raios de sol. A cobra sai do frio da mata para se esquentar ao sol na clareira e daí muita atenção aos trechos da “malha”. Há muitas frutas silvestres, do tipo azedinhas e Roberto Schuenck recomenda que se coma apenas as que foram anteriormente picadas por pássaros ou outros animais. Pé de fruta sem mordida de animais é venenosa. Na flora existe a imbaúba branca, que os macacos e as preguiças adoram, um tipo de árvore chamada de jacaré, jacatiá, mamão (tipo de árvore), carrapiteira, fedegoso, quaresma, ipê, manacá-da-serra, entre outras. Pelo caminho localizamos duas bicas para captação de água feitas de pedras por escravos.

Foi Dalva Brust, descendente de colonos alemães, quem chamou a atenção dessa rota para caminhadas ecológicas. Desde então, ela já promoveu muitas dessas caminhadas nessa trilha ao longo dos anos. No entanto, ultimamente ganhou mais notoriedade talvez graças às redes sociais, pois os esportistas postam as fotos da caminhada, um convite para quem curte trilhas. A melhor estação para se fazer a trilha no Caminho do Barão é o inverno, com o tempo nublado. O calor e as chuvas tornam a caminhada muito penosa. Fico feliz que essa rota histórica esteja sendo utilizada pelos esportistas, com exceção dos motoqueiros que deixam um rastro de destruição de bromélias por onde passam. Além de um lazer saudável, mantemos a memória do velho caminho do barão. 

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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